RIO DE JANEIRO – Os números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes à economia brasileira no terceiro trimestre foram marcados pela palavra “recorde”. Foram registrados recordes de crescimento da economia, do investimento, do consumo das famílias. No entanto, os números acima do esperado são vistos como parte da história econômica, e não como indicativo do que virá a seguir. O Produto Interno Bruto (PIB) avançou 6,8% no terceiro trimestre em relação a igual período do ano anterior, e 1,8% ante o segundo trimestre do ano. Em valores correntes, o PIB ficou em R$ 747,337 bilhões.
No acumulado em 12 meses, o resultado de 6,3% é o mais forte de toda a série histórica do IBGE, iniciada em 1996. Se o ano tivesse terminado em setembro, o PIB teria sido de 6,4%, de acordo com o acumulado dos primeiros nove meses. Segundo cálculos feitos pelo IBGE, se o crescimento do quarto trimestre for de zero, o avanço do ano ainda seria de 4,75%, devido aos fortes números já registrados, impulsionados pelos investimentos e pelo consumo das famílias. O resultado tão forte até o momento pode ser visto pelos mais otimistas como forma de segurar um resultado minimamente satisfatório para o ano que vem. Entre pessimistas, é visto como chance de o tombo ser maior ainda, já que os números do terceiro trimestre, de julho a setembro, praticamente não incluem o período da crise, que se intensificou a partir de outubro.
O cenário nebuloso já dificulta previsões para o quarto trimestre, e mais ainda para o próximo ano. Segundo o economista da FGV, Regis Bonelli, seria razoável pensar em um crescimento de 2,5% a 3% para 2009. Para este ano, com o resultado divulgado ontem, o economista acredita em avanço de 5%, sendo conservador. “Olhar esses números é como olhar para o retrovisor, porque no último trimestre vai haver uma desacelerada muito forte no setor industrial e de serviços”, disse.
No longo prazo, comparando-se o terceiro trimestre deste ano com o do ano passado, o avanço foi espalhado pela economia, mas a formação bruta de capital fixo (FBCF) foi o principal destaque, tendo batido recorde com o avanço de 19,7%. Segundo a gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, os principais fatores para este crescimento foram o avanço, também inédito na história, de 11,7% da construção civil, que representa 40% dos investimentos, e a importação de máquinas e equipamentos, que ultrapassa o peso de 40%, adicionado à produção nacional.
A FBCF deve ser a variável que apresentará maior mudança nos próximos trimestres. Para o economista da FGV, poderá voltar a ficar próxima a um dígito, até porque a comparação será com um trimestre forte – o último do ano passado. “Esse é o elemento mais volátil dos agregados”, disse.
O avanço do investimento representou 20,5% do PIB, de acordo com cálculos feitos pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O consumo das famílias também teve impacto relevante, já que com seu peso de 60,5% é o indicador mais estável do PIB. O avanço recorde de 7,3% no trimestre pode dar indicativos de que se manterá forte. Foi o 20º aumento seguido, devido ao aumento da massa salarial real de 10,6%. Já o saldo das operações de crédito com recursos livres para pessoas físicas recuou de 33%, mas manteve-se elevado, em 29,6%.
O consumo do governo, que avançou 6,4% – e também mostra possibilidade de manter-se elevado, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – representou 18,5% do PIB. Os 0,5% do produto restantes são decorrência do saldo ainda positivo entre exportações de bens e serviços e importações, apesar dos avanços terem sido de 2% e de 22,8%, respectivamente.
Para Bonelli, há tendência de déficit nas exportações líquidas em curto prazo, porque as importações vão continuar fortes e a retração do crédito internacional vai dificultar ainda mais o avanço das exportações. Quando o número ficar negativo, será mais um fator a reduzir o avanço do PIB, conforme as expectativas para os próximos trimestres.
Do lado da oferta, a agropecuária apresentou alta de 6,4%, impulsionada por produtos como o trigo e o café, que têm projeção de crescimento de 41,3% e de 28,3% no ano, segundo dados do próprio IBGE. A indústria avançou 7,1%, impulsionada pela construção civil (11,7%) e pelo setor de extrativo mineral (7,8%). No sentido oposto, a indústria de transformação e os serviços de utilidade pública puxaram para baixo, com 5,9% e 5,7%.
Trimestre
Em relação ao segundo trimestre do ano, o PIB de 1,8% foi superior ao 1,5% esperado pelo grupo de Conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O investimento de 6,7% no trimestre foi o maior de toda a série histórica, iniciada em 1996. O crescimento do consumo das famílias foi de 2,8%, seguido pelo consumo do governo, de 1,5%. No trimestre, as exportações de bens e serviços apresentaram queda de 0,6%, ante a expressiva alta de 6,4% das importações.
Do lado da oferta, a indústria foi a que apresentou resultado mais significativo, com avanço de 2,6%, impactada pela construção civil. A agropecuária avançou 1,5%, igual ao valor adicionado sobre o produto bruto, e seguido pelos serviços, com 1,4%. Para o professor do Grupo de Conjuntura da UFRJ, Antonio Luis Licha, esses números só servem como forma de tentar calcular o PIB do ano. “Não servem para mostrar tendência, porque outubro significa ruptura com o passado”, disse. Ele não acredita sequer que o resultado sirva para planejamento de política monetária ou para a dinâmica industrial.
O economista acredita que o Banco Central vai manter a taxa de juros estável na reunião de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom), assim como na primeira reunião do ano que vem. O principal motivo é a indefinição do efeito do câmbio desvalorizado sobre a inflação, que até agora não foi pressionada. Bonelli, da FGV, também acredita na estabilidade hoje, mas deseja que a autoridade monetária indique redução no ano que vem.
Os efeitos da crise financeira, porém, levaram o Banco Mundial (Bird) a rever para baixo o crescimento econômico brasileiro em 2009, na atualização do relatório Perspectivas Econômicas Globais 2009, divulgado ontem. A estimativa do Bird no estudo divulgado no ano passado era de que o país cresceria 4,3% em 2009, mas agora o órgão estima que o Brasil avançará 2,8%.
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 6,8% no terceiro trimestre deste ano reforçou a convicção dentro do governo de que o Brasil sentirá os efeitos da crise de forma menos intensa do que as demais economias. A expansão surpreendeu analistas, que projetavam taxas bem inferiores as anunciadas. Ao comentar a expansão econômica, que ficou 1,8% acima da registrada no segundo trimestre deste ano, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o País mostra ter “musculatura” e força para enfrentar a crise. Ele aposta em um crescimento de 5% a 5,5% em 2008 e de 4% em 2009.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que o resultado do PIB “nos dá motivos objetivos para acreditar que a desaceleração econômica do Brasil será mais curta e de menor intensidade do que a de outros países. Como em trimestres anteriores, a taxa de investimentos liderou a expansão da demanda, sinalizando que a economia brasileira continua ampliando sua capacidade produtiva. O consumo das famílias também mostrou expansão importante”.
Os investimentos saltaram 19,7%. Segundo a gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, os principais fatores do crescimento foram o avanço, também inédito, de 11,7% da construção civil, que representa 40% dos investimentos, e a importação de máquinas e equipamentos, que ultrapassa o peso de 40%, adicionado à produção nacional. O consumo das famílias teve avanço recorde de 7,3% no trimestre. Foi o 20º aumento seguido, devido ao aumento da massa salarial real de 10,6%. Do lado da oferta, a agropecuária apresentou alta de 6,4%. A indústria avançou 7,1%. Os serviços de utilidade pública puxaram o avanço para baixo, com 5,7%.
Juliana Ennes
PIB de 2007 sofre revisão e País tem expansão de 5,7%
O PIB de 2007 foi na verdade maior do que se imaginava. Os dados finais só saem após a divulgação Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e, por isso, só pode ser revisto no terceiro trimestre. O crescimento da economia brasileira foi na verdade de 5,7%, e não de 5,4% como anteriormente divulgado. A maior diferença, segundo a gerente de contas trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, foi a mudança da fonte de dados sobre aluguéis, que passaram de avanço de 3,5% para 4,1%, além da inclusão dos serviços da administração pública. O avanço foi de 2,4%, antes os 0,9% registrados anteriormente.
Em outros setores, as mudanças foram menos significativas. A agropecuária passou de um avanço de 5,3% para 5,9% e o setor de serviços dos seus 4,7% para 5,4%. Já a indústria, após a revisão, reduziu seu crescimento, antes cotado em 4,9%, e agora revisto para 4,7%. Os números do PIB do 1º e do 2º trimestres também foram revistos. Nos três primeiros meses do ano, o PIB foi de 6,1%, e não de 5,9% como informado anteriormente. A principal modificação foi na agropecuária, que passou de 3% para 3,8%. No segundo trimestre, a agropecuária passou de 7,1% para 9,3%, sendo um pouco compensada pelo setor de serviços, que foi reduzido de 5,5% para 5,4%.