ARTIGO – SOBRE AS LOUCAS FLORADAS DE DEZEMBRO Por Ensei Neto

14 de dezembro de 2009 | Sem comentários Mais Café Opinião


O clima mudou.


 


Ensei Neto

Disso ninguém mais duvida. Nem mesmo os filmes catástrofes não precisam mais de Hollywood para os efeitos especiais, pois as chuvas e superventanias estão fazendo verdaeiros estragos em todos os cantos.

No caso da agricultura, o impacto nas culturas que são perenes, ou seja, de árvores ou arbustos que produzem ao longo de muitos anos como a laranja e o café, é dramático.
O cafeeiro é uma planta que tem um ciclo de produção bem definido: floração (em geral na primavera), “pegamento” dos frutos, crescimento e maturação dos frutos e colheita (final do outono e inverno), num período que dura algo como 215 a 245 dias. Quanto mais distante do Equador, mais nítido é o efeito das estações do ano.

Algumas floradas fora de época podem acontecer (e qual árvore frutífera não tem o seu “temporão”?), mas quase sempre sem afetar muito a uniformidade da maturação dos frutos.
No caso do cafeeiro, quando localizado próximo ao Equador, o fator climático que define esse período fértil e o de colheita são as duas usuais estações: uma chuvosa e outra seca. Como a temperatura é sempre suficientemente quente na faixa equatorial do nosso planeta, a combinação de calor e umidade é ótima para o período fértil (florada e fecundação) e crescimento dos grãos. Já o semestre mais seco representa para as plantas o momento para “expulsar” seus frutos, pois amadurecem e estão prontos para serem colhidos. E a continuação da atmosfera mais seca dá sinais à planta de que uma reserva de energia tem de ser direcionada para a perpetuação da espécie: é quando os botões florais começam a dar sinais.
O cafeeiro, como se sabe, produz apenas na parte nova dos ramos, comumente chamado pelos produtores de “ramo verde”, pois ramos com casca velha (marrom) mantem os grãos da safra em colheita. É por essa razão que o crescimento que se vê dos ramos quando do início do tempo das águas representa a florada do ano seguinte e, portanto, a colheita do ano posterior.
Isso mesmo, são quase dois anos nesse ciclo!

Este ano houve um “muxoxo” geral dos produtores sobre o clima durante a colheita: chuva sem
parar. Até regiões famosas pelo seu clima seco, quase desértico, de maio a setembro, não escaparam dessa mudança climática. E chuva nessa época, além do virtal estrago que faz com a qualidade do café, “passa uma informação diferente” para a planta.

Sim, a planta interpreta que se não há seca e não há porque se resguardar. A abundância de água disponível no solo e na mais alta umidade relativa do ar, é indício de que é momento para seu crescimento, conhecido entre os produtores como “vegetação”. Água é o insumo mais importante para a vida, regulando todos os ciclos dos seres vivos!

E assim, além do crescimento dos ramos, que continua com a entrada da primavera e verão, as floradas simplesmente não param de acontecer. É o “Efeito Colômbia”, nome que empreguei pela primeira vez em 1995 quando visitei a região de Barreiras, Oeste da Bahia, onde estava a então surpreendente lavoura irrigada do Sr. João Barata, e que se caracteriza pelas múltiplas floradas ao longo do ano.

Isso preocupa?

Claro, que sim!

Imagine que no Brasil a técnica de colheita mais empregada é a de derriça, seja manual ou mecanizada, quando se retiram todos os grãos do ramo de uma só vez. A colheita seletiva manual somente é viável em propriedades de micro-produtores familiares, pois empregando-se mão-de-obra contratada o seu custo é altíssimo.

Grandes fazendas fazem isso apenas com poucos e pequenos lotes, atendendo a um pedido específico de cliente.

Sendo assim, quando menos uniforme for a florada, significa que mais problemas de qualidade de bebida e, também, de rendimento de colheita, acontecerão. Por outro lado, é certo que a próxima safra ficará comprometida quanto ao seu tamanho, uma vez que parte da florada que deveria ocorrer apenas na próxima primavera se antecipo.

Algo semelhante ocorreu há duas safras atrás. Sinal de que está se tornando um padrão?
Quem viver, verá!


Ensei Neto
www.coffeetraveler.net

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