APURAÇÃO DE LUCRO NA CAFEICULTURA POR MARCUS FOMM

A contabilidade rural, bem como os controles financeiros, mesmo sendo importantes, são pouco demandados pelos pequenos e médios produtores, pois desconhecem seus procedimentos.

Dentro de mais alguns dias terá início a colheita com a respectiva comercialização e, nesse caso, é chegada a hora dos cafeicultores tomarem conhecimento do resultado gerado pelo negócio. Muitos ficarão sem conhecer o quanto ganharam ou perderam, pois não adotam a contabilidade rural e controles financeiros em suas propriedades de café.

A contabilidade rural, bem como os controles financeiros, mesmo sendo importantes, são pouco demandados pelos pequenos e médios produtores, pois desconhecem seus procedimentos.

Por outro lado, a bem da verdade, não identifico nenhum esforço ou mesmo interesse por parte dos cafeicultores em conhecerem um pouco mais as diversas técnicas disponíveis e também a boa vontade dos contabilistas, associações e cooperativas em disseminarem os princípios contábeis indispensáveis ao processo decisório.

Embora não acredite, quem sabe pode haver interesses ocultos para que a falta de informações prevaleça, pois, nesse caso, as inúmeras negociações poderiam ser facilitadas. Será?   

Ainda, infelizmente, é corriqueiro o conceito de que em havendo sobra de caixa, após a comercialização, haverá lucro. Pode até ser, mas, nesse caso, continuarão a desconhecer o montante. O contrário também é possível, caixa positivo e geração de prejuízo. Pelo explanado conclui-se que “caixa” não se confunde com “lucro” e vice-versa.

Para o controle do saldo de caixa necessário a adoção do “Fluxo de Caixa” onde serão anotados, de forma discriminada, todos os recursos provenientes das receitas do negócio, de aplicações financeiras, bem como de outros recebimentos sejam oriundos de empréstimos contratados, venda de equipamentos, receitas de aplicações financeiras, entre outras possibilidades.

Assim sendo, o Fluxo de Caixa poderá ser construído de forma a indicar recebimentos e pagamentos operacionais e não operacionais para que se tenha uma visão mais clara do negócio.      

Para o conhecimento do lucro ou mesmo prejuízo do negócio utiliza-se a “Demonstração de Resultado do Exercício – DRE a qual deverá conter o assentamento das receitas, custos e despesas. Adota-se também a separação das receitas, custos e despesas operacionais das não operacionais. O saldo apurado no Fluxo de Caixa, bem como na DRE não se confundirão. A principal diferença entre eles é que a DRE deve ser elaborada de acordo com o regime de competência, enquanto o fluxo de caixa é formulado com base no regime de caixa. Para melhor compreensão imagine que adubo, no valor de $2.000, foi adquirido para pagamento em 5 parcelas de $400. Na DRE será lançado o valor total e no Fluxo de Caixa as parcelas que serão pagas, nas datas combinadas.  

Ou seja: a DRE não considera as entradas e saídas de dinheiro como o Fluxo de Caixa, mas sim o resultado econômico geral independentemente de quando ocorreram os pagamentos e recebimentos.

Cabe aqui apenas relembrar a diferença entre custos e despesas. Custos são aqueles gastos em que o produtor incorre diretamente para a produção do café. Despesas são aqueles gastos relacionados de forma direta ou indireta com a formação de receitas e condução do empreendimento.

Temos ainda os custos fixos, variáveis, diretos, indiretos, perdas e investimentos, mas, não é escopo a abordagem nesse texto.

Lembramos também aos cafeicultores que dentre as diversas metodologias de custeio, destacam-se aquelas de custeio por absorção e variável.  O custeio por absorção é aquele cujo procedimento possui sua aplicabilidade exigida por leis fiscais e comerciais.

 O custeio variável é aquele em que só são alocados ao produto, café, os custos variáveis, sendo os fixos registrados separadamente. Presta-se mais ao entendimento daqueles não iniciados no assunto, bem como ferramenta gerencial.

Indicamos a estruturação básica de uma DRE

  • Receita Bruta
  • (-) Deduções, abatimentos, impostos
  • (=) Receita Líquida
  • (-) CPV (Custo de produtos vendidos) ou CMV (Custos de mercadorias vendidas)
  • (=) Lucro Bruto
  • (-) Despesas com Vendas
  • (-) Despesas Administrativas
  • (-) Despesas de Depreciação/Outras
  • (-) Despesas Financeiras
  • (=) Lucro Operacional
  • (+/-) Outras Receitas/Despesas Não Operacionais
  • (=) Lucro Antes de IRPJ e CSLL
  • (-) Provisões IRPJ E CSLL
  • (=) Resultado Líquido.

Avaliando-se a estrutura de custos de produção elaborada pela Conab não concordamos com a inclusão, no total do custo variável, de despesas administrativas e financeiras entre outras. Essa entidade necessita rever os procedimentos sugeridos.

A DRE é uma fonte importante de informações para analisar o negócio mais a fundo e diagnosticar sua saúde financeira. Permite a análise horizontal que tem por objetivo verificar o aumento ou redução de cada grupo de contas ao longo dos anos, possibilitando a identificação de variações. Nessa análise, o que se busca é a comparação dos resultados para os mesmos elementos, considerando exercícios ou períodos distintos. 

A análise vertical possibilita relacionar um grupo de contas com a categoria que o integra. Além disso, essa análise oferece parâmetros de comparação entre despesas, receitas ou custos em relação ao faturamento bruto e líquido.

Dessa forma, será possível notar quais despesas contribuíram para reduzir o lucro do período.

EBITDA:  As contas constantes da DRE permitem o cálculo de uma série de indicadores que possibilitam uma melhor avaliação do negócio. Um dos mais utilizados trata-se do EBITDA que significa Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization ou Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização.

Muito utilizado na avaliação de empresas de capital aberto em bolsa, mas que pode ser útil também em empresas limitadas.

O Ebitda mede a eficiência do negócio e a capacidade de geração de caixa operacional da empresa.  Serve para identificar, como percentual da receita, empresas que sejam mais eficientes dentro de um mesmo segmento de mercado. 

Margem Operacional: Esse indicador mostra a eficiência operacional do negócio e se constitui na relação do Lucro Operacional / Receita Líquida.

Retorno Sobre as Vendas: O Retorno Sobre as Vendas, também chamado apenas de margem de lucro, mostra quanto cada venda proporcionou de lucro para a empresa.

É encontrado dividindo-se o Lucro Líquido pela Receita Bruta.

Margem de lucro líquido: A margem de lucro líquido representa a margem de lucro real do negócio, com todas as despesas e impostos subtraídos. Basta dividir o Lucro Líquido pela Receita Líquida.

OBS.: Quanto maior for o resultado do cálculo dos citados indicadores, melhor será.

Outras correlações poderão ser realizadas com as diversas contas informadas na DRE permitindo pleno conhecimento da performance alcançada.

Conclusão:

Sem a confecção da DRE impossível que o cafeicultor conheça o “quanto” a colheita propiciou de lucro ou prejuízo. Mais uma vez alertamos que embora o Fluxo de Caixa seja um orçamento importantíssimo para a gestão e processo decisório não se presta ao conhecimento do montante de lucro auferido.

Registramos, porém, que para a elaboração da DRE faz-se necessário que o cafeicultor disponha de um sistema estruturado de contabilidade.

Sugerimos que os cafeicultores passem a solicitar a seus contabilistas a elaboração da DRE de seus negócios.  

 

Marcus Fomm
34 98824 2539
marcusfomm@globo.com

* Publicado no Jornal Gazeta de Patrocinio 15 05 2021

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