25/04/2014 – Acompanhe abaixo texto do analista de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, avaliando a nova subida acentuada das cotações do café no mercado internacional:
“INDICAÇÃO DE SAFRA MENOR NO BRASIL E NOVO DISPARO NAS COTAÇÕES
Enquanto as atualizações sobre o tamanho da safra brasileira continuam reduzindo as projeções de produção, o mercado de café ganha força altista e os preços avançam. A promessa de safra recorde e de produção perto de 60 milhões de sacas de 60 kg deu lugar ao aperto na produção e a constantes aumentos nas projeções de déficits produtivos. Se considerarmos que o Brasil consome, segundo a ABIC, entre 21 a 22 milhões de sacas e exporta, em anos de safra normal, perto de 30 milhões de sacas, o suprimento anual gira em torno de 51 a 52 milhões de sacas. Qualquer coisa abaixo disso representa falta de produto e a necessidade de utilização dos estoques.
Se a safra brasileira ficar entre 47 a 49 milhões de sacas, o déficit giraria entre 2 a 5 milhões de sacas. As projeções iniciais davam conta de que os estoques finais da atual temporada ficariam ligeiramente acima de 7 milhões de sacas. Enfim, um volume suficiente para atender essa lacuna na produção. Porém, esse cenário mudou bastante. Na última semana, a Volcafé, empresa do grupo ED Man, projetou safra brasileira de 45,5 milhões de sacas, ou seja, distanciando a produção mais um pouco do “breakeven” nacional, o que pode representar um déficit maior que esperado, podendo chegar a 7,5 milhões de sacas no caso brasileiro.
Mundialmente, a Volcafé projeta um déficit de 11 milhões de sacas na temporada 2014/15. É o primeiro déficit desde o ciclo 2009/10, quando a oferta global ficou abaixo da demanda em 7 milhões de sacas. Nas últimas quatro temporadas o excesso produtivo acumulou um saldo de 18 milhões de sacas. Não há sobras.
Além disso, o preço mais alto desse começo de ano fez os produtores brasileiros acelerarem as vendas, o que enxugou a oferta e deve resultar em menor disponibilidade no final da temporada. Um projeção preliminar de Safras aponta que as exportações nacionais podem chegar a 33 milhões de sacas e com isso os estoques de passagem devem cair para algo como 4 milhões de sacas. Se aprodução ficar mais próxima de 45 milhões de sacas, a conta já não fecha.
Nesse sentido, ou o consumo interno é prejudicado ou, o mais provável, o Brasil vai exportar menos.
Mas o fluxo externo mais pesado nesse final de temporada é justamente parasuprir as indústrias mundiais de origem Brasil, o que alivia a necessidade para o próximo ciclo. Mas os cenários produtivos também apontam comprometimento da safra 2015/16. Sem estoques e diante de novo déficit produtivo nacional, o aperto no abastecimento deve ser ainda maior. Quem vai preencher esse vácuo produtivo do Brasil? Será preenchido? Em resumo, o quadro fundamental se inverteu e sustenta o avanço das cotações.
Café encontra apoio fundamental e rompe resistência de 210 cents
Esse novo empurrão fundamental ajudou o café a romper resistências, com vencimento julho-14 indo além de 210 centavos de dólar por libra-peso na ICE Futures em Nova York. E a confirmação da vitória sobre essa barreira serve de
ânimo para novas investidas altistas. O produtor ficou mais otimista.
Mercado, entretanto, segue aberto a inconstâncias e volatilidades. Novos
números de produção ainda devem mexer com o humor dos investidores. Mas,
mesmo oscilante, o café sustenta uma trajetória positiva, diante de um fundamental que a cada dia que passa informa com mais veemência sobre a carência produtiva no Brasil.
Arábica dispara e arbitragem ICE/LIFFE vai a 115 cents
O preço do robusta anda de forma lateral, enquanto o arábica volta a subir forte, o que aumenta a distância positiva do segundo em relação ao primeiro. A valorização do arábica fez crescer a vantagem do arábica, com a arbitragem ICE/LIFFE no Julho-14 subindo a 115 cents/lb. Está bem acima de igual época do ano passado, quando girava em torno de 59 cents e também superior à média dos últimos 12 meses, em 56 cents/lb.
Essa diferença em favor do arábica deve elevar o interesse das indústrias pelo robusta. Talvez, até em uma nova etapa nas mudanças da composição dos blends mundiais. Interessante notar que a participação arábica/robusta no mercado já foi 70/30 e atualmente encontra-se em 60%/40%.
Essa perda de participação do arábica tem sido uma marca no mercado nas
últimas décadas. Mas até onde isso pode ir? Só o consumidor pode responder.
Enquanto não houver reclamações, a indústria segue fazendo adaptações. E,
diante de uma crise econômica, a qualidade, muitas vezes, é deixada de lado,
na busca de preços mais acessíveis.
Já a arbitragem entre ICE/BM&F para o arábica com vencimento em
setembro/14 voltou a fortalecer, fechando a última terça-feira a US$ 24,03 a
saca de 60 kg, contra US$ 22,22 a saca do período anterior. Foi uma semana mais
curta, mas de oscilações e valorização externa no café, com mercado exerno
descolando ligeiramente por conta da safra nacional que se aproxima.
E a curva de spread dos contratos de café arábica na ICE em NY sustenta
uma inclinação positiva, mais acentuada nos vencimentos mais próximos. E essa
diferença, que uma semana atrás era superior a 1%, caiu para 0,94% a 0,97% no
encerramento do pregão da última terça-feira. O spread positivo segue até o
vencimento março/15, depois o mercado inverte e assume uma trajetória
negativa.”
Fonte : Safras & Mercado