Produtores de café do Brasil terão posição privilegiada na negociação de seus estoques no longo período entressafra, de outubro a maio, após a colheita da safra “de baixa” produção do ciclo bianual do arábica e com o crescimento da demanda.
A demanda global pelo produto continua crescendo apesar da turbulência econômica dos últimos anos, enquanto o crescimento da oferta continua em ritmo mais lento, com as árvores do Brasil levando tempo para responder à melhora do uso de insumos.
Corretores locais dizem que a realização de acordos entre produtores e importadores de café está cada vez mais difícil, com a volatilidade dos preços futuros levando agricultores a resistirem, com esperanças de melhores negócios.
O café do Brasil vai continuar “caro pois os produtores estão no banco do motorista. Eles estão vendendo muito pouco e estão muito disciplinados, e a demanda está grande. É um mercado dos produtores”, disse o trader John Wolthers, da Comexim.
Apertando ainda mais a situação este ano estão as previsões de aumento de 5% no consumo de café no Brasil, um grande mercado que deve superar os Estados Unidos, tirando-os do primeiro lugar no início de 2012, caso o ritmo de crescimento continue alto.
O Brasil tem demandado mais qualidade e quantidade, aumentando sua presença no mercado de bons cafés naturais e lavado. Além disso, mais consumidores entram no novo mercado de máquinas caseiras de café expresso, precisamente os tipos que os importadores mais querem.
A RC Consultores prevê que os estoques brasileiros acabem no final da temporada, que vai de julho de 2011 ao fim de junho de 2012, no mesmo nível que estavam quando a temporada começou – logo abaixo das 4 milhões de sacas.
Trabalhando com as estimativas comparativamente altas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), de produção em 49,2 milhões de sacas, a RC prevê que a quantidade será inteiramente absorvida pelas 29 milhões de sacas para exportação e 20,1 milhões de sacas para o consumo local.
Um cenário do meio do caminho, baseado em estimativas de exportadores de entre 46 milhões de sacas e 48 milhões de sacas, pode levar o mercado à uma condição de aperto ainda maior. Guilherme Braga, diretor do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafe), disse acreditar que a perspectiva de aperto da oferta, aliviada de certa forma pelo aumento dos estoques em centros importadores este ano, manteria o mercado sustentado durante a entressafra. “Isso não significa que os preços vão explodir ou cair. Essa situação deve manter os preços firmes”, disse.
Os futuros do café subiram estavelmente nas duas últimas semanas, atingindo máxima de 2 meses e meio na quinta-feira, a US$ 2,7550 por libra-peso, por compras técnicas, de especuladores e também por aquelas orientadas pelos fundamentos.
Sérgio Carvalhaes, da corretora Carvallhaes no porto de Santos, o maior para embarque de café, disse que a menor colheita deste ano resultaria em retenção e discussões acerca dos preços. As condições econômicas globais podem limitar o aumento dos preços, mas por ora, em opinião de Carvalhaes, as cotações devem continuar a tendência de alta. “Caso essa crise econômica não piore, é quase certo que o café continue subindo”, disse, acrescentando não esperar uma grande turbulência econômica.
Fonte: Reuters