A polêmica do dia, sem dúvida, é o número apresentado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a produção brasileira de café. A estatal brasileira estimou nesta terça-feira (18) a terceira maior safra de café do Brasil de todos os tempos.
Então, pergunto: será?
Fiz este questionamento ao vivo hoje em meu programa, aqui no Canal do Boi, o AgriculturaBR. Estive baseado nos levantamentos municipais, estaduais, das consultorias e centenas de vídeos e depoimentos de cafeicultores atingidos pelas intempéries climáticas do último ano, de fato, o cenário no campo não abre espaço para safra recorde.
A Conab trouxe em um levantamento, duramente criticado pelo setor da produção de café, uma estimativa do Brasil produzir 55,7 milhões de sacas. Para quem está no campo parece ser algo muito improvável, mas foi este o número estimado, com acréscimo de 16,8% em comparação com 2021 quando a produção totalizou 47,72 milhões de sacas.
A Conab “achou”, repito “achou” uma superprodução de café com uma florada que só ela viu em dezembro. Com isso, não deu outra…
Cafeicultores, pasmem!
Depois do setor ter vivido tudo o que viveu no último ano, o Brasil (de acordo com os números oficiais) deve colher a terceira maior safra de café da história, inferior apenas às duas últimas campanhas de bienalidade positiva, em 2020 e 2018.
Um dos argumentos para justificar a elevação foi a bienalidade positiva. Perguntei no programa ao vivo hoje para Armando Matiello, presidente da Sincal, como ele avaliava.
“A Conab passou uma previsão de 16,8% de alta na produção de café, sinceramente. Inacreditável. Esse negócio da bienalidade caiu todo por terra, porque os fatores que tivemos de adversidade como seca e geadas derrubaram o fator”, afirmou Matiello, que o Brasil nunca produziria o volume lançado hoje pela Conab.
Questionei também o cafeicultor Fernando Barbosa, que considerou muito difícil definir a produção de café agora, quando há enchimento de grãos e recuperação de forte impacto climático. “Os impactos estão aparecendo, eles existiram até na formação de florada. Porém, já é sabido que temos uma safra comprometida e esses levantamentos podem mexer com o mercado e trazer desiquilíbrio”, disse Fernando, afirmando que a safra 2022 de arábica deva ser inferior ao ano passado.
Quem falou também sobre o tema foi Eduardo Carvalhaes, ele disse que o mercado em Nova Iorque sempre se comporta por interesses de curto prazo.
“Por tudo que ouço de agrônomos, realmente, este levantamento parece inviável. Entretanto, mesmo se estes números fossem reais, a situação de oferta e demanda segue muito apertada”, explicou Carvalhaes.