Ah, o inverno! Folhas Mortas e Café Quente

23 de maio de 2006 | Sem comentários Cafeteria Consumo

“Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”, já dizia Jorge Benjor; mas, confesso que gosto mais do inverno que do verão.

É verdade que quando o frio é intenso não dá a menor vontade de sair da cama. Um simples e necessário banho se transforma num extremo exercício de masoquismo, sobretudo quando, por uma daquelas infelicidades do destino, falta energia ou queima a resistência do chuveiro (sem estoque de reposição). Obviamente, estou falando de males que só afetam os simples mortais, que usam chuveiro elétrico; mas, pelo “andar da carruagem”, os “gasosos” também devem ficar “espertos”… Nesse contexto: viva os “solares”! É claro que uma noite quente, cheia de gente nas ruas, é uma festa! Mas uma noite fria, estrelada e com as árvores balançando levemente, ao sabor do vento, tem muitos e especiais encantos. Entre eles está a elegância das mulheres, que ficam mais belas quando se vestem (e ainda mais sensuais, quando se despem…); o calor saboroso de um bom vinho tinto, sem excessos; o retorno festivo à infância das quermesses regadas a quentão, pinhão, correio elegante, quadrilhas e fogueiras. Só não gosto dos balões, pois a beleza das formas e a sensação de liberdade que iluminam não compensam o risco de seu pouso incerto e potencialmente destrutivo.

Ah, o inverno! Os abraços são mais longos e os beijos mais ardentes, se bem que o amor não escolhe tempo, hora, lugar ou paisagem: Só precisa que “pinte um clima”, que, mesmo no frio, aquece!

Inverno: época em que café ou chocolate quente ajudam a suportar uma noite fria de trabalho ou de vigília; que um cobertor ou edredom aquece o sono dos que amamos, o qual, em plena madrugada, temos o cuidado de ajeitar, com a preocupação do acalanto, e como desculpa para um terno beijo no rosto.

Mas, se o inverno pode inspirar romantismo, prazer e beleza, ele também torna a solidão, o abandono, a falta de um teto e a tristeza ainda mais: dramáticos, doloridos e, até, fatais. É quando o espírito debilitado tende a transformar o álcool num agasalho ilusório, que entorpece a alma, mas, não poupa o corpo.

Por isso o inverno também deve ser tempo de um tipo diferente de calor: o da solidariedade! Tempo de doação e de boa ação que, aliás, deveria valer para todo o ano.

E o inverno está chegando! E o outono o anuncia, com suas folhas mortas. Mas, não é, nem precisa ser, um inverno de amores, como o da canção de Prévert e Kosma, na voz solitária de Montand. É um prenúncio de renovação: mais uma estação no percurso da humanidade pelo mundo, rumo ao futuro e ao encontro de si própria! É um tempo de aproximação e reaproximação, onde o calor humano é tão imprescindível quanto o dos aquecedores e cobertores. É um tempo em que a maior distância do astro-rei precisa ser compensada pelo calor do sol que existe em cada um de nós!

É um tempo de folhas mortas, mas de corações ainda mais vivos!

* Adilson Luiz Gonçalves, escritor, engenheiro e professor universitário (www.algbr.hpg.com.br)

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.