As perspectivas para o agronegócio |
21 de Fevereiro de 2006 – É preciso que o setor conste definitivamente da agenda de políticas públicas. Em 2006, a agropecuária brasileira terá um ano difícil, mas menos pior do que o anterior. A expectativa é que o setor comece a trilhar o caminho da recuperação de parte da rentabilidade perdida. Fatores internos e externos fizeram de 2005 o pior ano da agricultura nas últimas três décadas. Além da estiagem, que atingiu diversas regiões produtoras, a queda nos preços internacionais de commodities importantes na nossa pauta de exportações (principalmente grãos), sobretudo pela defasagem cambial, infligiu grande perda de renda aos produtores. A safra passada sofreu uma redução de 18%. Ou seja, 18 milhões de toneladas a menos que as 131 milhões de toneladas inicialmente previstas. Para se ter idéia do fundo do poço em que a agricultura chegou no ano passado, basta lembrar que na última safra o produtor plantou com o dólar a R$ 3,20 e vendeu a safra com o dólar a R$ 2,40. Esse conjunto de fatores desfavoráveis na temporada passada fez o valor total da produção agropecuária recuar R$ 21 bilhões em relação ao estimado. Mesmo assim, o agronegócio praticamente garantiu sozinho o superávit da balança comercial. O setor respondeu por mais de 80% do saldo comercial no ano passado. Na prática, isso significa que, mesmo com prejuízos, a cadeia produtiva do agronegócio garantiu o bom desempenho do comércio exterior. O País ganhou, apesar do bolso furado e dos prejuízos dos agricultores. Neste ano algumas regiões já sofrem o efeito da estiagem e é preciso ficar atento. Por outro lado, os bons preços internacionais de commodities importantes podem compensar uma possível redução da safra. O Ministério da Agricultura prevê uma colheita próxima a 125 milhões de toneladas de grãos. Entretanto, acreditamos que iremos colher no máximo 115 milhões de toneladas. E a explicação é simples: houve uma redução de 5% na área plantada em relação à safra passada. Além disso, em função da alta do custo de produção os agricultores usaram menos tecnologia e menos insumos no plantio dessa safra. Em relação à elevação do custo de produção, podemos citar o exemplo do aumento do frete. De Rondonópolis, região produtora de soja no Centro-Oeste, até o Porto de Santos o frete subiu de US$ 43 para US$ 70 e em alguns casos para até US$ 100 a tonelada. Outro dado importante a ser analisado é a queda do PIB do agronegócio em 3,4% em valores nominais (R$ 520 bilhões) na comparação com o resultado anterior (R$ 540 bilhões). Na safra deste ano o que se espera é um câmbio mais estável, com o agricultor plantando com o dólar a R$ 2,30 e colhendo com a moeda norte-americana nesse mesmo valor. De outro lado, as exportações serão beneficiadas pela alta dos preços de algumas das principais commodities agrícolas. Caso do café, do açúcar, do suco de laranja, do álcool e mesmo da soja. Preços maiores lá fora significam maiores preços pagos ao agricultor, que espera ainda que haja dinheiro suficiente para financiar a produção e a comercialização. No que diz respeito às exportações, acreditamos que serão maiores do que as do ano passado. A economia mundial deve crescer, segundo projeções da ONU, 3,3%. O fluxo comercial internacional deve acompanhar essa tendência. No caso do Brasil, vamos no mínimo manter a receita gerada pelas nossas vendas externas no ano passado, que foram de US$ 43,6 bilhões. Isso resultou num saldo de US$ 38,4 bilhões. A soja deve continuar liderando as exportações. Mas há outros três produtos com uma expectativa muito favorável para este e os próximos anos. O café, o setor sucroalcooleiro e o suco de laranja. Na safra passada o café brasileiro respondeu por 28% das exportações mundiais do produto. Em 2006 nossa participação no mercado mundial poderá ser superior a 30%. Esperamos que neste ano, ao contrário de 2005, esse desempenho do agronegócio brasileiro no mercado internacional seja transferido também para o produtor, o que representará aumento de renda e, por conseqüência, maior estímulo a investimentos em tecnologia. Na pecuária exportamos mais de US$ 3 bilhões no ano passado, mas nesse mesmo período a perda de renda para o pecuarista de corte foi enorme. Basta lembrar que os preços da arroba do boi gordo registraram os níveis mais baixos dos últimos 30 anos. Isso aconteceu antes do surgimento da febre aftosa no Mato Grosso do Sul. O Brasil é o único país em condições de incorporar nos próximos dez anos mais de 30 milhões de hectares à sua agricultura. Essa expansão da área plantada vai gerar maior demanda por tratores, colheitadeiras, carros e outros insumos agrícolas. O resultado sem dúvida será um aumento na renda e no número de empregos da população rural e urbana. Hoje, 37% de todos os empregos no Brasil são gerados pela cadeia produtiva do agronegócio. Ao concluir, quero deixar um alerta ao governo e um conselho ao produtor. O alerta é que, sem mudança na tríade juros altos, câmbio sobrevalorizado e gastos públicos elevados, boa parte do setor, em especial a área de grãos, irá permanecer em crise. O governo precisa entender que o agronegócio tem um peso que nenhum outro setor tem para a economia e que investir no setor é prioridade para o desenvolvimento do País. O conselho é que o produtor tem de reforçar sua gestão de negócios. Aprender a gerir melhor financeiramente sua atividade ao avaliar custos, selecionar investimentos, conhecer mecanismos do mercado. Precisa fortalecer o espírito associativo, aproximando-se mais de suas entidades, juntando-se em pools, grupos, obtendo melhores condições para negociar. É preciso maior engajamento do setor e compreensão do governo de que a agricultura deve, de uma vez por todas, constar da agenda de políticas públicas. Com as eleições gerais de 2006 teremos uma importante oportunidade para pressionarmos por esse objetivo. (Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 3)(João de Almeida Sampaio Filho – Economista, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) – www.srb.org.br) |