Economia
Ana Esteves
Não fossem os altos custos dos insumos agrícolas, especialmente dos fertilizantes – alvos de uma CPI na Assembléia Legislativa do Estado -, o Plano Agrícola e Pecuário 2008/2009 teria uma maior aceitação por parte das lideranças gaúchas. Mas o termômetro não passou de razoável a insuficiente. Essa foi a avaliação por representantes do setor primário sobre os R$ 78 bilhões do Plano Agrícola e Pecuário 2008/2009, que será lançado oficialmente amanhã pelo Ministério da Agricultura. Desse total, R$ 65 bilhões serão destinados à agricultura empresarial, com incremento de R$ 7 bilhões em relação ao pacote agrícola do ano passado e outros R$ 13 bilhões para a agricultura familiar e assentados da reforma agrária, com acréscimo de R$ 1 bilhão para essas duas categorias.
Para o presidente da Farsul e da Comissão Nacional de Crédito Rural da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Carlos Sperotto, para que o Brasil possa continuar como um dos países mais bem cotados para suprir a demanda cada vez mais crescente dos estoques mundiais de alimentos, seria preciso um aporte de recursos bem superior. “Acredito que o governo vai rever esses valores iniciais, pois esses R$ 65 bilhões me causaram estranheza”, declarou Sperotto. Segundo ele, após a realização de workshops para evidenciar as demandas regionais, o setor agrícola concluiu que seria necessária a liberação de pelo menos R$ 110 bilhões para esta safra.
O dirigente acrescenta que o Brasil conta hoje com 55 milhões de hectares plantados, com possibilidade de cultivar outros 77 milhões, mas que isso só será possível com uma oferta maior de crédito rural. “Temos clima, solo, mão-de-obra capacitada, tecnologia de primeiro mundo e área extra, mas precisamos de repasses à altura”, declarou. Sperotto não se mostrou satisfeito com a taxa de juros para a agricultura empresarial, fixada em 6,75% ao ano. “Nos Estados Unidos a taxa é de 2% ao ano para qualquer investimento”, complementou. Na opinião do presidente da Farsul, é preciso que sejam lançadas ações separadas por parte do governo no sentido de buscar alternativas para o problema da alta constante dos insumos agrícolas. “A redução de juros seria uma maneira de compensar a valorização de 150% nos preços dos insumos agrícolas no acumulado dos últimos meses”, acredita ele.
Para o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetag/RS), Sérgio de Miranda, o total destinado aos pequenos agricultores, com o incremento de R$ 1 bilhão ficou dentro do demandado durante o Grito da Terra 2008. No entanto, ele ressalta que já é possível falar em defasagem, em função dos constantes aumentos dos preços dos insumos e, conseqüentemente, dos custos de produção. “Não temos como prever o quanto mais possa ser necessário agregar aos R$ 13 bilhões, mas contamos com a promessa do presidente Lula, de que, caso necessário, haverá complemento.”
A taxa de juros de custeio para as pequenas propriedades, que ficarão entre 1,5% e 5,5% ao ano, fugiram da expectativa da Fetag que esperava taxa zero. A grande dúvida agora é com relação ao anúncio dos preços mínimos dos produtos agrícolas. “Ficamos satisfeitos com o valor mínimo para o feijão, em R$ 90,00 a saca, e aguardamos que os outros produtos também tenham um incremento”, salientou.
Com o Plano Agrícola e Pecuário o governo quer garantir um aumento de 18 milhões de toneladas de produção até 2010, principalmente em leite, milho, feijão, arroz, mandioca, trigo, aves, café, frutas, arroz e cebola.
Setor vitivinícola protesta
para evitar colapso em 2009
Giuliano Mendes
A crise no setor vitivinícola brasileiro, que já se arrasta há quatro anos, vai desencadear um protesto com mais de duas mil pessoas na quinta-feira em diversos locais de Porto Alegre. O setor vai entregar uma série de reivindicações ao governo gaúcho para evitar um colapso. Segundo o presidente da Câmara Setorial da Uva e do Vinho, Hermes Zaneti, a previsão para a safra de 2009 é de que 150 milhões de quilos de uva deixem de ser colhidas de um total de 600 milhões de quilos de 20 mil famílias de viticultores. “Esta paralisação vai prejudicar o trabalho de toda a cadeia, pois muitos produtores dependem da produção”, alerta Zaneti. O Movimento em Defesa da Uva e dos Vinhos do Brasil surgiu há três meses e esta será a primeira ação conjunta.
Um encontro com o presidente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado estadual Alceu Moreira (PMDB), já está confirmado para as 13h30min. Os líderes do movimento também esperam conseguir, no mesmo dia, uma audiência com a governadora Yeda Crusius. Na ocasião, os representantes do movimento entregarão um documento com a pauta de reivindicações do setor. Entre elas, destaque para antigas bandeiras de luta, como a tributação excessiva dos vinhos e espumantes brasileiros, e o crescimento das importações, facilitado pela taxa cambial e por acordos internacionais que beneficiam os produtos estrangeiros.
A participação de vendas de vinhos finos importados e espumantes vem aumentando em relação aos nacionais. Cerca de 80% do mercado nacional é dominado pelos produtos oriundos de outros países. De um total de 77,5 milhões de litros de vinhos finos comercializados no ano passado, apenas 19,5 milhões foram da bebida nacional, enquanto em 2001 este número chegava a 25,9 milhões de litros. Por isso, o setor quer estabelecer limites para a entrada do produto oriundo de outros países. Como o Chile não participa do Mercosul, a Tarifa Externa Comum (TEC) – taxa paga para um determinado produto entrar no Brasil – chega a 13,5%, enquanto dos demais países do Mercosul é de 27%. “Este acordo feito com o Chile ainda no governo FHC só piorou a nossa situação. Queremos que pelo menos a TEC seja a mesma para todos”, afirma o dirigente.
Com o recuo no consumo do produto nacional, os estoques do governo estão com um excedente de 100 milhões de litros para serem leiloados, equivalente a 130 milhões de quilos de uva. Para amenizar essa situação, o setor exige que os estoques sejam reduzidos em 25% através de leilões da Conab e que ocorra formação de estoques reguladores para garantir a colocação total da próxima safra de uvas.
Outra reivindicação é fixar um imposto para o vinho importado de países de fora do Mercosul em até R$ 15,00 o litro. Essa medida tem o objetivo de dificultar a entrada do produto de menor qualidade e estimular a importação do vinho considerado superior. Além da concorrência com o importado, o setor ainda tem que enfrentar o contrabando. Hoje entram ilegalmente no País 15 milhões de litros de vinho, o que representa a venda de 700 vinícolas gaúchas. Conforme Zaneti, o governo deveria intensificar as fronteiras para que interrompesse essa atividade e não prejudicasse a cadeia com medidas que limitem o consumo, como a lei de tolerância zero aos condutores de veículos.
ECONOMIA
01/07/2008
Alta dos insumos reduz benefícios do Plano Safra
1/7/2008
Ana Esteves
Não fossem os altos custos dos insumos agrícolas, especialmente dos fertilizantes – alvos de uma CPI na Assembléia Legislativa do Estado -, o Plano Agrícola e Pecuário 2008/2009 teria uma maior aceitação por parte das lideranças gaúchas. Mas o termômetro não passou de razoável a insuficiente. Essa foi a avaliação por representantes do setor primário sobre os R$ 78 bilhões do Plano Agrícola e Pecuário 2008/2009, que será lançado oficialmente amanhã pelo Ministério da Agricultura. Desse total, R$ 65 bilhões serão destinados à agricultura empresarial, com incremento de R$ 7 bilhões em relação ao pacote agrícola do ano passado e outros R$ 13 bilhões para a agricultura familiar e assentados da reforma agrária, com acréscimo de R$ 1 bilhão para essas duas categorias.
Para o presidente da Farsul e da Comissão Nacional de Crédito Rural da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Carlos Sperotto, para que o Brasil possa continuar como um dos países mais bem cotados para suprir a demanda cada vez mais crescente dos estoques mundiais de alimentos, seria preciso um aporte de recursos bem superior. “Acredito que o governo vai rever esses valores iniciais, pois esses R$ 65 bilhões me causaram estranheza”, declarou Sperotto. Segundo ele, após a realização de workshops para evidenciar as demandas regionais, o setor agrícola concluiu que seria necessária a liberação de pelo menos R$ 110 bilhões para esta safra.
O dirigente acrescenta que o Brasil conta hoje com 55 milhões de hectares plantados, com possibilidade de cultivar outros 77 milhões, mas que isso só será possível com uma oferta maior de crédito rural. “Temos clima, solo, mão-de-obra capacitada, tecnologia de primeiro mundo e área extra, mas precisamos de repasses à altura”, declarou. Sperotto não se mostrou satisfeito com a taxa de juros para a agricultura empresarial, fixada em 6,75% ao ano. “Nos Estados Unidos a taxa é de 2% ao ano para qualquer investimento”, complementou. Na opinião do presidente da Farsul, é preciso que sejam lançadas ações separadas por parte do governo no sentido de buscar alternativas para o problema da alta constante dos insumos agrícolas. “A redução de juros seria uma maneira de compensar a valorização de 150% nos preços dos insumos agrícolas no acumulado dos últimos meses”, acredita ele.
Para o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetag/RS), Sérgio de Miranda, o total destinado aos pequenos agricultores, com o incremento de R$ 1 bilhão ficou dentro do demandado durante o Grito da Terra 2008. No entanto, ele ressalta que já é possível falar em defasagem, em função dos constantes aumentos dos preços dos insumos e, conseqüentemente, dos custos de produção. “Não temos como prever o quanto mais possa ser necessário agregar aos R$ 13 bilhões, mas contamos com a promessa do presidente Lula, de que, caso necessário, haverá complemento.”
A taxa de juros de custeio para as pequenas propriedades, que ficarão entre 1,5% e 5,5% ao ano, fugiram da expectativa da Fetag que esperava taxa zero. A grande dúvida agora é com relação ao anúncio dos preços mínimos dos produtos agrícolas. “Ficamos satisfeitos com o valor mínimo para o feijão, em R$ 90,00 a saca, e aguardamos que os outros produtos também tenham um incremento”, salientou.
Com o Plano Agrícola e Pecuário o governo quer garantir um aumento de 18 milhões de toneladas de produção até 2010, principalmente em leite, milho, feijão, arroz, mandioca, trigo, aves, café, frutas, arroz e cebola.
Setor vitivinícola protesta
para evitar colapso em 2009
Giuliano Mendes
A crise no setor vitivinícola brasileiro, que já se arrasta há quatro anos, vai desencadear um protesto com mais de duas mil pessoas na quinta-feira em diversos locais de Porto Alegre. O setor vai entregar uma série de reivindicações ao governo gaúcho para evitar um colapso. Segundo o presidente da Câmara Setorial da Uva e do Vinho, Hermes Zaneti, a previsão para a safra de 2009 é de que 150 milhões de quilos de uva deixem de ser colhidas de um total de 600 milhões de quilos de 20 mil famílias de viticultores. “Esta paralisação vai prejudicar o trabalho de toda a cadeia, pois muitos produtores dependem da produção”, alerta Zaneti. O Movimento em Defesa da Uva e dos Vinhos do Brasil surgiu há três meses e esta será a primeira ação conjunta.
Um encontro com o presidente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado estadual Alceu Moreira (PMDB), já está confirmado para as 13h30min. Os líderes do movimento também esperam conseguir, no mesmo dia, uma audiência com a governadora Yeda Crusius. Na ocasião, os representantes do movimento entregarão um documento com a pauta de reivindicações do setor. Entre elas, destaque para antigas bandeiras de luta, como a tributação excessiva dos vinhos e espumantes brasileiros, e o crescimento das importações, facilitado pela taxa cambial e por acordos internacionais que beneficiam os produtos estrangeiros.
A participação de vendas de vinhos finos importados e espumantes vem aumentando em relação aos nacionais. Cerca de 80% do mercado nacional é dominado pelos produtos oriundos de outros países. De um total de 77,5 milhões de litros de vinhos finos comercializados no ano passado, apenas 19,5 milhões foram da bebida nacional, enquanto em 2001 este número chegava a 25,9 milhões de litros. Por isso, o setor quer estabelecer limites para a entrada do produto oriundo de outros países. Como o Chile não participa do Mercosul, a Tarifa Externa Comum (TEC) – taxa paga para um determinado produto entrar no Brasil – chega a 13,5%, enquanto dos demais países do Mercosul é de 27%. “Este acordo feito com o Chile ainda no governo FHC só piorou a nossa situação. Queremos que pelo menos a TEC seja a mesma para todos”, afirma o dirigente.
Com o recuo no consumo do produto nacional, os estoques do governo estão com um excedente de 100 milhões de litros para serem leiloados, equivalente a 130 milhões de quilos de uva. Para amenizar essa situação, o setor exige que os estoques sejam reduzidos em 25% através de leilões da Conab e que ocorra formação de estoques reguladores para garantir a colocação total da próxima safra de uvas.
Outra reivindicação é fixar um imposto para o vinho importado de países de fora do Mercosul em até R$ 15,00 o litro. Essa medida tem o objetivo de dificultar a entrada do produto de menor qualidade e estimular a importação do vinho considerado superior. Além da concorrência com o importado, o setor ainda tem que enfrentar o contrabando. Hoje entram ilegalmente no País 15 milhões de litros de vinho, o que representa a venda de 700 vinícolas gaúchas. Conforme Zaneti, o governo deveria intensificar as fronteiras para que interrompesse essa atividade e não prejudicasse a cadeia com medidas que limitem o consumo, como a lei de tolerância zero aos condutores de veículos.