Alimentos e bebidas puxam alta da inflação, diz Ipea

Pesquisa


De 2000 a junho de 2011, o grupo de alimentos e bebidas do tipo comercializáveis apresentou Índice de Pressão sobre a Meta da Inflação (IPMI) em 12% do IPCA


Naiobe Quelem | Sebrae


 Brasília – Os preços dos alimentos e bebidas têm sido os maiores responsáveis pelo aumento da inflação nos últimos cinco anos, seguidos pelos valores cobrados pela prestação de serviços. Do outro lado da balança, as taxas de variação dos monitorados ― serviços e produtos regulados pelo governo, como telefonia, energia elétrica e planos de saúde, por exemplo ― e dos industrializados atuaram no sentido oposto, inferiores à meta inflacionária.


Os dados, divulgados nesta quinta-feira (21), constam da análise A Dinâmica da Inflação Brasileira, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a partir da decomposição do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na última década. O objetivo é mostrar quais os grupos de preços mais influenciaram ou podem estar relacionados às mudanças recentes na trajetória de crescimento da economia brasileira.


Embora todo processo inflacionário possa representar um entrave ao crescimento econômico, alguns setores onde se concentram as micro e pequenas empresas, como os relacionados à cadeia do agronegócio e ao grupamento “serviços”, acabaram se beneficiando dessa conjuntura. Os preços dos alimentos e bebidas, por exemplo, alcançaram níveis acima da meta da inflação, principalmente, em razão da alta internacional dos preços das commodities agrícolas sobre os alimentos comercializáveis (aqueles negociados com o exterior) nos últimos anos.


De 2000 a junho de 2011, o grupo de alimentos e bebidas do tipo comercializáveis apresentou Índice de Pressão sobre a Meta da Inflação (IPMI) em 12% do IPCA . E nos anos de 2007, 2008 e 2010 a variação dos preços dos alimentos e bebidas foi superior a 10% ao ano.


Lógica semelhante ocorreu com a prestação de alguns serviços, que encontrou terreno fértil para reajustes de preço acima do índice da inflação em decorrência do fortalecimento do mercado interno e do aquecimento da economia ― fomentados pela melhoria na distribuição de renda, redução da pobreza, expansão do crédito e recuperação dos postos de trabalho.


Entre os serviços que mais pressionaram a inflação estão os subgrupos da educação, que sofreu elevação de preços de 4,7%, em 2007, para 8,7% no acumulado em 12 meses de junho de 2011. Outro serviço que pesou no bolso do consumidor foram as despesas pessoais, sobretudo os gastos com empregados domésticos e com beleza, como cabeleireiro, manicure e pedicure, que sofrem concorrência , o que acaba impedindo um crescimento maior da inflação.


Os produtos industrializados, por sua vez, têm apresentado taxas de variação de preços inferiores ao centro da meta de inflação e Índice de Pressão sobre a Meta da Inflação (IPMI), entre -0,09 e -0,57. Os resultados são conseqüência da apreciação do câmbio ― que promove maior concorrência com os produtos importados ― e dos ganhos de produtividade, refletindo-se, sobretudo, nos preços dos automóveis, eletroeletrônicos, bens de capital, eletrodomésticos, têxteis/confecções, calçados e aparelhos telefônicos, por exemplo.


As taxas de juros elevadas, aplicadas para controlar a inflação, no entanto, podem colocar em risco o equilíbrio do fluxo de caixa das empresas, principalmente das que atuam nas cadeias de bens de consumo duráveis (automotivo, eletroeletrônico, eletrodoméstico e moveleiro, por exemplo), que dependem muito de crédito para venderem seus produtos. Além da redução de vendas, há o risco do aumento de custo financeiro, já que terão que pegar empréstimos a taxas maiores.


O estudo do Ipea alerta para a importância de se adotar medidas alternativas no combate à inflação, além da elevação das taxas de juros. “Um dos objetivos é propor o desenvolvimento de uma agenda para avaliação da eficácia desses instrumentos já adotados no controle inflacionário, como as políticas para os preços monitorados, que reduziu drasticamente a pressão desses serviços a partir de 2006, e o controle de crédito e a redução de impostos, como o IPI, por exemplo”, destaca o coordenador de Regimes Monetários e Cambial do Ipea, Thiago Martinez.


 

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.