* Ming Liu
O mercado global de produtos orgânicos em 2010 foi marcado por um início de ano com cautela e indefinições em decorrência das crises econômicas nos países europeus e do mercado norte-americano. Porém, no decorrer do ano, os resultados mostraram que houve uma expansão na demanda e retomada do crescimento, apesar da crise econômica mundial nos últimos dois anos. O segmento mostra sinais de que a demanda continua forte e em ascensão.
Nos Estados Unidos, país com o maior mercado mundial, apesar da crise econômica que o levou a crescer pouco mais de 1,2% em 2009, o segmento de orgânicos apresentou crescimento na ordem de 5,2% para alimentos e 9,2% para não alimentos, atingindo um montante na ordem de US$ 24,2 bilhões, segundo os estudos da empresa SPINS. Em 2010, a expectativa é de que este valor fique em torno de US$ 26 bilhões.
O mercado foi caracterizado pelo crescimento de marcas próprias das redes de varejo em relação às marcas locais independentes, que demonstra uma tendência de busca por produtos em canais de venda de menor preço, porém mantendo a forte demanda por produtos do segmento. Neste cenário, o maior canal de distribuição continua sendo os grandes de varejo como a Safeway e o Whole Foods, que apontaram crescimento de faturamento na ordem de 15% e que representam cerca de 60% de todo o mercado norte-americano em 2010. O canal de distribuição local, os chamados “farmer’s market” (mercados locais), também apresentou crescimento na ordem de 16% em 2010.
Segundo a Organic Trade Association (OTA), o mercado de orgânicos tem a sua distribuição em dois grandes segmentos: a de alimentos que contribuiu com cerca de 93 % do total dos produtos comercializados, e cerca de 7% de produtos do segmento não alimentos. Comparando-se com o mercado de convencionais, os orgânicos já representam cerca de 3,5% de todos os alimentos comercializados no mundo.
No mercado europeu, este crescimento também foi notado, porém com menor disponibilidade de dados para um nicho onde a Alemanha, Reino Unido, França e Itália despontam como os principais consumidores.
No Brasil, através do projeto Organics Brasil, este crescimento também se notou nos resultados de exportações das 72 empresas participantes, que no final de 2010, totalizaram US$ 108,2 milhões de exportação consolidadas, sendo que o setor de alimentos representou cerca de 96%.
No primeiro semestre de 2010, a maioria das empresas nacionais apontou um resultado de pouca expressividade em termos de retorno, marcado por posicionamentos de manutenção de pedidos e foco na manutenção de clientes conquistados nos anos anteriores. A partir do segundo semestre, esta posição passou a ter um resultado melhor, com menor retração e retomada da expansão dos mercados.
Este volume foi cerca de 85% superior ao do ano passado e a sinalização para 2011 é de otimismo e contínuo crescimento, com destaque para o segmento de produtos semi-industrializados e produtos a granel. A base de empresas associadas se expandiu nos últimos meses com a adesão de duas grandes empresas exportadoras, o que acabou contribuindo para o importante resultado.
Os produtos exportados com marca própria Brasil acabaram tendo uma redução na ordem de 25%, se comparados com 2009, porém o que foi observado foi um forte crescimento no mercado nacional, onde as empresas apontaram que o direcionamento ocorreu por um mercado interno mais aquecido que o externo. A taxa de câmbio dificultou a competitividade no mercado externo, além do fator do alto custo de promoção de uma marca própria no mercado internacional, muitas vezes proibitivo para as pequenas e médias empresas.
A exceção é o caso da Native, empresa referencial no mercado mundial de orgânicos, que exporta para mais de 60 países, sendo que sua marca brasileira é vendida ao consumidor final de 26 países em todos os continentes.
No segmento de cosméticos e não alimentos, o crescimento foi na ordem de 25% comparando-se com 2009, com destaque para as marcas Surya Brasil e Ikove, que atualmente estão presentes, com suas marcas próprias, em mais de 12 países na Europa, Ásia e América do Sul.
No segmento de alimentos, os destaques foram: o açúcar, polpas de frutas como o açaí, acerola e laranja, mel, castanhas nacionais; e produtos liofilizados como frutas e café que chegam a mais de 70 países em todos os continentes.
Os países importadores continuam sendo: os Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Canadá, Espanha, Coréia do Sul, China e Austrália.
A tendência para 2011 é a forte expansão do mercado interno, com a expectativa da oficialização da instituição do selo nacional de orgânicos e a regulamentação nacional a partir de janeiro. Os mercados internacionais tendem a ter crescimento continuo.
· Ming Liu é coordenador executivo do Projeto Organics Brasil – www.organicsbrasil.org