ECONOMIA & NEGÓCIOS
10/02/2011
Leandro Modé e Raquel Landim – O Estado de S.Paulo
Cada 1% de aumento do CRB (indicador das oscilações das principais commodities mundiais) em reais eleva o IPCA, índice oficial de inflação do Brasil, em 0,12 ponto porcentual. O cálculo foi elaborado pelo professor Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central (BC).
Um exemplo prático deixa claro o tamanho do problema: a alta de 19% do CRB em reais entre julho de 2010 e janeiro deste ano deve provocar elevação total de 2,28 ponto porcentual do IPCA. Esse efeito não se dá de imediato. Nas contas de Pastore, deve se diluir ao longo de oito meses.
O impacto no bolso do consumidor brasileiro é evidente. Levantamento da RC Consultores, feito a pedido do Estado, mostra alta generalizada no preço das commodities nas bolsas internacionais. Só em janeiro, subiram os preços do trigo (5,2%), da soja (5,5%), do café (6,0%), do açúcar (2,1%) e do milho (3%).
Fatores como custo mão de obra também influenciam nos preços locais, mas derivados de todos esses produtos ficaram mais caros no Brasil. No mais recente Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), o pãozinho subiu 1,5%, o óleo de soja, 3%, o cafezinho, 0,9%, o álcool, 4,3%, e o frango, 3%.
Na semana passada, a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) divulgou que os alimentos atingiram o maior valor em 21 anos. O ciclo de alta foi detonado por problemas climáticos em grandes produtores, como Rússia, EUA, Argentina e Austrália.
A redução da oferta e a demanda firme dos emergentes, sobretudo da China, compuseram a receita perfeita para a explosão de preços. Outro fator importante é a injeção de liquidez pelo Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) para aquecer a economia.
Enquanto a tendência de alta das commodities persiste, o governo enfrenta um dilema. Preocupada com a estagnação da indústria, a equipe econômica adotou medidas para conter a alta do real. \”Se o câmbio for a R$ 1,50, quebra mais um pedaço da indústria\”, diz Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.
O economista-chefe do banco Santander e ex-diretor do BC, Alexandre Schwartsman, não entra no mérito de uma possível desindustrialização. Mas diz que o caminho para enfrentar a valorização do real é outro.
Ele acredita que a principal razão para a alta da moeda brasileira é a valorização das commodities. A solução, diz ele, não está em tentar conter a especulação, como tem feito o governo. Mas entender que se trata de uma questão estrutural – relacionada à demanda crescente da China e outros emergentes por matérias-primas -, que exige soluções estruturais.