“Água é um dos elementos da sustentabilidade no café”, afirma especialista a alunos do Curso de Café da Associação Comercial de Santos
O especialista Soren Knudsen, da SKG Sustainable Solutions, declarou que “a água é um dos elementos da sustentabilidade no café”, em palestra a alunos do 57.º Curso de Classificação e Degustação de Café da Associação Comercial de Santos (ACS). Ele falou sobre o assunto a propósito da seca, que prejudicou a cafeicultura neste ano de 2014.
Soren Knudsen fez a afirmação na manhã desta terça-feira, 23 de setembro de 2014, na Sala de Classificação e Prova de Café da Associação Comercial de Santos, na Rua XV de Novembro, 137 – 3.º andar, no Centro Histórico.
A exposição integrou o programa do curso, iniciado em 1.º de setembro e com previsão de encerramento nesta quinta-feira, 25 de setembro, quando também haverá a solenidade de formatura.
O curso é ministrado pelos professores Nilton Ribeiro, classificador e degustador de café, que durante 55 anos atuou a serviço da Stockler Comercial e Exportadora, e Candido Mattar Ribeiro Filho, também classificador e degustador, da Triple R Consultoria.
Evelyse Lopes, coordenadora do Curso de Classificação e Degustação de Café e também coordenadora da Câmara Setorial de Exportadores de Café da Associação Comercial de Santos, assistiu à palestra, assim como o diretor executivo da ACS, Marcio Calves.
DEFINIÇÃO
Soren Knudsen iniciou a apresentação, citando o Relatório Brundtland (1987), que define sustentabilidade como “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas”.
A sustentabilidade tem como premissas básicas o tripé econômico, social e ambiental. No âmbito econômico, é importante otimizar o capital financeiro. No social, é essencial valorizar o capital humano e social. E no ambiental, é fundamental otimizar o capital ambiental, de acordo com o especialista.
Outro conceito de grande importância no terreno da sustentabilidade é a rastreabilidade. Segundo a norma ISO 8402 de qualidade, rastrear é manter os registros necessários para informar os dados relativos à origem e ao destino de um produto.
A certificação é também um dos fundamentos da sustentabilidade, conforme Soren Knudsen. “Certificação é avaliação de um processo. São critérios que visam a verificar o cumprimento de requisitos por meio de indicadores rastreáveis”.
CERTIFICAÇÕES
No mercado internacional, há algumas certificações e verificações que fazem parte dos negócios agrícolas: International Federation of Organic Agriculture Movements (Ifoam), Fair Trade (FLO), Rainforest Alliance, Utz Certified, Código Comum da Comunidade Cafeeira (4C), Starbucks Coffee And Farmer Equity (C.A.F.E.) Practices e Nespresso.
Soren Knudsen citou o estudo “Trends in the Trade of Certified Coffees” (Tendências no Mercado de Cafés Certificados), que estima que o crescimento de cafés certificados crescerá de 8% em 2009 para 20 a 25% do mercado mundial de café em 2015.
Grandes players do trade cafeeiro mundial querem cada vez mais cafés certificados, como a Kraft, a Nestlé e a Sara Lee, além de torrefadoras como Starbucks, Tchibo e Lavazza.
A certificação Ifoam tem vendas mundiais de cerca de 1,7 milhão de sacas de 60 quilogramas (60 kg), metade para os Estados Unidos e metade para a Europa. E está presente em 2% do consumo dos Estados Unidos. O maior produtor mundial é o Peru, seguido da Colômbia.
Quanto à Fairtrade, o mercado é de de 1,5 milhão de sacas, cerca de 50% para a Europa e 45% para os Estados Unidos e representa 3% do consumo norte-americano. Outro detalhe é que 42% dos cafés Fairtrade são também orgânicos.
A Rainforest Alliance conquista vendas mundiais de 1,4 milhão de sacas, quase a metade para a Europa e detém 2% do consumo norte-americano.
Quanto à Utz Certified, mantém fatia de 1,4 milhão de sacas, a maioria para o norte da Europa – e está em crescimento constante desde 2002.
O Código Comum da Comunidade Cafeeira (4C) tem mercado de cerca de 450 mil sacas, de café arábica e robusta, a maioria destinado para a Europa. O maior produtor mundial de cafés 4C é o Brasil, seguido do Vietnã.
Quanto à Starbucks, adquire em torno de 1,7 milhão de sacas no Programa C.A.F.E. Practices. Os fornecedores – verificados, preferidos e estratégicos – têm preferência de contrato de de fornecimento. Além disso, os fornecedores estratégicos recebem ágio no primeiro ano de fornecimento. O Brasil é o maior fornecedor, com 1,5 milhão de sacas.
A Nestlé exige qualidade AA Nespresso mais a ceritificação Rainforest para os cafés desta categoria, que têm origens semelhantes aos cafés naturais andinos ou meso-americanos. É a demanda que mais cresce atualmente – mais de 200% em 2010, por exemplo.
Soren Knudsen antecipou algumas tendências que devem ser consideradas, tanto no que diz respeito à cafeicultura, quanto no tocante à agricultura, como a necessidade de proteção às florestas, atenção às mudanças climáticas (o que você pode fazer para salvar o planeta?), proteção à vida silvestre, erradicação da extrema pobreza e gestão empresarial.
DESAFIOS
Citou como desafios para a sustentabilidade o crescimento exponencial da demanda e a expansão geométrica da oferta.”Embora a demanda cresça, a oferta pode apresentar nivelamento, pois os produtores mais aptos a se certificarem já estão no mercado”.
Como especialista, Soren Knudsen vê “a consolidação de grandes cadeias de fornecimento particulares, guiadas pelas multinacionais, cada uma com o seu selo de preferência”.
Ele também comentou que é comum a ocorrência de certificações múltiplas em toda a produção de café, como a Cooperativa Regional de Cafeicultures em Guaxupé (Cooxupé).
Para Soren, “a quantidade é tão importante quanto a qualidade”. Ele contrapõe que não adianta muito um produtor ter cafés premiados, mas não dispor da quantidade exigida por grandes compradores. Em síntese, é preciso oferecer qualidade em quantidade.
O especialista observa que é essencial o estreitamento das relações comerciais na cadeia de café, assegurando fidelidade e entrega. “Quem não entregar o que prometeu, está fora do mercado”, sentenciou.
De acordo com Soren Knudsen, as verificações C.A.F.E. Practices (Starbucks), Nespresso e 4C apresentam as melhores oportunidades por volume com qualidade específica.
Quanto aos cafés que dominam o mercado mundial, os que têm a certificação 4C oferecem as melhores oportunidades em volume, segundo Soren.
A Rainforest oferece a melhor oportunidade para cafés de qualidade com ágio, conforme Soren.
“O Brasil é o único país que oferece essas condições todas”, comemorou Soren Knudsen.
O site do especialista pode ser conferido em: www.sorenknudsen.com.br