A Região Sul concentra 76% da produção brasileira de máquinas agrícolas
CURITIBA e
PORTO ALEGRE – Ar-condicionado com acionamento eletrônico, câmbio automático,
computador de bordo, suspensão a ar… Atributos de um novo carro de luxo? Não.
Trata-se da colheitadeira Axial Flow Extreme, fabricada pela Case New Holland,
do grupo Fiat, em Curitiba. A máquina custa entre R$ 600 mil e R$ 700 mil. Desde
2003, quando foi lançada, 500 unidades já foram vendidas.
Na gaúcha
Horizontina, localizada a 500 quilômetros de Porto Alegre, a estrela é a
colheitadeira STS, da John Deere – a maior fabricada no País, segundo a empresa.
O toque especial vai na cabine: um dispositivo opcional de localização por
satélite, baseado no sistema GPS, comanda o trajeto da máquina. O piloto
automático evita, por exemplo, que a colheitadeira passe duas vezes no mesmo
ponto. Na AGCO de Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, o forte são os
tratores da marca Massey Ferguson – a líder de mercado no Brasil –, exportados
para dezenas de países.
A Região Sul está para as máquinas agrícolas
assim como o ABC paulista está para a produção de automóveis de passeio. Em
2004, os dois Estados produziram 76% das máquinas agrícolas motorizadas do País
(São Paulo e Minas Gerais fizeram o restante). “A lavoura mecanizada começou no
Rio Grande do Sul”, diz Gilberto Zago, diretor de Relações Institucionais da
John Deere, empresa americana que hoje comanda integralmente o capital da
pioneira do setor, a SLC.
Fundada pela família Schneiderman Logemann, de
Horizontina, a SLC produziu sua primeira colheitadeira (uma cópia de uma John
Deere da época), em 1965. A John Deere deve inaugurar no próximo ano uma nova
fábrica de tratores em Montenegro, a 70 quilômetros de Porto Alegre.
A
tecnologia embarcada nas máquinas ajudou o País a se transformar numa potência
agrícola. Há dez anos, a perda média de grãos de uma colheitadeira era de 6%.
Hoje, é abaixo de 1%. São resultados obtidos com tecnologia. Os produtores
também passaram a se preocupar com o bem-estar dos operadores, em geral
submetidos a longas jornadas sob sol. “Muitos se deram conta que o funcionário
que trabalha em melhores condições produz mais”, afirma Valentino Rizzioli,
presidente da Case New Holland.
Com a crise no campo, o setor encolheu,
após um forte período de expansão. As vendas no mercado interno estão cerca de
40% inferiores às do ano passado, segundo os dados de outubro da Anfavea. No
caso das colheitadeiras, o baque é ainda mais forte: queda de 75% nas vendas em
relação a 2004. A freada fez com que a AGCO colocasse na gaveta um projeto de
uma linha de produção em Mato Grosso.
“Não desistimos da idéia, mas é
preciso esperar uma reação do mercado”, diz Fabio Bejzman Piltcher, diretor de
Marketing da AGCO, também de origem americana.
A fase de ouro do setor
começou em 2000, quando o governo federal criou o Moderfrota, linha de
financiamento do BNDES para compra de máquinas agrícolas a juros mais baixos que
os de mercado. Desde que foi criado, o Moderfrota contribuiu para que chegassem
ao campo mais de 25 mil colheitadeiras e quase 160 mil tratores
novos.
Segundo estimativas do setor, nesses cinco anos o Moderfrota
conseguiu renovar em 30% a frota de tratores e em 45% a de colheitadeiras. A
produtividade média das lavouras cresceu quase 20% no período.
O
crescimento das vendas veio junto com o avanço tecnológico. Desde 1999, a CNH
investiu US$ 120 milhões em suas três fábricas no País: a de Curitiba – que
produz tratores e colheitadeiras de grãos das marcas Case IH e New Holland –, a
de Contagem (MG), que abriga uma fábrica de máquinas de construção, e a de
Piracicaba (SP) que sedia a unidade de fabricação mundial de colheitadeiras de
cana e de café e plantadeiras. Desde
2000, a empresa tem lançado um produto novo por ano. O Brasil é o maior produtor
de cana-de-açúcar do mundo, mas só 30% da colheita é mecanizado. Na Austrália,
outro grande produtor mundial, a mecanização chega a 100%.
Curiosidade: a
colheitadeira de cana-de-açúcar é uma invenção australiana. Hoje, o Brasil
exporta esse produto para a Austrália. A fábrica paulista – que também produz
colheitadeiras de café e
plantadeiras de grãos – é plataforma de exportação desses produtos da CNH para
todo o mundo. A produção é crescente. Passou de 40 colheitadeiras de
cana-de-açúcar, em 2003, para previstas 150 neste ano. O peso do Brasil, aliás,
é cada vez maior na estrutura internacional da CNH. Há cinco anos, o País
começou a fazer parte do programa de testes de novos produtos mundiais da Case
New Holland. A razão é simples. Enquanto na Europa o uso médio de um trator é de
900 horas/ano e nos Estados Unidos é de 1,3 mil horas/ano, no Brasil chega a 2,3
mil horas/ano. Ou seja: se resiste ao Brasil resiste a qualquer lugar do
planeta. Resultado: inovações brasileiras, como o eixo reforçado de tratores e
de colheitadeiras e a embreagem mais resistente, se tornaram padrão
internacional da New Holland.