A participação de agricultores familiares na cafeicultura brasileira é muito
grande nos principais estados produtores (Minas Gerais, Espírito Santo, São
Paulo, Bahia, Paraná e Rondônia), o que exige novos modelos organizacionais que
possibilitem a inserção desses pequenos produtores no mercado de produtos
diferenciados. Esta é uma das conclusões do estudo “Dinâmica fitotécnica e
sócio-econômica da cafeicultura brasileira”, publicado na revista Informações
Econômicas (edição de janeiro/2009) do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA)
da Secretaria de Agricultura de São Paulo. O trabalho foi realizado com o apoio
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Consórcio
Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café.
“Assim, estratégias visando ao desenvolvimento da cadeia produtiva do café
deverão considerar as características particulares da produção familiar e,
especialmente, o incremento do sistema público de extensão rural e transferência
de tecnologia”, dizem os autores do estudo. “Quanto à alteração da composição
relativa dos segmentos do sistema agroindustrial do café no curto e médio
prazos, o mais importante para a sobrevivência dos cafeicultores é a produção de
cafés de boa qualidade e a eficiência técnica e administrativa,
independentemente do tamanho da propriedade.”
A diferenciação de produtos no agronegócio café ocorre não apenas por meio de
estratégias competitivas e bem-sucedidas, voltadas à obtenção de certificações
de qualidade, preservação ambiental e de responsabilidade social, como também
via denominações de origem e/ou processo (Cafés das Montanhas do Espírito
Santos, Cafés das Matas de Minas Gerais, Cafés do Cerrado, Café da Bahia, etc.),
observam os autores do trabalho.
O número de associações de classe nessa cadeia de produção vem crescendo, o
que “deverá contribuir para a sobrevivência do segmento e para aumentar a
competitividade do agronegócio café”.
Cinturões
O parque cafeeiro do País está distribuído por cinturões nos estados de Minas
Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Rondônia e Paraná.
Minas Gerais
No Estado de Minas Gerais, o Vale do Jequitinhonha, é o local onde existe o
maior percentual de renovação da cultura, chegando a 15% de substituição de
plantas ao ano. Dentro da cafeicultura mineira, os pequenos produtores
predominam nas regiões das Matas de Minas e do Jequitinhonha, enquanto no
Cerrado se concentram os médios e grandes produtores.
“Contrariamente, a maior quantidade colhida provém das propriedades médias e
grandes, excetuando-se a Zona da Mata”, onde os pequenos lideram também a
produção.
Espírito Santo
No Espírito Santo, apenas 10 % das propriedades da região de São Gabriel
pertencem aos médios e grandes produtores, chegando a representar cerca de 40%
da produção. Muito parecido com o que acontece na região de Alegre, onde os
médios e grandes produtores representam apenas 2% das propriedades e respondem
por 15 % na produção. “Essa concentração nas médias e grandes propriedades
indica forte especialização de produção com padrão empresarial de exploração”,
explicam os autores do trabalho.
A cafeicultura capixaba é menos desenvolvida do que os demais estados
produtores do Sul e Sudeste, segundo o estudo. “A colheita ainda é
majoritariamente manual e a comercialização concentra-se nos maquinistas e
intermediários. O cinturão de arábica no Espírito Santo impede a adoção de
máquinas na colheita, mas a baixa penetração do movimento associativista e
cooperativista pode frear o desenvolvimento da cultura nessa região.”
São Paulo
O Estado de São Paulo possui quatro principais cinturões cafeeiros. O pólo
centralizado pelo município de Piraju, que exibe uma cafeicultura em expansão.
Na região de Garça-Marília, os cafezais são substituídos por outros cultivos,
especialmente cana-de-açúcar e seringueira. Na Alta Paulista, as lavouras são em
média muito pequenas, o que as torna inviáveis do ponto de vista econômico.
Inclusive os médios e grandes produtores, “com produtividade similar à dos
pequenos, não conseguem fazer prevalecer suas dimensões exploradas no volume da
produção obtida”.
A cafeicultura da Alta Paulista apresenta baixa produtividade e parque
cafeeiro com idade média de 30 anos, o que exige intenso programa de recuperação
dos solos para viabilizar o maior desenvolvimento da cultura na região. Também
cultivares clonais mais produtivas e técnicas adequadas de manejo do robusta são
importantes para a implantação de política governamental de incentivo à
produção.
A Mogiana foi a região que mais avançou na tecnologia de irrigação dos
cafezais (prática inexpressiva nos demais cinturões do Estado), estimulada pelas
condições edafoclimáticas favoráveis.
Paraná, Bahia e Rondônia
O Estado do Paraná encontra-se subdividido em duas regiões: o Norte Novo
(região de Cornélio Procópio), o mais importante cinturão produtivo do Estado, e
o Norte Velho (pólo de Jacarezinho). “Em termos de dimensões, as propriedades da
região de Cornélio Procópio possuem, em média, o dobro das dimensões das
unidades de produção agropecuária da região de Jacarezinho, ainda que, para
ambos os casos, as lavouras de café ocupem exíguas áreas em média.”
Na Bahia, “propriedades de grandes dimensões, como nos cerrados do Oeste e na
região Sul do Estado, podem tanto ocupar importante parcela da área disponível
com grandes extensões de lavoura (Oeste) ou apenas desenvolvê-la em pequenos
módulos (Chapada Diamantina)”. Na região de Vitória da Conquista, a cafeicultura
é centrada nos pequenos produtores, com áreas de café tipicamente
minifundistas.
No cinturão Oeste do Estado, “os grandes produtores possuem 90 % das
propriedades, “ofertando 98% da produção, e propriedades de dimensões médias de
1.250 hectares”. Nas demais regiões baianas, predominam as propriedades pequenas
“que, porém, não conseguem rivalizar com a produção dos médios e grandes”.
O Oeste baiano apresenta a mais elevada produtividade média da cafeicultura
brasileira, devido ao “padrão empresarial de atuação combinado ao elevado padrão
tecnológico adotado (estande superadensado, totalmente mecanizado e 100%
irrigado)”.
Esse recorde vale também para a produção de robusta no Sul do Estado,
“decorrente da grande penetração da irrigação nessas lavouras, ainda que o
padrão tecnológico fosse caracterizado como baixo basicamente devido ao plantio
de conilon por meio de sementes”. Na região de Vitória da Conquista, os antigos
cafezais “em média exibem razoável produtividade”, “a penetração da irrigação é
bastante significativa” e “se constatou maior desenvolvimento do cooperativismo
em apoio ao armazenamento e à comercialização”.
Já no Estado de Rondônia, fronteira amazônica, o perfil da cafeicultura é
menos desenvolvido do que os dos demais cinturões brasileiros. “A legislação
ambiental, vigente para a faixa amazônica, prevê conservação de 50% da área com
cobertura natural, restringindo sobremaneira a área passível de cultivo em
Rondônia”. Na região, os pequenos produtores predominam em número de
propriedades e também em quantidade produzida.
O estudo foi realizado pelos pesquisadores Flávia Maria de Mello Bliska,
Sérgio Parreiras Pereira e Gerson Silva Giomo, do Instituto Agronômico
(IAC-APTA), e Celso Luis Rodrigues Vegro, do Instituto de Economia Agrícola
(IEA-APTA), vinculados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento -; bem como
Elessandra Aparecida Bento Mourão e Paulo César Afonso Júnior, da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).