DA AGÊNCIA FOLHA, EM RONDONÓPOLIS
Sem garantias de renda mínima ao setor agrícola, a nova linha de crédito anunciada pelo governo federal “não adiantará nada”, dizem as entidades que representam os agricultores de Mato Grosso. O ciclo de medidas “emergenciais” e de “curto alcance” está esgotado, afirmam, e será necessário um “tratamento diferenciado”.
“Nós não temos dinheiro agora e, mantida a atual conjuntura, teremos menos ainda no futuro. Então nós já sabemos hoje que, quando chegar a hora, não vamos conseguir pagar esse refinanciamento”, diz o agricultor Carlos Ernesto Augustin, vice-presidente da Ampa (Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão).
O presidente do Sindicato Rural de Rondonópolis, Ricardo Tomczyk, diz que a nova linha de crédito “chegou tarde”. “Faz quatro anos que o governo reconhece que não temos capacidade de pagamento e vem adiando o colapso com paliativos. O que aconteceu neste ano foi que, por conta da crise internacional, os bancos de fábrica decidiram colocar um ponto final nesse caminho.”
Para Tomczyk, a resolução do CMN (Conselho Monetário Nacional) “não é uma prorrogação e não estanca o problema”. “Esse socorro abre a possibilidade de os bancos exigirem novas garantias antes de liberar o dinheiro. No final das contas, a situação de vulnerabilidade ficará ainda maior.”
Condições desiguais
A inadimplência foi mais grave no Centro-Oeste, argumenta Augustin, por causa da “desigualdade de condições” que o setor enfrenta para produzir.
Análise produzida pelo Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola, ligado à Famato) diz que os custos de produção e o frete no Estado corroíam, na cotação de maio, 93% da renda bruta apurada por hectare de soja. No Paraná, segundo o estudo, a mesma conta fica em 63%.
“Os EUA têm políticas de subsídios, o Paraná está com sua produção a poucos quilômetros do porto e tem estradas conservadas. Não temos nada disso por aqui. Estamos longe de qualquer saída, não temos infra-estrutura e nosso único subsídio é o endividamento crescente e não-pago. Essa conta não vai fechar nunca”, diz.
Efeitos
Para Rondonópolis, a perspectiva de redução no ritmo do agronegócio é vista com preocupação. O deputado estadual José Carlos do Pátio (PMDB), prefeito eleito do município, acredita que a cidade sofrerá os efeitos da crise.
“A cidade se abriu para a agroindústria para se tornar menos vulnerável. Mas, nos municípios do entorno, a agricultura é o único caminho. Se houver desemprego, essa população virá buscar alternativas aqui, o que poderá agravar os problemas sociais.” (RV)