A respeito da forma como o Brasil se comportou no mercado de café, parece-me
que as políticas para o setor foram equivocadas tanto no passado como têm sido
no presente. É de conhecimento geral e irrestrito que as políticas de comércio
exterior adotadas no passado sempre foram prejudiciais à cafeicultura do país.
Até a década de 60 o Brasil era responsável por mais de 60% das
exportações de café para os países consumidores. A famosa política guarda-chuva
que se utilizava de métodos artificiais tais como desvalorização da nossa moeda,
queima de estoques, acordos internacionais, contingenciamentos, retenção, etc.
para se manter preço, não foram boas políticas de comércio para o café.
Em minha tese de mestrado em Economia Rural, estudei os excedentes econômicos
gerados pelos acordos internacionais do café no período de vigência dos mesmos e
os resultados mostram uma grande perda para o Brasil e um grande ganho para os
países importadores.
As políticas de sustentação de preço serviram para que os preços do café no
mercado internacional se mantivessem elevados e em conseqüência vários outros
países que não produziam café ou se produziam e a produção era pequena, se viram
incentivados a aumentarem a produção e, como conseqüência, o Brasil perdeu
mercado.
Em relação às políticas de comercialização atual, na minha visão, elas
continuam equivocadas, posso também estar totalmente errado e admito não ser o
dono da verdade, nem tenho pretensão a isso, só que determinados fatos não
consigo entender. Pontuando-se apenas alguns itens:
• Em relação a previsão de safra de café do Brasil, várias empresas privadas
a fazem e é salutar várias empresas privadas a fazerem, mas a previsão oficial
deveria ser efetuada apenas por uma instituição ou órgão público, no caso
somente a Conab deveria fazer previsão de safra.
• Os recursos para financiamentos de custeio e colheita do café normalmente
chegam atrasados nas instituições financeiras e deixam os produtores em apuros
forçando-os a ir comercializando café durante o período de colheita, os
financiamentos deveriam ser de fluxo contínuo, afinal os recursos do Funcafé são
dos produtores, originados principalmente das políticas de contingenciamento.
Funcionava mais ou menos assim: de cada três sacas de café exportadas uma era
retida.
• Os financiamentos de custeios e colheita têm vencimentos quase que
imediatamente após o fim da colheita, obrigando assim vários produtores a
comercializarem o produto nessa mesma época e assim, força-se uma grande oferta
de café nos meses de setembro, outubro. Da mesma forma que o item anterior penso
que deveria haver uma flexibilidade nas datas de vencimento de forma que nos
contratos junto à instituição financeira pudesse constar que o financiamento
deveria ser quitado no período de outubro a maio. Com data limite em maio.
• As políticas reguladoras de ofertas e de preços em sua maioria são
inexeqüíveis para o produtor. Pode-se citar como exemplo, a última. Pouquíssimos
produtores conseguiram se quer entender o funcionamento do Pepro. Participar
dele então, nem pensar. Da forma como foi operacionalizado o Pepro, somente
cooperativas bem estruturadas e grandes produtores de café conseguiram
participar do programa.
• Há pouco investimento de marketing do nosso café nos países consumidores. A
idéia que se tem a respeito da qualidade do nosso produto é negativa. O Brasil
produz também café de altíssima qualidade, mas essa qualidade é desconhecida por
vários países. O Brasil deveria investir mais em marketing no exterior. Afinal o
Brasil é o maior produtor de café do mundo e esse setor tem uma importância
social muito grande no Brasil.
• Na bolsa de Nova Iorque, o café que serve de referência de preço para o
mercado é o café lavado Colombiano e da América Central. Já está sendo aos
poucos, comercializado também o café do Brasil, mas muito aquém da nossa
importância na produção mundial. O Brasil deveria pressionar com mais veemência
para que fosse o café do Brasil utilizado com referência na bolsa de Nova
Iorque, afinal somos o maior produtor.
• Há enorme barreira de importação em relação a entrada do café solúvel e
torrado brasileiro. O Brasil deve ser mais incisivo em relação a esses países no
sentido de ir diminuindo essas barreiras.
• Atualmente estamos observando um baixíssimo estoque oficial de café. O
Brasil deveria ter um estoque regulador e estratégico, renovável anualmente,
visando suprir o mercado tanto externo como doméstico em situações de escassez,
provocado por adversidades climáticas.
• Ausência de um ou mais centros de pesquisa da Embrapa específico para o
café. Em razão da importância da cafeicultura nacional, deveria ter alguns
centros de pesquisa em locais estratégicos no Brasil. Poderia aproveitar
inclusive algumas estruturas do antigo IBC.
A cadeia café é a atividade ímpar na geração de empregos no país. Nenhum
setor da nossa economia gera tantos empregos. A cafeicultura gera, citando-se
empregos diretos e indiretos, em torno de oito milhões de empregos e emprega
pessoas de diversas qualificações e habilidades.
O tamanho do agronegócio gira muito acima dos dez bilhões de reais por ano.
Consumimos em torno de 17 milhões de sacas de café por ano, ou seja só no
mercado doméstico esse valor atinge em torno de quatro bilhões de reais de
matéria prima comercializada. Exportamos em torno de 28 milhões de sacas anuais
e essas exportações geram algo em torno de três bilhões de dólares.
Além de todos esses aspectos positivos à nossa cafeicultura há de se lembrar
ainda que o café é um produto de uma enorme liquidez. Poucos produtos se
transformam em dinheiro na rapidez do café e com uma vantagem de não ter limite.
Tanto faz comercializar uma saca como milhares de sacas a liquidez é a
mesma.
Fonte: Cafépoint (http://www.cafepoint.com.br/?noticiaID=38803&actA=7&areaID=26&secaoID=46)