Sexta-feira 21 de Setembro, 2007 5:01 GMT
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – A prolongada seca que atinge as principais regiões cafeeiras do Brasil, o maior produtor mundial, gera divergências entre pesquisadores sobre os prejuízos que isso representará para a próxima safra.
Um deles, com uma opinião semelhante à dos produtores, avalia que, mesmo que as chuvas venham, a colheita do ano que vem já está prejudicada. Outro, também ligado a uma instituição governamental, considera que esta é uma época tipicamente seca e que a safra 2008/09 poderá até ser recorde.
Na quarta-feira, choveu em São Sebastião do Paraíso, uma das regiões do Sul de Minas Gerais, maior área produtora do país, mas o restante do cinturão produtor mineiro não registra chuvas adequadas desde julho, disse o agrônomo Gladyston Rodrigues Carvalho, da Epamig, do governo do Estado, citando déficit hídrico de mais de 300 milímetros em algumas áreas.
“Do ponto de vista agronômico, o café tolera até 150 milímetros. Isso mostra como está acentuado e está grave (o déficit), é bem maior do que foi no ano passado”, afirmou ele, observando que a Fundação Prócafé, uma instituição financiada por produtores, registra déficit de 377,6 mm em Varginha (MG).
Segundo ele, esse déficit de Varginha representa 70 por cento do que ocorre na cafeicultura do sul de Minas.
O Conselho Nacional do Café (CNC) divulgou nota esta semana com citações de agrônomos das principais cooperativas brasileiras apontando uma “situação crítica” para os cafezais.
O presidente do CNC, Gilson Ximenes, observou que os principais institutos não prevêem precipitações durante os próximos 15 dias nas principais zonas produtoras. “Caso essas previsões estejam corretas, o déficit hídrico se intensificará, comprometendo de maneira significativa a próxima safra”.
Após uma safra pequena, de cerca de 32 milhões de sacas (60 kg) este ano, em função da baixa no ciclo bienal do arábica, o setor aguarda uma grande safra em 2008.
LAVOURA DEBILITADA
Já o agrônomo da Epamig avalia que, “se chover até a primeira semana de outubro, vamos ter uma boa florada… se passar disso, a situação fica séria”.
No entanto, disse Carvalho, mesmo que a florada seja grande, como todos esperam, “as plantas já estão muito debilitadas”.
“O estresse hídrico já tem consequências, queda de folha, murcha de planta, provavelmente morte do sistema radicular.”
Ele acredita que, dessa forma, quando vier a florada, o “pegamento que historicamente é de 50 por cento (50 por cento da florada que vira fruto), cairá para 40, 35 por cento”.
VISÃO MAIS OTIMISTA
O “mercado de clima” em café tem se deslocado do período de inverno –antes havia mais riscos de geadas no Brasil– para uma especulação em torno de estiagem na época da florada, disse Celso Vegro, agrônomo e pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), do governo de São Paulo, para justificar as atuais preocupações levantadas por produtores.
Ele discorda que o déficit hídrico nas principais regiões esteja acima de 50 milímetros, está “muito longe do déficit hídrico… que levaria a planta ao nível crítico de murcha”.
De acordo com Vegro, as chuvas intensas de julho colaboraram para elevar o armazenamento de água no solo. “O déficit hídrico de junho a setembro é uma condição normal da lavoura, e desejável para que haja uniformidade na florada e na maturação, e resulte em melhor qualidade do produto.”
Dessa forma, dentro do atual quadro, ele avalia que o Brasil poderá colher uma safra recorde em 08/09, superando as 48 milhões de sacas de 2002/03.
“Então não tem nada de diferente de quando colhemos aquele recorde. Daí o meu posicionamento de dizer que… qualquer previsão abaixo de 55 milhões de sacas seria conservadora.”
O pesquisador do IEA justificou o otimismo dizendo que, desde 2003, o parque cafeeiro evoluiu, é mais adensado, e atualmente há muito mais investimentos na lavoura. “O consumo de adubo para café aumentou 15 por cento no ano, então como vai ter uma safra menor?”
Para Vegro, a questão que pode diminuir a “tenacidade” de sua avaliação é a temperatura mais elevada que o normal para o período. “Isso torna a evapotranspiração mais intensa, então pode começar a ter prejuízo em termos de florada e pegamento de frutos, mas nada que configure um quadro catastrófico.”
Comentários:
João Luís
Pergunto ao Doutor Vegro se ele tem andado em lavoura cafeeiras nos últimos dias para poder ver o q está ocorrendo. A necessidade de stress hídrico é fato, mas dizer q não há déficit é um tanto equivocado. Todos preferiam não estar presenciando esta seca, que hoje é motivo certo para alta da cotação do café, lembrando que noticias muito menos relevantes têm efeito baixista muito mais fortes.
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