Peso do grupo Alimentos e Bebidas é superior a 22% no indicador oficial de inflação do país
BRASIL
28/10/2010
Eva Rodrigues
evarodrigues@brasileconomico.com.br
Para cima ou para baixo, o grupo Alimentos e Bebidas tem sido o principal vetor para a inflação no país em 2010. Altas de itens como o feijão carioca (59,6%), leite (13,7%) e carnes (10,7%) são as principais responsáveis para que o grupo acumule inflação de 4,61% em2010, acima do IPCA (índice oficial de inflação) de 3,60%. Até o final do ano, fatores sazonais indicam continuidade das pressões vindas de alimentos e, no caso específico das carnes, a tendência é de novas altas no varejo.
A média mensal do quilo da carne bovina no atacado paulistano atingiu o maior valor da história do índice, chegando a R$ 6,36 nesta semana. E a arroba do boi gordo acumula, somente no mês de outubro, alta de 14,4% segundo o indicador medido pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea —leia reportagem ao lado).
Na avaliação do economista da LCA Consultores Fábio Romão, o abate de matrizes que vem ocorrendo no país nos últimos anos acabou por diminuir a oferta. “Isso não apenas temelevado o preço da carne bovina como tambémleva a uma alta no preço do frango – ambos são concorrentes”, diz. A analista do IBGE, Irene Machado, acrescenta a esse fator a estiagem nos últimos meses. “A oferta de carne caiu por conta dos pastos secos”.
Em 2010, a trajetória do grupo Alimentos foi marcada por um choque de oferta no início do ano em função do excesso de chuvas. Entre junho e agosto o grupo registrou deflação ou estabilidade para, a partir de setembro, reverter as quedas por conta do fator inverso: a seca. “A seca na Rússia, por exemplo, afetou os preços do trigo e isso impactou por aqui na forma de alta no pão francês e nas massas em geral”, diz a analista do IBGE. O grupo é o demaior peso — mais de 22% — entre os nove observados no IPCA.
Fábio Romão avalia que o pico de pressão de alimentos será outubro — a projeção é de alta do IPCA em 0,70% e do grupo Alimentos em 1,78%. Para novembro, ele projeta IPCA em 0,53% e alimentos em 1,23%. “Agora, os preços desse grupo evoluem, mas em ritmo menos intenso do que o verificado no início do ano. Nossa projeção para o ano é de IPCA cheio de 5,3% e de 8,4% para o grupo alimentos, uma diferença de três pontos percentuais”. Contudo, essa evolução do grupo acima do IPCA já foi pior: em 2007, o IPCA cheio e o grupo alimentos fecharam respectivamente em 4,5% e 10,8%, em 2008 ficaram em 5,9% e 11,1%. A exceção foi 2009, quando alimentos vieram abaixo (3,2%) do IPCA (4,3%). “As cotações de várias commodities caíram na esteira da crise financeira internacional”, relembra. Entre outubro e dezembro, a sazonalidade indica continuidade das pressões, especialmente em itens como feijão, carne bovina, leite pasteurizado (depois de deflação entre junho e setembro deve haver alta em outubro), pão francês e café, além de alta no subgrupo Alimentação Fora do Lar.
“Esse item está pressionado por dois vetores: o primeiro é o encarecimento da matéria prima; o segundo diz respeito à renda em alta da população, que acaba por estimular esse hábito”, diz Romão.