Publicação: 05/03/07
A América Latina Logística (ALL) quer aumentar entre 12% e 14% ao ano o transporte de cargas até o Porto de Santos (SP) como forma de alavancar as operações da malha da antiga Brasil Ferrovias, comprada em maio do ano passado. “Hoje temos uma presença de 27% em cargas agrícolas em Santos, enquanto que em portos do sul do País, como Paranaguá (PR), onde atuamos há mais tempo, essa participação chega a 64%. Existe um potencial enorme que não estava sendo aproveitado pela antiga Brasil Ferrovias”, diz Bernardo Hees, presidente da ALL.
Segundo Hees, a ALL pretende usar parte dos R$ 2 bilhões que serão investidos nos próximos cinco anos ao longo da sua malha para aumentar a infra-estrutura de acesso ao terminal. Além da construção e reativação de desvios e ramais ferroviários em parceria com clientes, a empresa deve reformar 40 locomotivas e 1,8 mil vagões da frota morta da Brasil Ferrovias em 2007. Serão trocadas ainda 20 mil toneladas de trilhos, o que equivale a um trecho de 400 quilômetros, e construídos 17 pátios ao longo dessa malha, que cobre as concessões da Ferroban, Ferronorte e Novoeste e os estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
O objetivo da empresa, nessa região é fechar contratos de longo prazo no sistema take-or-pay, a exemplo do que já ocorre no sul do País. Esse modelo permite que o cliente compartilhe investimentos de longo prazo, como a compra de vagões, e garanta demanda para a empresa.
“Virada operacional”
Segundo Eduardo Pelleissone, diretor de commodities agrícolas, entre os mercados com grande potencial de crescimento está o de açúcar e álcool. No ano passado, a empresa transportou 1,5 milhão das 15 milhões de toneladas de açúcar exportadas por Santos. Em janeiro, a ALL reativou o trecho que liga as cidades de Bauru e Tupã para atender um contrato com a trading inglesa de agronegócios EDF&Man do Brasil S/A. O acordo prevê a movimentação de 300 mil toneladas de açúcar em 2007. Somente este ramal reativado tem potencial de transporte de 1 milhão de toneladas por ano.
Pelleissone também diz que a idéia é começar a operar com álcool em Santos no segundo semestre. “Em Paranaguá, a participação da ferrovia no transporte do produto gira entre 50% e 60%”, lembra. “Também vamos investir na operação com industrializados, mercado que praticamente não era explorado pela Brasil Ferrovias em Santos”, completa Hees. Com a compra, explica ele, o peso das commodities na carteira da ALL subiu para 70%. “Queremos atingir o equilíbrio com cargas industriais nos próximos anos”, diz.
Hees considera que a “virada operacional”, da Brasil Ferrovias – que desde janeiro deste ano está totalmente integrada à ALL – deve ocorrer dentro de dois a três anos. O processo de reestruturação da empresa, que consumiu até dezembro do ano passado R$ 400 milhões e mais R$ 120 milhões na recuperação da malha e de ativos, incluiu, além da demissão de 3 mil dos 4,5 mil funcionários, investimentos em tecnologia, redução de acidentes e de consumo de diesel. A meta é cortar em 5% os custos com combustível e pela metade o volume de acidentes na malha norte.
A ALL também tem interesse em ampliar as operações na Argentina, por meio de aquisições, dentro de dois, três anos, segundo Hees. A empresa, que na última quinta-feira comemorou dez anos de criação, já investiu R$ 1,4 bilhão desde a privatização da malha sul, em 1997. De lá para cá, ampliou sua área de abrangência, por meio de aquisições, de 6 mil para 21 mil quilômetros, e lançou ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). No período, o volume transportado quase quadruplicou e o seu valor de mercado aumentou seis vezes, para R$ 14 bilhões. A ALL encerrou 2006 com receita bruta consolidada de R$ 1,466 bilhão. Considerando-se também a receita da Brasil Ferrovias, esse valor sobe para R$ 2,291 bilhões.
(Cristina Rios – Gazeta Mercantil)