Além das fronteiras de Minas

A agricultura irrigada também terá papel estratégico na produção de alimentos e agroenergia

10 de dezembro de 2012 | Sem comentários Comércio Exportação

10/12/2012 
  

Benjamin Salles Duarte*

Minas Gerais abriga 551.617 estabelecimentos rurais em seu território, que ocupam 32,6 milhões de hectares dentro da porteira da fazenda, segundo o Censo Agropecuário do IBGE/2006. Esse total representa 55,4% da área estadual, que é da ordem de 58,8 milhões de hectares. Esse espaço geográfico faz divisas com São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Goiás e Mato Grosso do Sul, revelando também a centralidade de Minas e a troca de tecnologias, produtos e serviços no comércio por vias internas entre esses estados. Assim posto, é indispensável entender essa contextualização para avaliar minimamente a importância estratégica do Projeto de Adequação Socioeconômica e Ambiental das Propriedades Rurais, como programa do governo de Minas Gerais. O que se faz em Minas atravessa as suas fronteiras, inclusive as águas de seus grandes rios, como o São Francisco, o Grande e o Rio Doce.


A questão de fundo deve ser muito clara para a sociedade, governos, lideranças, pesquisadores e consumidores, ou seja, a oferta de alimentos e agroenergia exige ser crescente no Brasil e no mundo por muitas razões que se associam, como o aumento progressivo da população, melhor distribuição da renda nos países num horizonte mais elástico, maior longevidade humana em virtude dos avanços da medicina, programas sociais de vacinação em massa, ganhos na qualidade da água e no saneamento básico, entre outras vertentes socioeconômicas e ambientais. No entanto, não se podem negar as diferenças existentes entre os países da Terra, onde 825 milhões de pessoas passam fome. No Brasil, apesar dos avanços, 16 milhões de pessoas estão abaixo da linha da pobreza e certamente subnutridas. O Banco Mundial define como a extrema pobreza a condição daqueles que vivem com menos de US$ 1 por dia.


Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial, que era de 2,5 bilhões de habitantes em 1950, passou para os atuais 7 bilhões, ou mais 4,5 bilhões de habitantes em apenas 62 anos. Evoluiu 180%. O Brasil tinha 51,9 milhões de habitantes/consumidores em 1950 e 190,7 milhões em 2010, crescimento de 267,4%. Pode-se depreender, sem muito esforço dedutivo, o impacto direto desse contingente humano sobre a água, o solo, a fauna e a flora. Portanto, há de se aceitar, definitivamente, que a sustentabilidade como uma política de governos é um verdadeiro passaporte para o futuro e muito além de discussões acadêmicas. Campo e cidade estão num mesmo barco. É bom salientar também que Minas Gerais abrigava 7,7 milhões de habitantes em 1950 e 19,6 milhões em 2010, ou 154,5% a mais. Esse quadro populacional transitório remete à necessidade de vultuosos investimentos em logísticas operacionais nos caminhos da produção, armazenagem, comercialização e abastecimento. A Organização das Nações Unidas estima que a população brasileira atingirá 227,3 milhões de habitantes em 2050. A demanda por alimentos cresce anualmente e muito.


Parcerias O projeto de adequação em Minas é fruto de amplas parcerias institucionais entre as secretarias de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Por quê? Porque a complexidade da agroeconomia nos cenários de campo requer conhecimentos e talentos humanos diversificados e abre espaços igualmente para a Universidade Federal de Minas Gerais, Embrapa, Epamig, Fundação João Pinheiro, IEF e IMA, cabendo à Emater-MG, por seus extensionistas de campo, o preenchimento das planilhas junto aos produtores rurais entrevistados e a análise dos respectivos dados, que resultam no planejamento das propriedades rurais nos focos socioeconômicos e ambientais, baseados nos Indicadores de Sustentabilidade em Agroecossistemas (ISA).


Quais são os objetivos no médio e longo prazos do Projeto de Adequação Socioeconômica e Ambiental das Propriedades Rurais em Minas Gerais? São muitos. Entre eles estão: compartilhar os conhecimentos com os produtores e suas organizações e realizando de forma participativa a elaboração dos planos de adequação; qualificar produtores e extensionistas em sistema de avaliação do desempenho ambiental e socioeconômico de estabelecimentos agropecuários no estado; socializar as informações sobre a legislação ambiental referentes às atividades agrícolas e auxiliar na viabilização da regularização ambiental das propriedades. E mais, sensibilizar técnicos, produtores e entidades representativas do setor agropecuário, demonstrando a importância da implantação de sistemas agroflorestais nas áreas produtivas e na reabilitação das áreas de preservação permanente (APPs), bem como práticas sustentáveis de conservação e recuperação dos recursos naturais.


A aplicação, em nível de campo, do ISA permitirá avaliar a propriedade rural em todos os seus aspectos e interações, bem como melhorar a qualidade da gestão, produção e meio ambiente pela ação do produtor como gestor do espaço rural dentro dos limites do seu estabelecimento. Esses indicadores socioeconômicos e ambientais, convergentes, revelam um índice final que varia de 0 a 1, sendo que 0,7 representa o limiar ou a linha de base de um bom desempenho agrossilvipastoril e ambiental. Abaixo de 0,7 significa que o estabelecimento rural precisa de ajustes e adequações à luz da realidade levantada, que devem ser discutidos e pactuados com os produtores rurais que adotarem esse programa de adequação dentro da porteira da fazenda.


Perspectivas Esse projeto, sem dúvida alguma, está alinhado em nível nacional e mundial com os desafios visíveis pelos quais devem passar a agropecuária e o agronegócio, no qual a sustentabilidade deve sair do conceito acadêmico e agregar-se aos processos produtivos nas culturas e criações, o que não deixa de ser uma espécie de marcha batida contra o tempo. De outro lado, não menos importante, há que ter o empreendedor rural, basicamente os familiares e médios, renda e estímulos governamentais, no que couber, para adotar as inovações tecnológicas. Faz-se relevante destacar que comparando a safra mineira de grãos de 2000 com a de 2012, a produção aumentou 86,1%. A área de plantio cresceu apenas 16% e a produtividade média aumentou 59,5%. A adoção de tecnologias explica esse desempenho no campo. A agricultura irrigada também terá um papel estratégico na produção de alimentos e agroenergia. E a redução das perdas agrícolas se torna indispensável como um programa de governo e empreendedores rurais.


Essa lógica não exclui os grandes empresários do agronegócio e a tecnologia, aliada aos estímulos de mercado, é parte insubstituível da modernidade no campo e qualidade de vida para quem planta e cria. A arte de inovar é um desafio sem fronteiras. As planilhas desse projeto de adequação já estão sendo aplicadas, pela Emater-MG, nos projetos governamentais do CertificaMinasCafé, MinasLeite e nos assentamentos da barragem de Irapé (Cemig).Também as tecnologias recomendadas para o manejo integrado de bacias hidrográficas fazem parte desse esforço conjunto nos cenários rurais do estado. Ainda há muito caminho pela frente, pois o campo precisa de muita inovação.


* Engenheiro-agrônomo.

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