CIDADES
05/04/2010
Entidades se mobilizam para estabelecer testes de qualidade e eficiência para os bioinseticidas
Renan Magalhães
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
renan.santos@rac.com.br
Conforme as alternativas sustentáveis para o agronegócio ganham espaço, a padronização dos testes de controle de qualidade de bioinseticidas se torna uma preocupação cada vez mais relevante para o setor. A etapa é considerada primordial para a futura criação de um selo de qualidade que vai dar garantias ao produtor rural sobre a eficiência do produto para controle de pragas. Por isso, tanto as fabricantes do produto quanto as instituições que atuam em pesquisa na área estão se mobilizando para dar início ao processo de regulamentação dos biocontroladores.
O primeiro passo desse movimento começou na semana passada, em Campinas, no Laboratório de Controle Biológico, do Instituto Biológico, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Liderados pela Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), empresários do setor produtivo de microrganismos controladores de pragas se reuniram com instituições de pesquisa públicas e privadas e também com representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para iniciar a discussão sobre o assunto.
O empresário Danilo Pedrazzoli, integrante da diretoria da ABCBio e sócio-proprietário da Bug Agentes Biológicos, de Piracicaba, explica que o mercado de biocontroladores passou por uma grande expansão nos últimos anos e que, por isso, precisa passar por adequações.
“O que vemos ainda é um setor muito amador e oportunista, mas que sofre com a falta de padrões de qualidade. A associação foi criada em 2008 justamente com o objetivo de regular o mercado no que diz respeito aos aspectos legais e práticos”, avalia.
Segundo ele, a partir das discussões deve ser criado um corpo técnico-científico para a implantação de um padrão que deverá ser seguido por todas as instituições que fazem a análise de biocontroladores. A partir disso, a associação deverá desenvolver um selo de qualidade para certificar os produtos. Tudo com o objetivo de mudar a legislação que se refere ao assunto.
“A lei que aborda os bioinseticidas é a mesma que se refere aos agrotóxicos. Isso causa um problema para o segmento, porque trata dois produtos diferentes da mesma forma. Até o pictograma de alerta que o Mapa obriga a constar na embalagem é o mesmo. E isso acaba espantando o agricultor que está em busca de uma prática sustentável”, aponta.
Ministério
O fiscal federal agropecuário do Mapa, Davi Carvalho de Souza, ressalta que o governo federal está interessado em solucionar essas questões e que o debate se tornou mais importante a partir do decreto publicado no ano passado para regulamentar o uso de agrotóxicos. “Ele define os produtos fitossanitários de uso aprovado na agricultura orgânica e simplifica a padronização. Agora vamos buscar uma padronização na análise das instituições até o fim do ano, como forma de dar amparo à fiscalização.”
SAIBA MAIS
O controle microbiano representa um ramo do controle biológico que trata da utilização racional de bactérias, fungos, vírus e neumatóides para o controle de insetos pragas. Apesar do uso desses organismos representar apenas 1% do mercado total de produtos para proteção de plantas, as perspectivas de mercado cresceram nos últimos anos com maior quantidade de produtos disponíveis. A tecnologia desenvolvida no Brasil permitiu que grandes culturas como a da cana-de-açúcar e a da soja concentrassem os maiores programas mundiais, usando patógenos de insetos, tratando aproximadamente 2,5 milhões de hectares dessas culturas por ano.
IB é referência em implantação de biofábricas
O Instituto Biológico é referência para a implantação e assessoria de biofábricas no Brasil. Ele oferece um pacote tecnológico com o objetivo de fomentar o crescimento da utilização de bioinseticidas como insumo alternativo para uma agricultura sustentável.
Dentre os serviços oferecidos estão: seleção, fornecimento e manutenção de isolados de microrganismos entomopatogênicos; assessoria para implantação e manutenção de biofábricas; desenvolvimento de projetos de produção e formulação de bioinseticidas; capacitação de pessoal para a produção de bionseticidas; controle de qualidade; avaliação de eficiência agronômica; avaliação de mercado e realização de testes biológicos para registro de bioinseticidas.
Em abril, o IB realiza o Curso de Controle Microbiano de Insetos (Comint — Fungos entomopatogênicos):
Data: 6 a 8 de abril de 2010
Local: Centro Experimental Central do Instituto Biológico — CEIB — Campinas
Número de Vagas: 10
Público alvo: engenheiros agrônomos, biólogos, técnicos agrícolas, empresários do setor agrícola e estudantes
Objetivo: Apresentar noções básicas do uso e produção de fungos entomopatogênicos para o controle de pragas. Mais informações com o coordenador José Eduardo M. de Almeida pelo e-mail: jemalmeida@biologico.sp.gov.br . (RM/AAN)
Primeiro da lista será o de natureza fúngica
Entre os bioinseticidas, o primeiro que deverá receber atenção para a padronização é o de natureza fúngica. Ou seja, os fungos que são utilizados como agentes de controle biológico. Segundo o diretor-geral do Instituto Biológico, Antonio Batista Filho, esse tipo de biocontrolador é o segundo mais aplicado no Brasil, atrás apenas dos bionseticidas de natureza bacteriana e que estão presentes há mais tempo no mercado. “São mais de um milhão de hectares tratados com esse tipo de produto em todo o País. Por isso, é um mercado que não parar de crescer. Até 1980, não havia mais de cinco empresas no setor. Hoje, já são mais de 20, sem considerar os laboratórios das usinas que produzem os próprios fungos”, assinala.
A cana-de-açúcar é a cultura que mais demanda esse tipo de bionseticida. Desde a última década, quando a queimada da cana passou a ser reduzida, a cigarrinha-da-raiz passou a se tornar uma praga comum em São Paulo e os produtores passaram a adotar o fungo como forma de controle. “Foi uma solução que já era utilizada no Nordeste, onde existe uma praga similar. Como são mais de 300 mil hectares em todo o Estado, isso vem impulsionando o mercado.”
Outras importantes culturas brasileiras também adotam os biocontroladores de natureza fúngica para combater pragas, como banana, café, citros, mamão e pastagem.
O Laboratório de Controle Biológico, do IB, que completa 40 anos em 2010, é o único instituto do Brasil que obteve a certificação NBR ISO 9001/2000 para análise quantitativas e qualitativa de bioinseticidas à base de fungos entomopatogênicos. “Essa qualificação obtida no ano passado mostra a modernização do laboratório e a sintonia da equipe com as demandas dessa área estratégica para contribuir com alternativas sustentáveis para o agronegócio”, afirma. (RM/AAN)