ARTIGO Luiz Hafers – Diagnóstico do Agronegócio Café

DIAGNÓSTICO DO AGRONEGÓCIO CAFÉ



Leia, abaixo, artigo assinado por Luiz Marcos Suplicy Hafers (foto), diretor do departamento de café da SRB (Sociedade Rural Brasileira), o qual, embasado em dados da análise do grupo de trabalho “Caminhos para o café”, destaca a urgente necessidade de uma real política de apoio à renda dos cafeicultores.


 


Diagnóstico do Agronegócio Café


Durante o ano de 2008, a Sociedade Rural Brasileira (SRB) discutiu os  “Caminhos para o Café” focados nos principais desafios do setor: a formação dos preços internacionais; os crescentes custos de produção em função do grande aumento de custos de fertilizantes, que se revertem agora, mas encareceram a safra recém colhida; as saídas oferecidas por novos modelos de trocas de insumos por produto; os aumentos de custos devidos à complexa regulamentação das condições de trabalho no Brasil, como os ajustes à NR 31, os efeitos distorcidos da carga tributária sobre o setor, restrições e obrigações ambientais.


 


O balanço do ano não é bom para os produtores: os melhores preços esperados, não aconteceram; a safra foi boa mas despesas crescentes geraram resultados insatisfatórios no balanço final. O pequeno produtor, com custos menores por sua condição familiar e pelo apoio governamental em financiamentos subsidiados, expande devagar sua produção. Mas ao mesmo tempo tememos pelo desaparecimento de uma parte importante de nossa classe média rural: a maior parte de nossa produção de café ainda é feita por fazendeiros profissionais, que contratam mão de obra para as operações de custeio e de colheita.


 


E quase todos estão estabelecidos em regiões onde a mecanização da colheita não é viável em função da topografia acidentada. Se levarmos em conta que o custo da mão de obra no Brasil é incomparavelmente mais alto que os demais países produtores de café, mesmo sem levarmos em conta nossos elevados encargos sociais, fica fácil concluir que estes produtores têm uma enorme dificuldade para se manterem competitivos.


 


O momento sugere uma profunda discussão sobre o papel real de uma política de apoio à renda dos agricultores, praticados no mundo todo, mas aqui vistos como anátema. Se quisermos seguir sendo importantes produtores de café, o produto que mais emprega mão de obra por área plantada e uma das poucas culturas viáveis em áreas de topografia acidentada, devíamos discutir a sério a possibilidade de defender produtores eficientes com claras políticas contra cíclicas, política esta que deve ser condicionada a um maior rigor na gestão financeira do negócio.


 


Para os próximos anos um possível aperto no balanço entre oferta e demanda pode ser previsto: os estoques medidos como percentual do desaparecimento indicam um dos menores níveis já observados, e provavelmente o menor nível numa época em que não ocorreram acidentes climáticos como geadas ou secas. Isto pode trazer melhores preços, e aí temos que levar ao produtor uma clara mensagem de cautela e a recomendação de  aproveitar o momento para  acumular reservas, para ter uma estrutura de capital mais sólida e não investir na expansão. Tudo indica que nossa competitividade vai sofrer com concorrentes sem alternativas que não respondem a sinais de preços.


 


Luiz Marcos Suplicy Hafers


Diretor do departamento de café da SRB

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