O beneficiamento e a venda de produtos agrícolas cultivados em equilíbrio com a floresta fazem parte dos objetivos da Associação de Produtores Alternativos (APA) de Ouro Preto D’Oeste, em Rondônia, desde sua criação, em 1992. A renda média mensal dos 250 agricultores associados é de R$ 800. A produção é bastante variada, mas os carros-chefe são o mel e o palmito de pupunha (palmeira amazônica) produzidos com apoio da APA – este último é vendido inclusive na França. “Nossa atividade é sempre preservar a natureza. Então agroecologia é quando a gente diversifica a produção, preserva a natureza e melhora a qualidade de vida do homem do campo”, afirmou o agricultor Edivaldo de Souza, em entrevista veiculada no programa Ponto de Encontro, da Rádio Nacional da Amazônia.
Os associados da APA vivem em seis municípios de Rondônia: Ouro Preto D’Oeste, Vale do Paraíso, Urupá, Teixeirópolis, Mirante da Serra e Nova União. “As propriedades têm a pupunha e a produção de mel, mas também café, gado, polpa de frutas regionais – como cupuaçu, açaí e araçá – e cana-de-açúcar, para fazer melaço e rapadura”, contou Souza. Ele é um dos seis produtores técnicos contratados para prestar assessoria aos outros associados. “Se alguém tem uma necessidade de desenvolver alguma atividade lá na sua proprieade e pede ajuda da associação, a gente vai lá com aquilo que tem, com a prática mesmo. Aquilo que a gente aprendeu no dia-a-dia vai levar para esse produtor, vai compartilhar com ele”, explicou.
A APA compra a produção de pupunha dos associados e industrializa 45 toneladas de palmito por ano, em média. A produção é vendida para supermercados e representantes comerciais do Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza e para redes de comércio justo na França. “O mercado para os produtos ecológicos está em ascensão. A gente trabalha na perspectiva do mercado justo, mas ainda lida com o mercado convencional. Preferimos não lidar com grandes distribuidores e temos dificuldades em entrar em grandes redes de supermercados. Temos trabalhado com pequenas distribuidoras, pequenas lojas e venda direta”, comentou Lindomar Ventura dos Santos, gerente comercial e de projetos da APA. “Tudo depende muito da nossa organização. Hoje a gente participa de uma articulação nacional de produtores no comércio justo e isso tem dado resultados em termos de negociações com o mercado interno e externo. Nós também temos que batalhar para a criação de um mercado diferenciado”, completou.
A produção de mel dos associados gira em torno de 10 toneladas ao ano. “Este número deve aumentar em 2006 e 2007, porque hoje temos 80 produtores, muitos deles ainda iniciando a atividade. Alguns não querem se envolver na atividade porque têm medo de abelha”, afirmou Edivaldo. “A associação apoia os produtores de mel com equipamentos, fornecendo as caixas, e eles pagam com produção. O dinheiro desta venda e do palmito volta para eles em forma de cursos, de assessoria técnica, de benefícios”, explicou.
Neste ano termina o segundo projeto de apoio do Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA), por meio do qual a APA dispôs de cerca de 198 mil dólares durante três anos. O primeiro projeto do PDA também teve três anos e valor de US$ 150 mil dólares. O recurso foi investido em atividades de desenvolvimento de técnicas de produção agroecológica, como a expansão das áreas de sistemas agroflorestais, os cursos de capacitação técnica, a organização das mulheres produtoras, a formação de viveiros e a aquisição de sementes. “Enviamos ao Ministério do Meio Ambiente uma proposta de consolidação do projeto e estamos aguardando análise. Seriam aproximadamente R$ 350 mil para realizar a certificação orgânica de pelo menos metade dos associados”, adiantou Lindomar. O PDA faz parte do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, financiado com verba da cooperação internacional e coordenado pelo ministério.