Ativos de riscos subiram logo após a divulgação da autoridade monetária dos Estados Unidos, mas deram uma pausa e uma tomada de lucro empurrou as cotações para baixo na sexta-feira.
O FED manteve os juros americanos inalterados, como esperado, dando indicações que este ano o custo do dinheiro ainda deve subir – com os mercados apostando que a decisão deve acontecer somente em Dezembro, como foi o caso em 2015. O fator surpresa foi o FOMC revisar de quatro para dois os incrementos dos juros em 2017, parcialmente justificando pelos prognósticos de crescimento do PIB menor e do fortalecimento do dólar – que fez uma parte do trabalho em moderar riscos inflacionários.
Ativos de riscos subiram logo após a divulgação da autoridade monetária dos Estados Unidos, mas deram uma pausa e uma tomada de lucro empurrou as cotações para baixo na sexta-feira. O acumulado da semana, entretanto, foi bem positivo, principalmente para as ações europeias e dos mercados emergentes.
A desvalorização do dólar renovou o folego das commodities, muito embora alguns investidores foram cautelosos dada a mensagem mista recebida: positiva com relação a política monetária ainda expansionista, mas levemente negativa com previsões de crescimentos econômicos mais baixos e que venham impactar uma aceleração de demanda por matérias-primas.
O café teve uma semana de alta volatilidade, contrastando com o comportamento que vimos na semana retrasada. Nova Iorque oscilou mais de 2.5% em quatro das últimas cinco sessões, chegando a negociar a US$ 160.90 centavos por libra (o maior patamar desde 17 de fevereiro de 2015), mas fechando a US$ 9.00 centavos da máxima de quinta-feira. Londres também manteve a trajetória positiva rompendo os US$ 2,000.00 a tonelada, nível que não negociava desde o mesmo 17 de fevereiro de 2015, encerrando a 62 dólares por tonelada da alta da semana.
Os fundos voltaram a ser destaque de compra, muito provavelmente forçando uma parte dos vendidos em desmontar suas posições, assim como não seria demais imaginar alguns compradores-naturais terem jogado a toalha e garantido algumas fixações.
O movimento de alta ajudou a alargar os diferenciais para praticamente todas as origens, permitindo a àqueles que haviam arriscado em um basis bem barato cobrir suas posições de curto, médio e até longo-prazo com lucro. No Brasil o volume negociado no físico voltou a refletir a alta disponibilidade de arábica, ainda que os cafés mais finos não sejam os mais ofertados localmente. Preços de qualidades de bebida mais fraca e até o conilon ultrapassam os valores de R$ 450.00 a saca, algo que poucos analistas previram em suas observações há mais de um ano. O reflexo dos bons preços foi notado no leilão de cafés do governo, com o volume total oferecido sendo arrebatado com prêmios.
O acompanhamento das chuvas no Brasil continua, e os institutos de meteorologia indicam um fim de setembro/começo de outubro promissor quanto a normalidade das precipitações – é preciso ser confirmado, claro.
O Fórum da OIC, aonde eu tive o prazer de participar como convidado em um dos painéis, além de ter sido muito bem organizado e trazer debates enriquecedores para o setor, também chamou a atenção em ilustrar as situações heterogêneas entres as diversas regiões produtoras de café no mundo. Países produtores do continente Africano e da América Central, por exemplo, trouxeram à pauta a necessidade de preços mais remuneradores aos seus cafeicultores, argumentos legítimos quando olhados através de lentes de aumento. A grande dificuldade é transferir aos participantes do mercado mundial a realidade regional, quando o que se globalmente é um volume de produção crescente, impulsionado por aumentos de produtividade, maior transferência de recursos para o produtor e desvalorizações de moedas entre as economias que permitem a flutuação do câmbio – compensando o incremento do custo de produção (em valores absolutos).
As questões sobre a mudança climática mundial e da necessidade de abastecer um mercado consumidor com inelasticidade ao preço preocupam muitos, mas ao mesmo tempo aos que creem no mercado livre e portanto na idéia de que os preços (ainda mais de um produto com demanda inelástica) farão o trabalho de ajustar a oferta e demanda, a resposta é muda por ora. No meu pensamento, que sempre divido nas conversas destes eventos, o mercado de café, no longo-prazo, se parecerá com o que vimos no cacau, ou seja, US$ 200.00 centavos por libra será o preço barato da bolsa, talvez aos sonhados aos US$ 100.00 centavos/libra de hoje dos baixistas.
É claro que como tudo na vida o timing é o desafio. Não adianta comprar café hoje olhando para este cenário de longuíssimo prazo, pois as necessidades dos agentes têm de ser saciadas no dia a dia.
O fechamento da semana do ponto de vista técnico é bem negativo e se no panorama macroeconômico os investidores se tornarem mais defensivos, o contrato “C” pode escorregar novamente para próximo de US$ 140.00 centavos. Por outro lado é verdade o argumento dos altistas quando dizem que dada a necessidade de compra dos comerciais (corroborada pelo COT – relatório de posicionamento dos comitentes) as quedas fortes encontrarão uma indústria inclinada a dar suporte ao terminal. Concordo com a observação, tanto que falo em Nova Iorque segurar próximo ou acima de US$ 140.00 centavos e não acredito que vá testar os US$ 125.00 centavos que era “ponto de venda” para muitos baixistas no começo deste ano.
Uma confirmação do prognóstico normalizado de chuvas no Brasil para o começo de outubro deve ter um efeito negativo e desencadear o desmonte de posição dos que andaram comprando recentemente o noticiário sobre seca – mesmo que as chuvas não resolvam completamente o problema, por exemplo, do conilon. O efeito vai causar um desconto do premio montado pelos alistas que colocaram suas fichas em um cenário catastrófico do ponto de vista fundamental.
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting