O estresse térmico e hídrico no período de enchimento dos grãos pode resultar em grãos chochos e no temido “coração negro”, afetando a qualidade e o rendimento da próxima colheita.
Antonio Sergio Souza | Revista Cafeicultura
O mês de fevereiro de 2025 foi marcado por temperaturas acima da média e uma severa falta de chuvas nas principais regiões cafeeiras do Brasil. Esse cenário climático desafiador ocorre justamente em um período crítico do desenvolvimento do café: a fase de enchimento dos grãos. Especialistas alertam que o estresse térmico e hídrico pode levar à formação de grãos chochos e ao chamado “coração negro”, comprometendo ainda mais a próxima safra.
O enchimento do grão é um dos estágios finais do ciclo fenológico do cafeeiro, caracterizado pelo acúmulo de matéria seca nos grãos em desenvolvimento. Para que esse processo ocorra de forma eficiente, a planta necessita de um suprimento adequado de água e nutrientes essenciais, como:
Além da nutrição, a água desempenha um papel fundamental na translocação desses nutrientes e na manutenção da turgescência das células, permitindo o enchimento adequado dos frutos.
Sob condições normais, os nutrientes e açúcares são transportados das folhas e ramos para os frutos por meio do floema. No entanto, com o estresse térmico e hídrico, o cafeeiro adota mecanismos de defesa para minimizar a perda de água, como o fechamento dos estômatos – estruturas responsáveis pela troca gasosa e controle da transpiração. Esse fechamento impede a absorção e translocação de nutrientes para os grãos, resultando em uma nutrição deficiente e afetando diretamente o processo de enchimento.
Com a deficiência de nutrientes e água, os frutos de café podem sofrer um desenvolvimento irregular, originando grãos chochos. Em casos mais severos, ocorre a formação do chamado “coração negro” – uma necrose interna do grão, resultado do colapso celular causado pelo estresse hídrico extremo.
A baixa qualidade e a redução do peso dos grãos impactam diretamente o rendimento da safra. Além disso, uma maior proporção de grãos defeituosos pode comprometer a classificação final do lote, afetando a comercialização e os preços pagos aos produtores.
Diante desse cenário, estratégias como irrigação suplementar, manejo nutricional adequado e práticas conservacionistas do solo, como cobertura vegetal e uso de matéria orgânica, são fundamentais para mitigar os efeitos do estresse hídrico e térmico no cafeeiro.
O alerta está lançado: se o clima continuar desafiador nos próximos meses, a safra de 2025 poderá sofrer perdas ainda mais significativas.