CIDADES / 24/03/2008
Estudos mostram efeitos do aumento das temperaturas nas duas culturas
Vinicius Jorge Sassine
Produção de soja reduzida em mais de um terço; plantações de café riscadas do mapa; avanço da cana-de-açúcar por todas as regiões do Estado e perdas consideráveis da produção leiteira e avícola. É este o cenário para a agropecuária em Goiás em caso de confirmação das projeções de elevação das temperaturas e mudanças nos ciclos de chuva, em decorrência do aquecimento global. Assim como o Cerrado sentirá os efeitos das mudanças climáticas, os resultados negativos serão mais notáveis na agricultura.
Um estudo patrocinado pelo governo inglês analisa os efeitos do aquecimento global para a agropecuária, para o setor hidrelétrico e para a saúde pública. Pelo menos cinco universidades e institutos de pesquisa brasileiros estão envolvidos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A pesquisa está em fase final. O POPULAR teve acesso a algumas das conclusões sobre o impacto das mudanças climáticas para a agricultura.
Coordenador do Centro de Pesquisas Meteorológicas Aplicadas em Agricultura da Unicamp, o pesquisador e agrometeorologista Hilton Silveira Pinto conclui a análise de mais de 20 culturas sob o efeito de elevação das temperaturas. São traçados três cenários: aumento de 1, 3 e 5,8 graus. As conclusões do pesquisador apontam para uma reconfiguração da agropecuária no País, que pode perder 25% de suas plantações caso se confirme uma elevação de 3 graus celsius. A tendência, segundo Hilton Silveira, é a invasão de culturas resistentes ao calor em áreas onde existem soja, arroz e feijão, por exemplo. Por isso, a cana-de-açúcar e a seringueira seriam favorecidas nesse cenário.
O caso do café é o mais emblemático. Com aumento de 1 grau na temperatura, a área cultivável em Goiás já cairia de 38,4% para 14,1% (veja o quadro). Se a projeção de 3 graus a mais se confirmar, restará apenas 0,1% de área propícia ao café no Estado. Um clima 5,8 graus mais quente representaria a extinção da cultura em Goiás, situação que não se confirmaria nos Estados de Minas Gerais, Paraná e São Paulo.
O estudo da Unicamp estima prejuízos com as perdas de plantações. O aumento de 3 graus celsius – o mais aceitável e estimado pelos cientistas – provocaria perdas financeiras de R$ 887 milhões por ano aos produtores de arroz de todo o País.
O prejuízo anual com a soja seria de R$ 14,3 bilhões e com o café, R$ 4,6 bilhões. No caso do milho, a elevação da temperatura em 1 grau celsius chegaria a ser favorável, com incremento de 2% na produção nacional. A partir dos 3 graus a mais, já haveria uma redução de 7%. O aumento de 5,8 graus seria catastrófico para qualquer cultura.