De acordo com o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, a alta do café in natura não era esperada pelo setor. Por isso, algumas indústrias terão o índice de reajuste superior. A expectativa da associação é de que a elevação varie entre 20% e 35% ao longo do ano.
"Os preços subiram substancialmente, e as empresas que não tinham estoques de matéria-prima sofreram um impacto maior, sendo necessário um ajuste mais significativo nos valores do produto final", observou.
Os preços do café in natura para a indústria subiram mais de 100% desde dezembro de 2013. Segundo Herszkowicz, no último mês do ano passado as indústrias conseguiam adquirir a saca de 60 quilos por cerca de R$ 220 e, hoje, o mesmo volume está em torno de R$ 450, mais que o dobro.
"A indústria não suporta um aumento tão expressivo da matéria-prima, que corresponde a 60% do preço final do café. Essa elevação é conseqüência da seca e da altas temperaturas, fatores que acabaram prejudicando a safra que está começando a ser colhida. O que sabemos, até o momento, é que teremos uma safra bem menor e com a qualidade comprometida, já que os grãos não se desenvolveram bem e a maturação ocorreu de forma irregular", disse.
Somente em Minas Gerais, maior Estado produtor, as perdas iniciais estimadas pela Fundação Procafé podem chegar a 22% em relação ao primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com a produção prevista, agora, entre 19,77 milhões e 20,97 milhões de sacas. Antes da interferência negativa do clima, a expectativa era colher entre 25,8 milhões e 27,4 milhões de sacas de 60 quilos.
Demanda
Mesmo com o aumento do preço do café para o consumidor final, a expectativa da Abic é de que a demanda continue em alta. A estimativa é encerrar o ano com um consumo 3% a 4% superior ao registrado em 2013.
"Todo aumento de custo interfere na demanda. Por isso, optamos pelo repasse gradual, o que provocará um impacto menor para o consumidor. O café, ao longo dos últimos anos, não registrou incrementos significativos nos preços para o mercado final, o que deve contribuir para a manutenção do crescimento do consumo", disse.
Outros fatores como o aumento do número de cafeterias no país, a produção maior de cafés gourmets e a melhoria da qualidade também têm contribuído para que o consumo nacional mantenha o ritmo de crescimento.
"A diversificação e a melhor qualidade do café têm estimulado o aumento da demanda pela bebida, principalmente entre os jovens, que consomem o café no lar e fora. Isso é essencial para a evolução do setor. Neste ano, devido à seca, a qualidade dos grãos pode ser inferior. Por isso, a Abic irá atuar com maior rigor na avaliação dos cafés produzidos pelas indústrias e na concessão do selo de qualidade. Esse posicionamento é importante para a manutenção da qualidade, que é muito valorizada pelo consumidor final", acrescentou.