Até a China já exporta café para o Brasil

(Notícia publicada em janeiro de 2011)

9 de maio de 2011 | Sem comentários Consumo Torrefação

Maior produtor mundial, país não emplaca exportações do grão torrado e moído, de maior valor, e vira importador


Suíça, terra de origem do Nespresso, compra os grãos do Brasil, industrializa-os e os vende com maior valor


MAURO ZAFALON
COLUNISTA DA FOLHA


Sonho do setor cafeeiro do Brasil: ver cada chinês tomar uma xícara de café por dia.
Tradicionais consumidores de chá, os chineses elevariam o consumo global de café de 135 milhões para 200 milhões de sacas ao ano se isso ocorresse. O Brasil, maior produtor mundial de café, colheria os frutos.
Esse cenário não parece impossível, mas es tá longe.


Impossível mesmo seria imaginar a China exportando café torrado e moído para o Brasil. É o que passou a ocorrer no semestre passado.


A quantidade ainda é pequena, e os chineses estão experimentando o mercado.


Se eles decidirem importar café em grão para exportar o produto torrado e moído, como fazem com outras matérias-primas, a luta brasileira para conseguir espaço no mercado externo da bebida se tornará ainda mais difícil.


Afinal, o Brasil ainda não encontrou o caminho externo da industrialização do café. Apesar de liderar a produção, as exportações de café torrado e moído, de maior valor agregado, recuam.


Após bater US$ 36 milhões em 2008, as receitas vêm caindo e, em 2010, ficaram próximas de US$ 20 milhões.


Enquanto enfrenta dificuldades para exportar, o país abre as portas para as importações. Se, há quatro anos, eram de US$ 1,3 milhão, em 2010 vão a US$ 21 milhões, acima das exportações.


Apesar de as principais indústrias brasileiras estarem nas mãos de multinacionais, as exportações de café industrializado não deslancham.


NESPRESSO
O país que mais vende ao Brasil é a Suíça, terra do Nespresso. A seguir vem o Reino Unido, do Dolce Gusto. Ambos são da Nestlé, que importa parte dos grãos do Brasil e os industrializa na Europa.


A Suíça exportou 204 toneladas de café para o Brasil de janeiro a novembro (US$ 15,9 milhões), segundo o Ministério do Desenvolvimento.


O volume atual de café importado supera em 1.209% o de há três anos, enquanto o gasto brasileiro nas compras da Suíça subiu 6.343%.


As importações do Reino Unido, praticamente inexistentes em 2008, subiram para US$ 1,6 milhão no acumulado até novembro em 2010.


A Itália, terra de marcas como Lavazza e Illycaffè, perde espaço. As importações de 2010 somam US$ 1,4 milhão, mas estavam em US$ 1,6 milhão há dois anos.


Os EUA, terra da Starbucks, também ganham espaço: colocaram 36 toneladas de café torrado e moído no Brasil até novembro de 2010, 129% mais do que em igual período de 2007.


Até de Portugal as importações crescem: somam 17 toneladas de janeiro a novembro, ante 11 toneladas em igual período de 2009.


LÍBANO E CHINA
Líbano e China se juntam à lista de vendedores de café torrado para o Brasil. A quantidade é pequena: 560 e 332 quilos, respectivamente, nos 11 primeiros meses de 2010.


Os chineses têm um dos cafés mais caros entre os que entraram no país: US$ 40 por quilo (R$ 68).


O produto chinês só perde para o suíço, cujo valor médio foi de US$ 78 por quilo (R$ 133). O café vindo do Reino Unido ficou em US$ 18 por quilo, um pouco acima do italiano: US$ 15,10.


O café vindo dos EUA, cujas importações foram feitas inclusive por empresas brasileiras que montaram fábricas em solo norte-americano, custa, em média, US$ 8 por quilo, abaixo dos US$ 9 do produto vindo de Portugal.


Alta na renda eleva busca por café mais sofisticado


Múltis ocupam espaço crescente no atendimento a essa demanda


Tendência é de alta das importações, agravada porque estrangeiras costumam fazer o refino nos países de origem


DO COLUNISTA DA FOLHA


Procura por qualidade e maior renda dos consumidores brasileiros são dois fatores que têm permitido um avanço do café gourmet.


Parte dessa demanda vem sendo atendida por cafeterias locais, mas as multinacionais ocupam espaço cada vez maior nesse setor, tanto nas cafeterias como em escritórios e empresas.


A tendência é o aumento das importações nos próximos anos, principalmente porque as empresas externas optaram pela compra dos grãos do Brasil e de outras partes do mun do, mas fazem a industrialização final em seus países de origem.


Uma exceção é a italiana Lavazza, que está abrindo no Rio a primeira fábrica fora da Itália. A empresa deve abastecer tanto o mercado interno como o da América do Sul com o produto da unidade.


Outro fator alegado pelas empresas para industrializar o café fora do Brasil é a dificuldade enfrentada na importação do produto em grão de outros países, fundamental para a formação de “blends” (misturas).


MISTURA
Para solucionar esse problema, algumas indústrias brasileiras já abrem filiais em outros países.


É o caso da Café Bom Dia, que passou a industrializar café em Seattle (EUA). A empresa importa café em grãos do Brasil e de outros países e reenvia parte do produto torrado e moído para o mercado brasileiro.


A diversidade de cafés e de regiões do país permitiria, no entanto, a produção de “blends” específicos para exportação de produto industrializado.


Os valores das exportações de café torrado e moído são mínimos em relação ao que o país fatura com a venda total de café em grãos.


As exportações totais de café do Brasil devem atingir US$ 5,5 bilhões em 2010, mas as de café torrado e moído, que têm maior valor agregado, devem ficar em US$ 20 milhões.


Embora 50 países tenham recebido café torrado e moído do Brasil em 2010, as exportações no acumulado até novembro somaram apenas US$ 19,8 milhões, um pouco acima dos US$ 19,5 milhões gastos com as importações no mesmo período.


Quatro países se destacam nas compras de café torrado do Brasil: Estados Unidos (US$ 9,5 milhões), Itália (US$ 3,4 milhões), Argentina (US$ 1,4 milhão) e Japão (US$ 1,1 milhão).


A Suíça, destaque do ano das exportações para o Brasil, importou somente US$ 1.685 até novembro.(MZ)


FOCO


Beber café vira luxo, e vendas sobem até 70% no país em 2010


Cápsulas na Nespresso nos Jardins (SP); taxa de crescimento das vendas da empresa no Brasil é das maiores no mundo


TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO


Mais do que um hábito, o cafezinho diário se tornou um prazer -e até um luxo- para alguns brasileiros.


De cafeterias dedicadas aos cafés gourmet a vendas de máquinas para residências, o setor investe para desenvolver esse mercado no Brasil e já colhe frutos.


A Nestlé é um exemplo. A empresa estima que a receita de vendas da Nespresso, que pertence ao grupo, tenha aumentado 70% em 2010. A companhia, no entanto, não divulga cifras por região.


Se confirmada, essa será uma das maiores taxas de crescimento da empresa no mundo.


Desde 2000, o seu faturamento cresce, em média, 30% ao ano. Em 2009, a receita foi de US$ 2,8 bilhões.


A Nespresso abriu a sua primeira butique no país em dezembro de 2006.


Hoje, são dez lojas de alto padrão no Brasil -seis na cidade de São Paulo, duas no Rio de Janeiro, uma em Brasília e uma em Campinas.


Nos Jardins, bairro nobre da capital paulista, o preço de um café expresso vai de R$ 4,50 a R$ 6,50, dependendo da variedade. O preço -mais alto do que a média no país- é explicado pela qualidade dos grãos.


Entre todas as regiões produtoras no mundo, a empresa faz uma rigorosa seleção dos grãos e envia a matéria-prima para duas fábricas na Suíça, onde o café é colocado em cápsulas que são postas à venda em mais de 50 países.


Por meio da Nescafé Dolce Gusto, a Nestlé entrou nas residências e tornou mais popular no Brasil o conceito de “cafeteria dentro de casa”.


Ela vende máquinas que preparam diferentes bebidas à base de café, a partir das cápsulas produzidas pela própria empresa, fidelizando o cliente.


Desde 2009, quando a marca chegou ao país, três modelos já foram lançados.


Fonte: Folha de S.Paulo


 

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Maior produtor mundial, país não emplaca exportações do grão torrado e moído, de maior valor, e vira importador. Suíça, terra de origem do Nespresso, compra os grãos do Brasil, industrializa-os e os vende com maior valor

MERCADO
03/01/2011 
  
 
MAURO ZAFALON
COLUNISTA DA FOLHA
Sonho do setor cafeeiro do Brasil: ver cada chinês tomar uma xícara de café por dia.


Tradicionais consumidores de chá, os chineses elevariam o consumo global de café de 135 milhões para 200 milhões de sacas ao ano se isso ocorresse. O Brasil, maior produtor mundial de café, colheria os frutos.


Esse cenário não parece impossível, mas está longe.


Impossível mesmo seria imaginar a China exportando café torrado e moído para o Brasil. É o que passou a ocorrer no semestre passado.


A quantidade ainda é pequena, e os chineses estão experimentando o mercado.


Se eles decidirem importar café em grão para exportar o produto torrado e moído, como fazem com outras matérias-primas, a luta brasileira para conseguir espaço no mercado externo da bebida se tornará ainda mais difícil.


Afinal, o Brasil ainda não encontrou o caminho externo da industrialização do café. Apesar de liderar a produção, as exportações de café torrado e moído, de maior valor agregado, recuam.


Após bater US$ 36 milhões em 2008, as receitas vêm caindo e, em 2010, ficaram próximas de US$ 20 milhões.


Enquanto enfrenta dificuldades para exportar, o país abre as portas para as importações. Se, há quatro anos, eram de US$ 1,3 milhão, em 2010 vão a US$ 21 milhões, acima das exportações.


Apesar de as principais indústrias brasileiras estarem nas mãos de multinacionais, as exportações de café industrializado não deslancham.


NESPRESSO
O país que mais vende ao Brasil é a Suíça, terra do Nespresso. A seguir vem o Reino Unido, do Dolce Gusto. Ambos são da Nestlé, que importa parte dos grãos do Brasil e os industrializa na Europa.


A Suíça exportou 204 toneladas de café para o Brasil de janeiro a novembro (US$ 15,9 milhões), segundo o Ministério do Desenvolvimento.


O volume atual de café importado supera em 1.209% o de há três anos, enquanto o gasto brasileiro nas compras da Suíça subiu 6.343%.


As importações do Reino Unido, praticamente inexistentes em 2008, subiram para US$ 1,6 milhão no acumulado até novembro em 2010.


A Itália, terra de marcas como Lavazza e Illycaffè, perde espaço. As importações de 2010 somam US$ 1,4 milhão, mas estavam em US$ 1,6 milhão há dois anos.


Os EUA, terra da Starbucks, também ganham espaço: colocaram 36 toneladas de café torrado e moído no Brasil até novembro de 2010, 129% mais do que em igual período de 2007.


Até de Portugal as importações crescem: somam 17 toneladas de janeiro a novembro, ante 11 toneladas em igual período de 2009.


LÍBANO E CHINA
Líbano e China se juntam à lista de vendedores de café torrado para o Brasil. A quantidade é pequena: 560 e 332 quilos, respectivamente, nos 11 primeiros meses de 2010.


Os chineses têm um dos cafés mais caros entre os que entraram no país: US$ 40 por quilo (R$ 68).


O produto chinês só perde para o suíço, cujo valor médio foi de US$ 78 por quilo (R$ 133). O café vindo do Reino Unido ficou em US$ 18 por quilo, um pouco acima do italiano: US$ 15,10.


O café vindo dos EUA, cujas importações foram feitas inclusive por empresas brasileiras que montaram fábricas em solo norte-americano, custa, em média, US$ 8 por quilo, abaixo dos US$ 9 do produto vindo de Portugal.
 
 

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