São Paulo, 13 de março de 2014
Qual é a importância de um microssegundo? No mundo
dos investidores de alta frequência, um
milionésimo de segundo pode fazer toda a diferença.
Em seu novo livro Flash
Boys
, o escritor
americano Michael Lewis mostra qual foi o impacto d
o avanço dos computadores e da comunicação no
mercado financeiro.
O impacto foi basicamente ruim, na visão do livro.
Os sistemas de negociação eletrônica criaram
um novo tipo de atravessador, os investidores de al
ta frequência, que usam sistemas computacionais
supervelozes e, em frações de segundos, se aproveit
am da informação obtida para se antecipar aos
outros.
O processo de substituição de pessoas por computado
res nas bolsas americanas foi concluído em
2007. Entre as histórias contadas por Lewis, está a
da criação da Spread Networks, conexão de fibra
óptica quase em linha reta entre a Bolsa de Nova Yo
rk e a Bolsa de Mercadorias de Chicago, que
conseguiu reduzir a velocidade de comunicação entre
elas a 13 milissegundos (milésimos de segundo).
As velocidades oferecidas pelas operadoras convenci
onais chegavam a 17 milissegundos.
Esse foi só o começo da corrida para ganhar frações
de segundo. Os Estados Unidos têm 13
bolsas e mais de 40 “dark pools” (ambientes privado
s de negociação de ações). Os negociadores de alta
frequência tiram vantagem da diferença de velocidad
e com que outros investidores conseguem chegar a
cada um desses mercados. Uma das principais estraté
gias desses investidores super-rápidos é deixar à
venda pequenos blocos de 100 ações de cada empresa
em cada um desses mercados.
Quando um investidor quer comprar um bloco grande d
e papéis (por exemplo, de 10 mil ações),
o negociador de alta frequência fica sabendo ao ven
der o primeiro bloco de 100 ações e, com seu
sistema de alta velocidade, consegue comprar todos
os papéis disponíveis nos outros mercados,
elevando o preço das ações antes de revender para o
verdadeiro interessado.
Os ganhos costumam ser pequenos, de US$ 0,01 por pa
pel. Mas o volume é tão grande que,
segundo Lewis, somente uma das estratégias usadas p
or esses investidores, de arbitragem de preços em
“dark pools”, pode render, por ano, US$ 1 bilhão. O
autor mostra os investidores de alta frequência
como predadores. Segundo ele, é um tipo de intermed
iação que não beneficia o mercado nem facilita os
negócios.
O “herói” do livro é Brad Katsuyama, criador da IEX
, uma bolsa eletrônica desenhada para
impedir que os negociadores de alta frequência tire
m vantagem de suas conexões super-rápidas. A IEX,
por exemplo, não oferece co-location. Nesse serviço
, outras bolsas alugam espaço para que investidores
coloquem seus computadores do lado dos servidores d
as próprias bolsas, para ter acesso mais rápido à
informação.