Atenção nos cafezais: pouco magnésio e braquiária demais Por José Braz Matiello

Dois problemas de natureza técnica vêm sendo observados com elevada frequência nas lavouras de café.

15/09/2020 O magnésio está em falta e o manejo do mato tem deixado braquiária em excesso. Esses problemas têm sua origem, principalmente, em orientações que precisam ser melhores esclarecidas.

O magnésio é um nutriente essencial ao cafeeiro, pois faz parte da clorofila e, portanto, participa da produção e do transporte de reservas da planta. Sua deficiência quase que generalizada nas lavouras de café surge, a princípio, pela pobreza dos solos e, em seguida, pelo uso em desequilíbrio do potássio aplicado continuadamente e em doses altas nas adubações.

Como o potássio tem boa capacidade de armazenamento no solo, é muito comum a observação de altos níveis desse nutriente nas análises de solo, causando antagonismo com o Mg e o Ca. Por sua vez, esses dois últimos nutrientes não são fornecidos adequadamente, pois o calcário comum, a principal fonte utilizada, ao ser aplicado em cobertura, disponibiliza o Ca e o Mg de forma muito lenta. Então é indicado, de posse da análise de solo, proceder ao reequilíbrio dessas bases, reduzindo ou até interrompendo, nessa condição, o uso de potássio, ao mesmo tempo suprindo, com fonte mais solúvel, o Ca e o Mg.

O técnico que assiste o produtor deve ter consciência sobre a necessidade de promover o equilíbrio entre os três nutrientes, Ca, Mg e K, para isso usando, com boa segurança, os resultados de análises químicas do solo e de folhas. Pode-se ver o exemplo de uma lavoura onde o K no solo se encontrava em cerca de 140 ppm, correspondente a cerca de 4,5% da CTC, e o Mg a 9%. Na análise foliar, o K era de 2,1% e o Mg 0,23%. Nessa área, mesmo com esse desequilíbrio, foram aplicados 2500 kg por há de fórmula 19-04-19, ou seja, quase 500 kg/há de K2O. As fotos abaixo são dessa lavoura. A segurança na retirada do K da adubação, em caso de sua suficiência no solo, pode ser avaliada pelo seguinte cálculo. Se temos 140 ppm de 0-20 cm, os trabalhos de pesquisa sobre níveis de K no perfil do solo tem mostrado que, na profundidade de 0-100 cm, onde o K pode ser armazenado, à disposição das raízes do cafeeiro, pode existir metade disso. Então teríamos 70 ppm num volume de solo, por há de 10 mil m3, ou com uma densidade de 1,2 teríamos 12 mil toneladas de solo, ou seja, teríamos cerca de 840 Kg de K por ha ou 1008 kg de K2O por há, o que daria, pelo menos, para atender 3 anos de produções dos cafeeiros.

Ressalta-se, ainda, que a carência de Mg pode afetar diretamente a produtividade de 2 safras por meio da redução de reservas num ano e desfolhando e secando ramos, o que afeta a safra seguinte. A carência de Mg enfraquece e torna as plantas mais susceptíveis à infecção por cercosporiose, à semelhança do que ocorre com a deficiência de N.

O manejo da braquiária no meio do cafezal, por sua vez, vem sendo realizado sem os cuidados necessários. A pesquisa mostra que a maior produtividade dos cafeeiros ocorre na condição de pouco mato na lavoura. Assim, quando adotado, o sistema de manejo de braquiária precisa manter boa limpeza junto à linha de cafeeiros e deslocar o material roçado, da rua para a área próxima às plantas de café. Deve, também, ser combinado com bons níveis de adubação, pois a braquiária extrai do solo altas quantidades de nutrientes, além da água. Tudo isso, como se sabe, nem sempre o produtor faz, ou faz fora de hora, premido por problemas operacionais.

O sistema de manejo da braquiária interage também com a disponibilidade de magnésio para os cafeeiros. Como o material das ervas roçadas é rico em K, chegando a ter cerca de 3% desse nutriente, a sua colocação, junto aos cafeeiros, promove desequilíbrio para o Mg, conforme observado em análises foliares realizadas no ensaio realizado na Fazenda Experimental de Franca (SP), o que exige suprimento extra de Mg aos cafeeiros. Estudo feito em Varginha, em área de braquiária em cafezal, mostrou que em três cortes da erva no ano, resultaram cerca de 10 toneladas de matéria seca por ha.

Por último, estando em período de inverno, deve-se eliminar toda a cobertura vegetal do solo nas lavouras, material vivo ou morto, pois ela diminui a exposição solar do solo, com isso ele deixa de armazenar calor durante o dia, necessário para esquentar à noite o ambiente na lavoura de café, aumentando o risco de geada.

Fonte: Procafé

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