VALOR ESTADOS
04/06/2010
Pedidos para financiar o desenvolvimento já somam R$ 3 bilhões; parte dos recursos virá do BNDES e do Finame para completar a carteira de projetos
Neste ano, a superintendência do Banco do Nordeste (BNB) na Bahia tem pela frente um grande desafio a superar: pedidos demais e dinheiro de menos para financiar o desenvolvimento sustentável e a inclusão social no Estado. O volume de cartasconsulta, projetos em análise e operações aprovadas em fase de contratação chega perto de R$ 3 bilhões, superando o R$ 1,9 bilhão do quinhão baiano no Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), previsto para 2010. \”A demanda está extremamente aquecida\”, diz Nilo Meira Filho, superintendente do BNB na Bahia.
Como o FNE, formado por 1,8% da arrecadação nacional do Imposto de Renda e do IPI, tornou-se insuficiente para atender à carteira de projetos, a instituição vai operar também com recursos do BNDES e do Finame. O maior volume de pedidos vem do agronegócio, principalmente da região oeste, para as culturas mecanizadas de soja, milho, algodão e café. A fruticultura de exportação de Juazeiro, as plantações de eucalipto do extremo sul e a criação de gado, espalhada por toda a Bahia, também disputam os recursos para o setor. A prioridade é da região do semiárido e o foco, nos pequenos e micro produtores rurais.
No ano passado, em plena crise financeira internacional, as contratações globais do BNB cresceram 18,7% sobre 2008, somando R$ 3,05 bilhões de reais. Depois do aperto no primeiro semestre, os bancos públicos passaram a ajudar o setor produtivo e as aplicações em crédito comercial saltaram de R$ 551 milhões em 2008 para R$ 958 milhões em 2009. No segundo semestre, com a retomada da confiança, as cartas-consulta para investimentos de longo prazo começaram a chegar, fazendo com que as operações típicas de banco de desenvolvimento encerrassem o ano em R$ 2,1 bilhões, 3,7% acima das registradas em 2008. Banco múltiplo com a missão de impulsionar o desenvolvimento de um Nordeste ampliado, que abrange o norte de Minas Gerais e o norte do Espírito Santo, o BNB movimentou na região R$ 20 bilhões em 2009. \”Em seis anos foram aplicados quase R$ 10 bilhões a mais do que em toda a história da instituição\”, comemora Meira Filho.
A importância da instituição para o desenvolvimento da Bahia é crucial, apesar de a rede de 37 agências ser pequena para atender aos 417 municípios baianos. Dos financiamentos de longo prazo concedidos no Estado no ano passado, 50,7% saíram do BNB, segundo dados do Banco Central. A participação no crédito rural ainda é mais significativa: 58,6% do total.
Duas novas agências foram abertas em 2009, uma em Valença e outraem Conceição do Coité. Meira Filho pretende levar ao conselho de administração proposta para criar mais dez. Para compensar a falta de locais fixos de atendimento, o BNB criou os agentes de desenvolvimento, funcionários qualificados que vão aos municípios em que não há agência.
O BNB financia projetos para clientes de todo porte, com várias linhas de crédito. A jóia da coroa, para Meira Filho, é o CrediAmigo, programa de microcrédito que atende ao empreendedor informal. Apóia desde a dona de casa que faz doces e salgados em casa e vende para uma lanchonete até o borracheiro, além de pessoas que não têm CNPJ, mas geram ocupação e renda. \”Aplicamos no ano passado, na Bahia, R$177,9 milhões no programa, em operações de R$ 1 mil cada uma, em média\”, diz.
Para a atividade rural, as linhas de crédito são similares às destinadas ao empreendedor urbano. O AgroAmigo apoia o agricultor informal com microcrédito orientado e acompanhado, nos moldes do CrediAmigo. No ano passado, registrou operações de R$ 78 milhões, volume 80% superior ao de 2008. O Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), que movimentou R$ 144 milhões em 2009, deve receber aplicações em torno de R$ 170 milhões neste ano. Como a agricultura familiar deixa a desejar em tecnologia, criou-se o Pró-Genética, linha de financiamento para melhorar o padrão genético de reprodutores.
Associada a fatores adversos, como estiagem, inundação, problemas de comercialização, a inadimplência no crédito rural está sendo combatida com orientação e acompanhamento do AgroAmigo. \”O percentual caiu de 40% para 5% em 2009, e nós queremos que recue para 2% em 2010 e 1% em 2011\”, diz Meirá Filho. As taxas de juros variam de 5% ao ano para os míni e micro clientes a 10% ao ano para os grandes. Quem paga rigorosamente em dia é premiado com o bônus de adimplência. Assim, busca-se induzir a interiorização do investimento. Se for indiferente para uma empresa se instalar em Salvador ou no interior, encargos financeiros menores podem ser um fator de decisão.