Robson Bertolino
Os aumentos de preços das commodities agrícolas, principalmente soja, café e milho deverá acelerar a inflação com impacto direto no bolso do consumidor no começo do segundo semestre. Porém, a alta não seria suficiente para ultrapassar a meta do Banco Central (4,5% ao ano), o que traria conseqüências mais graves, como um possível fim nas reduções nas taxas de juros.
A afirmação é sustentada por economistas ouvidos pela reportagem do DCI, que creditam fatores como a entressafra agrícola, a grande quantidade de chuvas, estoque baixos e preços nacionais e internacionais valorizados, como as principais causas da alta.
“A previsão é de que com a entressafra da soja e do café, por exemplo, no final do segundo trimestre, os preços subam e o impacto no atacado e no varejo aconteçam, pois a produção não será o suficiente para atender a demanda do mercado interna”, diz Edgard Pereira economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
O consumidor final sentirá o impacto da alta dos preços entre julho e agosto, meses em que as chuvas diminuem e a seca predomina nos principais pólos produtores de commodities do País.
Para o atacado a pressão deve vir no final do primeiro semestre. “A alta dos preços afeta o custo de vida do brasileiro. O estoque e a produtividade impactam nos preços quase imediatamente”, ressalta Juarez Rizzieri coordenador adjunto da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Segundo o economista, com a alta dos preços o atacado é o primeiro a ser atingido, “depois ocorre o transbordo para o varejo e o aumento de preços na cesta básica é quase certa”.
Para o pesquisador, no entanto, a inflação deve ficar levemente mais alta este ano do que a de 2006, por conta da previsão de aumento da demanda. Este aumento, por sua vez, é esperado por causa dos efeitos da queda dos juros, do aumento do crédito e da elevação dos salários, em especial, do salário mínimo. “Por isso, o Banco Central está mais cauteloso com a política monetária”, diz referindo-se ao fato de na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), os diretores do BC terem reduzido o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic) de meio ponto percentual para 0,25 ponto percentual.
Rizzieri prevê que a inflação de 2007 fechará em 3,50% na capital paulista ante uma alta de 2,55% verificada no mês passado. O especialista destacou ainda que o câmbio mais baixo facilita a aquisição de produtos importados e isso, segundo ele, serve como um freio para o aumento dos preços domésticos também. “Tudo isso funciona como uma válvula”.
Outro fator, de acordo com Rizziere, que ocasiona a alta é o dólar mais barato, que para o setor agroindustrial é ruim. “O câmbio também desestimula a atividade agrícola brasileira”, conta o economista.
Já para Carlos Eduardo Oliveira Júnior, conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-SP), o fator que faz com que os preços subam é causado pela entresafra, chuvas e distribuição de produtos. “Em até três meses será possível registrar alta nos preços, especificamente em grãos”, diz.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a medida que os EUA estão reduzindo o plantio de soja e substituindo para o milho quem ganha é o Brasil, que tem mais áreas plantadas de soja.
“A alta dos preços da soja deverá chegar direto para os consumidores, combinada com fatores como a estiagem e o preço do petróleo no segundo semestre de 2007”, revela.
“Já o café terá queda em 2007 por conta da supersafra do ano passado, que fará com que este ano o café brasileiro não bata recordes históricos”, completa. Ainda segundo ele, desde setembro do ano passado a soja está subindo de preço e já acumula 40% de crescimento desde então. “Até 2008 os grãos terão preço alto”.
A estimativa é de que a safra brasileira de grãos cresça até 9,7% em 2007, com uma produção de 127,9 milhões de toneladas