AGRONEGÓCIOS
12/08/2008
Aquecimento global fará produção de café migrar para Região Sul
Priscila Machado
SÃO PAULO – O aquecimento global poderá mudar drasticamente a geografia da produção agrícola no País. No Sudeste, a principal commodity a sentir os efeitos do clima será o café, que terá poucas condições de sobrevivência nessa região. Até 2020, o prejuízo da cultura por razões decorrentes à efeitos climáticos será de pelo menos R$ 882 milhões e a queda da área apta ao plantio de 9,48%.
A conclusão faz parte do estudo “Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira”, trabalho feito conjuntamente pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Universidade de Campinas (Unicamp) e Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri).
Atualmente, a produção brasileira de café está concentrada no Sudeste. Entretanto o levantamento prevê que a cultura não resistirá na maior parte da região, já que a tendência é ela ser atingida ou por deficiência hídrica ou por excesso térmico.
De acordo com o estudo, os Estados de Minas Gerais e São Paulo deverão perder condições de plantio em boa parte da área hoje cultivada. “A região da Alta Mogiana, em São Paulo, vai resistir bem, porque está localizada numa região mais alta, mas em Minas a produção irá afunilar bastante”, avalia Eduardo Delgado Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária. Por outro lado, regiões onde hoje é produzido o café do tipo robusta (conilon) será possível produzir a variedade arábica, comercializada internacionalmente.
Com a mudança climática e a impossibilidade do cultivo no Sudeste a produção deverá migrar para a Região Sul do País. “Em 20 anos já começa a ter uma produção no Sul. Será possível cultivar café até na Argentina”, diz Assad.
No entanto, culturas importantes como a soja deverão desocupar áreas no Sul. O principal produto agrícola exportado pelo País terá uma retração de área apta ao plantio da ordem de 24% em 2020 e a Região Sul é a que deve sofrer os maiores impactos.
De forma geral o estudo revela que as mudanças previstas para o clima no País deverão beneficiar as culturas energéticas em detrimento da produção de alimentos. Das culturas avaliadas, a cana-de-açúcar será a mais favorecida e poderá ampliar sua área cultivada que hoje é de 6 milhões de hectares para 17 milhões de hectares em 2020. Segundo o pesquisador, a Região Sul que hoje apresenta restrições ao cultivo da cana poderá se tornar área de lavouras potenciais dentro dos próximos 10 anos.
O aquecimento global poderá mudar drasticamente a geografia da produção agrícola no País. No Sudeste, a principal cultura a sentir os efeitos do clima será a do café. Até 2020, o prejuízo da cultura por razões climáticas será de pelo menos R$ 882 milhões e a queda da área apta ao plantio, de 9,48%. Segundo estudo da Embrapa, Minas Gerais e São Paulo deverão perder condições de plantio em boa parte da área cultivada. A região da Mogiana (SP), porém, vai resistir e manter posição de destaque, porque está em terras altas.