Marcelo Eduardo dos Santos
O ano era 1889. Próximo à Igreja Jesus, Maria, José (demolida em 1902), no cais do centro, ainda com trapiches, vários navios aguardam o embarque de muitas sacas de café. No mesmo local, a instalação de novos trilhos completam a cena que simboliza a efervescência econômica da época, representada pela modernização do porto.
Esse momento está registrado em uma fotografia do acervo do Instituto Moreira Salles, reproduzida em larga escala em um painel do Museu dos cafés do Brasil, em Santos. Para o presidente da Associação Paranaense de Cafeicultura, Luiz Marcos Suplicy Hafers, essa relíquia simboliza a importância da commodity para a economia.
‘‘O café distribuiu riqueza, fez a estrada, o porto. O café fez a Avenida Paulista, Campinas e Ribeirão Preto. Ele industrializou São Paulo’’, comentou Hafers na quinta-feira, Dia Nacional do café, durante as comemorações da data no Museu dos cafés (antiga Bolsa).
Passado o período em que a commodity, especificamente na primeira metade do século, concentrava as exportações do País, o setor passa agora por grandes mudanças. Hafers lembra que o tipo robusta — de plantio mais fácil e custo inferior ao arábica, que domina a produção nacional — está ganhando mercado.
Ao mesmo tempo, a necessidade de agregar valor ao café, ao invés de só exportar o grão verde, se tornou uma obrigação a quem investe na produção. Além disso, cresceu a importância do papel das cafeterias, abrindo um mercado para os cafés especiais e consumidores exigentes que ditam as regras para o setor.
Segundo Hafers, o Espírito Santo produzia anos atrás 2 milhões de sacas do arábica e igual quantidade do robusta. Hoje, a produção do arábica permanece a mesma, mas a do robusta quadruplicou.
Ele lembra que o robusta é mais consumido no Leste Europeu e na Ásia, mas como café solúvel. Segundo Hafers, isso é importante, porque as próximas gerações dessas regiões evoluirão para produtos de melhor qualidade.
Hafers defende a importância do setor continuar a busca pela qualidade e pelo valor agregado. E os interessados nesse desafio, lembra ele, devem saber que quem trabalha com café vende “sensação”.