Nestes dois últimos meses, em dezembro de 2015 e janeiro de 2016, muitos cafeicultores consultaram sobre o que vem acontecendo em suas lavouras, com o aparecimento de cafeeiros bem amarelados, de forma anormal.
Por José Braz Matiello, Saulo R. Almeida e Allysson V. Fagundes – engenheiros agrônomos da Fundação Procafé
Nestes dois últimos meses, em dezembro de 2015 e janeiro de 2016, muitos cafeicultores consultaram sobre o que vem acontecendo em suas lavouras, com o aparecimento de cafeeiros bem amarelados, de forma anormal.
As observações feitas em campo vêm esclarecer as causas do amarelão. Os sintomas de amarelecimento foram verificados tanto em algumas plantas, em manchas, de alguns talhões, em cafeeiros isolados e, mesmo, em apenas certas partes das plantas. A identificação dos sintomas e as análises foliares realizadas indicaram tratar-se de deficiência de ferro, esta aparecendo de forma induzida.
Nas plantas com partes amareladas sempre estavam visíveis os sintomas, mais presentes nas folhas novas, que apresentavam todo o limbo amarelado, até esbranquiçado, mas sempre as nervuras formando um rendilhado, que se mantinha verde, típico da deficiência de ferro. É conhecido que essa deficiência se mostra associada à também deficiência de manganês, porém, nos casos observados, não se notou os sintomas de deficiência desse nutriente. As análises foliares mostraram níveis de ferro inferiores a 20 ppm nesse material coletado, portanto bastante deficiente pois o nível adequado se situa em torno de 100 ppm.
Constatada a natureza do amarelão, agora resta analisar as causas do problema. Pode-se verificar que a carência de ferro em cafeeiros pode ser induzida por quatro tipos de fatores, isolados ou em conjunto. Dois são mais presentes. O primeiro por excesso de correção do solo, normalmente de forma localizada, em manchas onde se usou calcário demais e onde o pH se encontra muito alto, indisponibilizando o ferro. O segundo ocorre pelo excesso de umidade no solo, provocado ou por área com má drenagem natural ou por chuva excessiva, continuada. Com pouco ar no solo o ferro não se oxida e, assim, fica menos disponível para a planta.
Duas causas menores também levam à indução da deficiência de ferro. A primeira ocorre por toxidez de glifosato, restrita às folhas da saia do cafeeiro, e a segunda, por ataque severo de pragas de raízes.
Neste ano, observou-se que a causa mais comum do amarelão foi uma associação de efeitos, com o excesso de chuva combinado com alguns locais que já vinham com um nível de correção de solo excessiva.
O que fazer com o amarelão – no geral não é preciso fazer nada, basta esperar que cesse a condição de indução da deficiência de ferro. Só em casos excepcionais, onde o problema ocorre em toda a lavoura, seria indicado usar uma pulverização com sulfato ferroso. O uso de adubos acidificantes já, por si, vai corrigir o pH. Caso se observe a falta de drenagem grave uma subsolagem, mais adiante, pode corrigir o problema. Uma análise de solo no pós-colheita vai mostrar a situação de necessidade de uso ou não de corretivos, evitando o agravamento da situação do pH alto…