Expectativa é que a demanda mantenha crescimento moderado também em 2016, devido ao atual cenário político-econômico, alcançando os 21 milhões de sacas no ano.
A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) divulgou o desempenho da produção e do consumo interno em 2015. Elaborados pela área de Pesquisa da entidade, os Indicadores do Consumo de Café no Brasil mostram um leve acréscimo, de 0,86%, nos doze meses compreendidos entre Novembro/2014 e Outubro/2015, completando 20,508 milhões de sacas. “Entretanto, o volume industrializado exclusivamente pelas empresas associadas da ABIC acusou um crescimento de 1,33%”, diz Ricardo de Sousa Silveira, presidente em exercício da entidade. Em 2014 houve uma recuperação de +1,24%, atingindo 20,333 milhões de sacas.
O consumo per capita em 2015 também aumentou ligeiramente, passando a 4,90 kg/habitante/ano de café torrado e moído (6,12 kg de café verde em grão), o equivalente a 81 litros/habitante/ano.
Para 2016, a ABIC estima que o consumo de café volte a crescer moderadamente, devido ao atual cenário político-econômico, alcançando os 21 milhões de sacas no ano. “A diversidade de produtos oferecidos, com maior qualidade, muitos deles certificados pelo PQC – Programa de Qualidade do Café da ABIC, e sustentáveis, têm mantido o interesse dos consumidores”, avalia Ricardo de Sousa Silveira.
Mercado: aumento do conilon e câmbio
O cenario do agronegocio mostra que, sob o efeito da seca e das altas temperaturas no Espírito Santo – que resultaram numa previsão de quebra da segunda safra seguida –, as cotações mundiais e internas do grão se elevaram acentuadamente. O dólar valorizado está tornando o grão brasileiro ainda mais competitivo e ampliando as exportações, inclusive do conilon. Sendo matéria-prima importante para a indústria de café, os altos preços do conilon aumentaram o custo do blend, pressionado os preços do café industrializado para os consumidores.
O café arábica tipo 6 aumentou em media 2,7%, para R$ 503,00/saca em Dezembro/2015, enquanto o café conilon variou 26,8%, para R$ 361,00/saca, no ano (dados do Informe Estatístico, do DCAF-MAPA).
Enquanto isto, segundo pesquisas na cidade de São Paulo, de Janeiro a Dezembro/2015, os preços dos cafés Tradicionais, nas prateleiras do varejo, subiram 16,1%, para R$ 16,17/kg, enquanto os cafés Gourmet aumentaram 0,3%, alcançando R$ 48,66/kg em média.
De acordo com a ABIC, as vendas do setor em 2015 podem ter alcançado R$ 7,4 bilhões. Por outro lado, a diferença dos índices de variação entre matéria-prima e o produto final evidencia que a indústria chegou ao final de 2015 com seus custos muito pressionados. “Reajustes nos combustíveis, energia elétrica, gás, câmbio e mão de obra continuarão a pressionar os custos da indústria neste início de 2016”, analisa Nathan Herszkowicz, diretor executivo da entidade.
Expectativas do setor diante da crise
O consumidor brasileiro não reduziu o consumo de café no ano 2015, mesmo diante da crise. Segundo pesquisa da ABIC com empresas associadas, feita em final de Outubro/2015, existiam as seguintes expectativas para 2016:
– 51% das indústrias acreditam em aumento do volume de vendas em 2016;
– 53% acreditam que os custos do café vão aumentar e pressionar os preços;
– 73% vão manter o quadro de funcionários;
– 50% não acreditam que a rentabilidade da empresa pode melhorar;
– 55% acham que haverá retração na economia;
– 39% entendem que a inflação será um grande desafio na administração dos negócios
– 32% apontam o custo do grão como maior desafio para recuperar rentabilidade.
Cresce consumo de café em cápsulas
A pesquisa da Euromonitor contratada pela ABIC no ano passado mostra uma elevada penetração do café entre os consumidores. Mais de 80% dos lares pesquisados tem café. Diante da crise, o comportamento geral dos consumidores tem variado com relação às marcas e tipos de café:
– Entre os consumidores que não serão afetados pela crise, 58% manterão o consumo e a marca atual;
– Entre os consumidores que podem ser afetados pela crise, 41% manterão o consumo, mas podem migrar para marcas mais baratas;
– Apesar das pessoas acreditarem que a crise não afetara o consumo, a parcela mais jovem e abaixo dos 30 anos poderá ter seu consumo afetado. Estes são os que consomem preferencialmente fora do lar;
– A pesquisa projeta um crescimento do consumo em volume, para 24 milhões de sacas em 2019;
– Consumidor fora do lar é o que mais procura por café de qualidade. A desaceleração econômica impactou este consumo, que poderá se recuperar no segundo semestre de 2016;
– Café moído e cápsulas são as estrelas do consumo dentro do lar, sendo que o café em pó representa 81% do volume total consumido e as cápsulas 0,6% em 2014, mas pode dobrar até 2019;
– Espera-se que o mercado de cápsulas triplique em valor até 2019, atingindo R$ 3,0 bilhões;
– Consumidores declaram que desejam praticidade, qualidade e diversidade no café, e a praticidade das cápsulas tem capturado os consumidores especialmente no consumo dentro do lar;
– 89% dos consumidores acima de 60 anos bebem café diariamente. Os jovens de 16 a 20 anos, têm frequência diária de 49%, com média geral de 3,7 xícaras/dia.
O consumo de café em monodoses, seja na forma de cafés expressos, seja em sachês ou em cápsulas, está crescendo acentuadamente. Segundo a pesquisa da Euromonitor, as vendas em valor das cápsulas em 2015 alcançaram R$ 1,4 bilhão, com estimativa de que atinjam R$ 2,96 bilhões em 2019. O consumo de cápsulas continuará concentrado em casa e o alto preço fora de casa é a principal razão para a queda do consumo neste segmento. “As pessoas têm procurado diferentes variações como os cafés gourmet, existindo uma consistente evolução para atender aqueles mais atentos à diferenciação de regiões, sabores, certificações, entre outros”, avalia Nathan Herszkowicz.
Marketing e Publicidade
O ritmo de crescimento do consumo interno leva a ABIC a reforçar a sua tese de que é preciso estimular a demanda de café investindo muito mais em marketing, publicidade, diferenciação e inovação de produtos. Nathan Herszkowicz observa que o comportamento dos consumidores “tem sido o de ampliar a experimentação e valorizar os produtos com melhor qualidade, certificados e sustentáveis. A publicidade institucional deve servir para orientar, educar e difundir conhecimentos sobre café e suas qualidades”.
Foi com esse objetivo que a entidade desenvolveu uma campanha de marketing em 2015, investindo cerca de R$ 2 milhões de seus próprios recursos, para enfatizar a importância da pureza e da qualidade, com destaque para o Selo de Pureza, que é um programa de Autorregulamentação que vai completar 27 anos. “A pesquisa mostrou que 48% dos consumidores entrevistados declaram que conhecem o Selo de Pureza e 78% consideram o trabalho da ABIC muito importante para estimular o consumo e a qualidade do café”, diz o diretor executivo.
Agora, a ABIC também esta debruçada na elaboração de iniciativas que destaquem os atributos do café e os seus benefícios para a saúde, energia e bem-estar, que serão os princípios a explorar, neste período pré-Olimpíadas e posteriores, de modo a criar uma relação estreita entre a vida saudável, com a energia e o prazer que o consumo de café propicia. “Os resultados dessas ações serão positivos para todos os setores”, prevê Ricardo Silveira.