Os estoques de café do Brasil, que estão no patamar mais baixo da história, lembraram ao mercado sobre o tênue equilíbrio entre a oferta e a demanda no maior produtor mundial, disseram fontes do setor.
Nesta segunda-feira, a estatal Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) anunciou seu levantamento anual de estoques privados, que apontou 10,36 milhões de sacas (60 kg) em 31 de março, queda expressiva em relação ao ano passado (17,5 milhões).
“Existe um equilíbrio precário entre produção, estoque e consumo. Se algum dia tiver uma falha na produção mundial de um lado, os estoques aí não vão ser suficientes”, disse o corretor Eduardo Carvalhaes Júnior, com sede em Santos (SP).
Carvalhaes lembrou, por telefone, que o consumo interno e as exportações do Brasil em abril, maio e junho devem ficar em torno de 10,5 milhões de sacas, o que apenas não zeraria os estoques, em tese, porque a nova safra (2008/09, julho a junho) já começa a ser colhida mais intensamente no mês atual.
“O Brasil, no ano safra que começa em 1º de julho, vai ter que contar apenas com a produção do ano para atender as necessidades de exportação e consumo. Se (a safra) ficar um pouco acima, como parece que vai ficar, sobra um pouco para o outro ano, que vai ser um ano de safra menor (de baixa no ciclo bianual do arábica)”, acrescentou ele.
A Conab estima a safra em 2008/09, um ano de alta do ciclo do arábica, em 45,5 milhões de sacas. Mas o mercado estima uma produção de pelo menos 50 milhões de sacas.
Ele explicou que o excedente de 08/09 poderia complementar as necessidades do mercado em 2009/10, quando haverá o ano de baixa do ciclo bianual do arábica, mas o Brasil continuaria, mesmo assim, da “mão para a boca”.
Essa condição apertada, no passado, costumava ser aliviada por estoques governamentais, o que não é o caso atual, uma vez que o governo adotou a política de acabar com o produto em suas mãos há alguns anos e contava apenas com 718 mil sacas em 31 de março, ante 1,8 milhão de sacas na mesma data do ano passado.
“O estoque está desaparecendo mais rapidamente do que o esperado, o consumo interno está crescendo, e deixa o estoque mundial, assim como em outras commodities, perigosamente baixo. Isso pode ter influência no preço inclusive”, disse Linneu da Costa Lima, ex-secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, cafeicultor e especialista no setor.
“É o mais baixo estoque da história, pelo que eu conheço. O Brasil chegou a ter 20 milhões de sacas (em estoques), o Brasil tinha uma safra inteira em estoque, agora vamos para zero? E se acontecer uma seca, uma geada? O Brasil vai ter que importar café para tomar?”
Maior renda
Lima disse ainda que preços mais estimulantes seriam parte da solução para a recuperação dos estoques e lembrou ainda que o câmbio no País é outro fator que afeta os ganhos do setor.
“Fizemos um esforço danado, conseguimos recuperar o preço em dólar, e aí cai o dólar? Deus dá a farinha, o diabo leva o saco”, comentou.
O Conselho Nacional do Café (CNC), que representa o setor produtivo, também destacou a necessidade de políticas para reverter a situção, “de maneira que sejam possibilitados a permanência do produtor na atividade e, principalmente, o aumento da produtividade dos cafezais”.
O governo vem trabalhando junto ao setor produtivo para tentar garantir a renda. Para 08/09, deverá ser reeditado o leilão de Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor), ferramenta que contará com R$ 300 milhões, ante R$ 200 milhões no ano passado – as regras do mecanismo ainda não foram formatadas, no entanto. O segmento também reivindica os leilões de Opções Públicas, por meio do qual o governo entra comprando o produto, garantindo uma remuneração mínima.
Ainda segundo o Ministério da Agricultura, já foram liberados R$ 451 milhões do Funcafé para financiar a colheita, do total de R$ 496 milhões.