Atualmente, casa gasta R$ 460 mil com o cafezinho dos parlamentares e servidores. Agora, a Câmara pretende gastar até R$ 806 mil com o produto de melhor qualidade
Mesmo em tempos de ajuste fiscal, a Câmara dos Deputados pretende gastar R$ 806 mil em 62 toneladas de café superior, também conhecido como premium, que serão consumidas por parlamentares, servidores e visitantes da casa durante um ano. Com a mudança do café comum para o superior, a Câmara poderá gastar até 86% a mais do que arca atualmente com o tradicional “cafezinho”.
A Câmara dos Deputados alega que a troca do café comum pelo café superior ocorreu após várias reclamações na Casa, principalmente dos parlamentares. A assessoria de imprensa da Casa informou que a mudança também tomou como base o custo-benefício do café superior. Segundo a Câmara, a diferença de preço entre o café comum e superior é inferior a 5%.
No entanto, o contrato em vigor para fornecimento de café comum tem custo anual de R$ 460,5 mil para aquisição de 57 mil quilos do produto. Uma média de R$ 8 por quilo do café comum. Agora, a casa pretende pagar até R$ 13 pelo quilo do produto. Uma diferença real de 62% em cada quilo de café.
Na prática, o custo total do “cafezinho da Câmara” pode saltar de R$ 460 mil anuais para até R$ 806 mil, um acréscimo de até 86%. Além disso, o preço estimado pela Câmara, em cada quilo do café superior, é aproximadamente 15% maior que o custo do produto no atacado.
De acordo com o procedimento licitatório, o café que será adquirido pela Câmara deverá ser “torrado e moído, não podendo estar alterado ou adulterado por qualquer forma ou meio, inclusive pela adição de corantes ou outros produtos que modifiquem a sua composição e não se admitindo sob qualquer forma a adição de cafés esgotados (borra de solúvel, borra de infusão de café torrado ou moído)”.
Ainda pelas especificações do edital, o café que será fornecido pela Câmara não poderá ter grau de impureza superior a 1% de sua composição, assim como o percentual máximo de umidade permitido em cada quilo do produto deverá ser de 5%, no máximo.
O café superior, agora exigido pela Câmara, está um grau acima do comum e um abaixo chamado café gourmet, conforme a classificação da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café). O café gourmet, por exemplo, tem características de aroma, acidez, amargor, entre outras mais refinadas. O chamado café premium tem amargor moderado e é livre de sabor fermentado ou mofado.
Mudança
Essa é a primeira vez que a Câmara opta café superior em vez do comum. De acordo com a Casa, em nota oficial encaminhada ao Fato Online, “há algum tempo a qualidade do café comum estava muito ruim, gerando muitas reclamações na Casa e encarecendo o processo de compra porque demandava mais e mais amostragens e relatórios de qualidade, além de causar problemas com o fornecedor”. “Ao fazer a tomada de preços para a compra do café, foi constatado que a diferença de preço do café comum para o superior é de menos de 5%”, justificou a assessoria de imprensa da Câmara. “A Câmara considerou que, pela relação custo-benefício, valeria mais a pena comprar o café superior”, complementou a Casa.
“É importante lembrar que o café não é consumido apenas pelos deputados e servidores, mas por todos os frequentadores da Câmara dos Deputados, incluindo os jornalistas, convidados para audiências públicas, representantes de empresas e entidades que acompanham as discussões e votações da Casa e público em geral”, pontuou a Câmara.
Para estimar o consumo de 62 toneladas previsto na licitação, a Câmara tomou como base a média de consumo do produto nos últimos cinco anos e adicionou a ela uma chamada “reserva de contingência” de 25%. Nos últimos cinco anos, a Câmara consumiu 50,2 toneladas por ano, em média. Isso representa 4,18 toneladas ao mês. A esse montante, o setor de licitação da casa acrescentou mais 25%, visando qualquer tipo de eventualidade.
“Essa reserva de contingência não necessariamente é pedida, mas ela já fica pré-reservada para o caso de o movimento na Casa ser superior ao esperado e o café terminar antes da nova compra”, explicou a Câmara.