Análise da Semana: Fundamentos se fortalecem e empurram preços

Rio de Janeiro, 04 de Novembro de 2005 (Exclusivo para Revista Cafeicultura)

4 de novembro de 2005 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: Miguel Barbosa*

Bem que o mercado tentou derrubar. Na segunda-feira, quando se verificou que o furacão Beta havia minguado e causado apenas estragos localizados no litoral da Nicarágua, sem maiores danos para a produção de café da América Central, as cotações internacionais caíram brutalmente, desanimando produtores e traders que ainda acreditavam num mercado firme.


 


Veio o feriado de quarta-feira, dia dos mortos, e os produtores foram, melancolicamente, visitar seus parentes falecidos, talvez pedindo aos espíritos que intercedessem junto aos misteriosos desígnios das bolsas de mercadorias.


 


A reza foi forte e deu certo. O dia amanheceu glorioso para o café na quinta-feira 03. O café voltou a se estabilizar acima do 1 dólar por libra, nível psicológico importantíssimo para produtores voltarem a se entusiasmar com a atividade.


 


Alguns traders seguem confusos com a suposta contradição entre o fato do Brasil estar prestes a colher uma safra próxima de 50 milhões de sacas no ano que vem e a tendência altista das cotações internacionais. É que eles não entenderam o mais importante: o que vale não é o tamanho da safra, e sim a relação consumo e produção.


 


O fato é que a demanda mundial cresceu de maneira impressionantemente nos últimos anos, e continua crescendo. Na Conferência Mundial do Café, que ocorreu em setembro em Salvador, diversos representantes de grandes indústrias afirmaram que a previsão é que o consumo mundial chegue a 120 milhões de cinco anos.


 


Segundo o site CoffeeNetwork, a projeção para 2005/06 é de um consumo mundial de 116,8 milhões de sacas, contra uma produção global de 111,8 milhões. Esse déficit, de cinco milhões, é que estaria levando as exportações mundiais a caírem tão fortemente nos últimos meses.


 


Em setembro, os embarques mundiais de café caiu 10% em relação ao mesmo mês de 2004. A exportação mundial de 5,9 milhões de sacas, segundo a OIC, configura um número muito menor que a demanda nos países importadores. Afinal, se esses países consomem cerca de 90 milhões de sacas (os países produtores consomem outras 24 milhões de sacas), a exportação mundial teria que ficar em torno de 7,5 milhões de sacas por mês apenas para atender as necessidades mais urgentes.


 


Para outubro, tudo indica que haverá uma queda ainda mais violenta das exportações mundiais. As indústrias de torrefação já estão ficando nervosas com a possibilidade de faltar café e estão entrando nas bolsas com agressividade, aquecendo o mercado e fazendo os preços subirem.


 


Nesta sexta-feira, 04 de novembro, os contratos de dezembro na bolsa de Nova York, ainda os mais negociados, fecharam com ligeira alta de 15 pontos sobre a véspera, após baterem a marca recorde de 105 centavos de dólar. Enfim, encerraram a 103,90 centavos de dólar por libra.


 


Operadores da Bolsa de Nova York disseram que, em vista desta impressionante reversão de tendência, por sua vez embasada em sólidos fundamentos, o mercado poderá testar novos patamares na semana que vem, rompendo a barreira dos 106 e mesmo dos 108 centavos de dólar.


 


Ao produtor, resta a decisão de vender o café no melhor momento possível, mas sempre aproveitando os momentos de pico para fazer capital e diluir riscos.


 


As exportações brasileiras de outubro, na esteira do resto do mundo, deverão registrar uma queda de quase 30% sobre o mesmo mês do ano passado, ficando em torno de 1,82 milhão de sacas, contra 2,55 milhões de sacas em outubro de 2004.


 





* Miguel Barbosa, 30 anos, é editor do site Coffee Business e do Anuário Estatístico do Café. Também é repórter e colunista de CoffeeNetwork.


 


coffee@coffeebusiness.com.br
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