Com a implantação do sistema, as quedas bruscas de temperaturas deixaram de ser um grande problema para o agricultor parananense
Vera Barão IAPAR
Os produtores rurais já sofreram grandes prejuízos com as geadas, cujo efeito muitas vezes é repentino e implacável. Para auxiliar neste trabalho e evitar surpresas com a queda brusca de temperatura, o IAPAR criou há 15 anos o Sistema Alerta Geadas para a cafeicultura com o objetivo de elaborar previsões detalhadas e amenizar o problema que as baixas temperaturas causavam ao café.
O potencial de retorno do programa chega a R$ 20 milhões por ano em economia de novos plantios. A margem de acerto das previsões tem sido de 100%, dando total segurança ao produtor. No inverno de 2000, todas as geadas ocorridas foram previstas, possibilitando que muitos agricultores evitassem prejuízos em viveiros e plantios recentes.
O pesquisador do IAPAR Paulo Henrique Caramori, da Área de Ecofisiologia e Agrometeorologia, lembra que naquele ano geou na madrugada do dia 13 de julho e também nos dias 17 , 21 e 24 de julho. “Disparamos o primeiro alerta no dia 11 de julho e os agricultores cobriram os pés de café com terra. No dia 27 de julho emitimos o alerta para retirar a terra”, conta Caramori, acrescentando que, com essa medida, foram evitados prejuízos de R$ 20 milhões na cafeicultura.
Com a implantação do sistema, avalia o pesquisador, o estado passou a ter um acompanhamento mais detalhado das previsões, o que ajudou, inclusive, a evitar especulações na bolsa de café como ocorreu em 1995. Os produtores de café tiveram grandes prejuízos por causa de informações distorcidas sobre eventuais geadas no Sul do País e venderam seus produtos a preços baixos.
O sistema de alerta do IAPAR está focado nas lavouras até 2 anos, fase mais vulnerável do café. Desta forma, os técnicos alertam sobre as medidas práticas para evitar maiores danos aos cafezais. Uma das recomendações para os dias em que há previsão de geadas é fazer o enterrio das plantas de café com até seis meses de idade. Os produtores devem dobrar a planta e cobrir com terra.
“Após os 6 meses, a planta não dobra, senão pode quebrar, então o produtor deve fazer o chegamento de terra até o primeiro par de ramos, protegendo assim o caule. O resfriamento extremo do solo pode causar o congelamento do sistema radicular, ocasionando a morte das plantas. Portanto, o produtor deve cobrir na véspera e somente retirar a terra manualmente, no máximo, 20 dias depois”, explica Caramori.
O pesquisador observa ainda que o alerta à geada nunca errou. “Somos criteriosos para emitir o alerta para evitar que o agricultor gaste desnecessariamente”, afirma, lembrando que o IAPAR já foi premiado várias vezes em congressos pela implantação do sistema. “A gente se enche de orgulho porque é um serviço que traz resultados”, diz Caramori, que é o idealizador do programa.
As informações são diárias e também podem ser obtidas pelo Disque-Geada: (00xx43) 3391-4500, serviço gratuito, ou pelo site www.iapar.br. O Iapar também envia as informações por e-mail aos produtores cadastrados.
LIDERANÇAS – No início da implantação do sistema, longe das tecnologias de hoje como internet, a mobilização era feita por algumas lideranças das cidades, como padres que avisam durante as missas ou tocavam sinos ou ainda professoras que informavam as crianças para que as notícias chegassem aos pais.
Atualmente, por conta desse instrumento e das tecnologias desenvolvidas, a geada deixou de ser um grande problema ao produtor do café. O zoneamento agrícola, por exemplo, indica as áreas adequadas para plantar, o uso de tecnologia e como preparar o solo, tudo isso reduz risco. “Existe hoje um pacote de informações de apoio ao agricultores com uma série de tecnologias que favorecem ao plantio do café sem medo, inclusive fazendo o plantio consorciado com outras plantas”, enfatiza Caramori
O diretor presidente do IAPAR, José Augusto Teixeira de Freitas Picheth, considera o Alerta Geadas um importante instrumento que funciona em parceria com o Simepar e as secretarias de estado de Agricultura e Abastecimento (Seab) e de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. “É um serviço de excelência, pois garante segurança e tranquilidade ao produtor. Após a implantação do sistema houve redução significativa de perdas nas lavouras cafeeiras”, observa Picheth. Segundo ele, o café hoje é uma fonte de diversificação dentro da agricultura e está recuperando espaço nas propriedades, que trabalham no sentido de produzir um café de melhor qualidade.