O Código Comum para a Comunidade Cafeeira (4C) entrará em vigor a partir de 1° de outubro deste ano, quando terá início a comercialização de café em grão cru produzido em conformidade com as normas e regras de sustentabilidade estabelecidas pelo programa. O anúncio foi feito no dia 21 de setembro em entrevista coletiva realizada em Berlim, na Alemanha.
Na ocasião, foram também anunciados os primeiros resultados do processo de verificação da realidade mundial do café, que apontam para uma melhoria das condições sociais, ambientais e econômicas do setor cafeeiro: atualmente, 3,5% da oferta global de café, ou 4,4 milhões de sacas, já são produzidas de acordo com os critérios do 4C. O programa, desenvolvido ao longo dos últimos três anos e lançado oficialmente em dezembro de 2006 por meio da Associação 4C, é uma iniciativa dos maiores compradores mundiais de café, entre eles Nestlé, Melitta e Sara Lee, que representam 50% do setor mundial de café.
“Apresentamos hoje o que nos comprometemos a fazer quando começamos a projetar o código há mais de quatro anos: lançar um sistema de sustentabilidade que trouxesse benefícios reais para o setor em geral e para os produtores de café, especificamente”, disse o presidente da Junta Executiva do 4C, o brasileiro Joaquim Libânio Ferreira Leite, também diretor de exportação da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé). A Associação 4C realizou, em Berlim, a sua segunda Reunião do Conselho e o país foi escolhido por ter sido o berço da iniciativa. O programa será apresentado no dia 26 na reunião anual da Organização Internacional do Café (OIC), em Londres.
O 4C é um programa mundial de sustentabilidade para a cadeia do café baseado nos conceitos da preservação ambiental, com abrangência nas dimensões sociais e econômicas, especialmente para os produtores de café e notadamente os menores. Objetiva incentivar a adoção de processos econômicos transparentes e eficientes que sejam comprometidos com as responsabilidades social e ambiental não só na produção, mas também no processamento e na comercialização dos grãos.
Dessa forma, a Associação 4C pretende ampliar substancialmente a produção de cafés sustentáveis de modo a atender à crescente demanda destes produtos nos mercados mundiais, colaborando, ao mesmo tempo, para a melhoria das condições de vida e de trabalho dos cafeicultores.
Brasil está preparado
Precedendo a entrada em vigor do 4C, projetos-pilotos para testar os sistemas e o modelo de verificação das propriedades rurais foram implantados em diversos países produtores de café, entre eles o Brasil. Aqui, o trabalho foi realizado durante fevereiro e março deste ano, sob a coordenação do Instituto Totum, organismo certificador brasileiro, especializado em gestão de programas de qualidade e certificação, e parceiro oficial do 4C no Brasil. O resultado mostrou, sobretudo, que a cadeia produtiva brasileira do café está preparada para garantir a oferta gradual e crescente de cafés em conformidade com o programa. “Os produtores brasileiros já se prepararam e podemos ter, no prazo de duas a três semanas, pelo menos 1,5 milhão de sacas de café padrão 4C”, diz o diretor do Instituto Totum, Fernando Lopes.
As primeiras empresas a entrarem com o processo de solicitação de verificação do 4C foram as cooperativas Cocapec, de São Paulo, e a Cooxupé, de Minas Gerais. Os organismos certificadores são SGS do Brasil, a RINA e a Fundação Vanzolini, todas sob a coordenação do Instituto Totum. “O 4C não é meramente uma certificação. É uma associação aberta a produtores, exportadores, traders, indústrias, na qual todos os membros podem interagir”, explica Lopes. Para participar, a empresa tem de se tornar sócia e pagar uma taxa de filiação anual, estipulada em função da quantidade de sacas e da categoria de associado (produtor, exportador, trade, etc.).
Para o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) e representante da entidade no Conselho da Associação 4C, Nathan Herszkowicz, a oferta gradual e crescente de cafés em conformidade com o Código representará uma grande vantagem competitiva para a cafeicultura brasileira, assegurando maiores volumes de exportações de cafés com melhor valor agregado e uma oferta adicional de cafés sustentáveis para o mercado interno. “Em linha com esse movimento mundial, temos o Programa Cafés Sustentáveis do Brasil, lançado pela ABIC e que avança no quesito qualidade: os cafés são auditados nas lavouras e também nas indústrias”, diz Herszkowicz.
Metas ousadas
A Associação 4C estabeleceu metas anuais ambiciosas de crescimento. Para o próximo ciclo cafeeiro (2007/2008), que se inicia em outubro, eles pretendem aumentar o número de associados em todas as categorias em 50%. Atualmente, 54% da produção global de café, bem como as maiores empresas do mundo de comercialização, torrefação e fabricantes de café solúvel estão representadas pela Associação 4C.
Pretendem também oferecer pelo menos 50 cursos de treinamento a produtores e parceiros de café em 12 países, assim como realizar serviços de verificação em pelo menos 15 países, aumentando a rede de apoio 4C com novos parceiros públicos e privados. A meta é que até 2015, aproximadamente 50% da produção cafeeira global atenda aos critérios definidos pelo Código.
Fonte: Abic