Agrocafé se consagra como maior evento político do setor cafeeiro

O Simpósio abre o calendário de eventos do setor cafeeiro e discute temas atuais da cafeicultura nacional e mundial


O sucesso do 10º Agrocafé – Simpósio Nacional do Agronegócio Café – que aconteceu entre os dias 09 e 11 de março, no Gran Hotel Stella Maris, em Salvador, é comemorado mais uma vez pela organização. O evento reuniu grandes personalidades da cafeicultura nacional, autoridades e lideranças que discutiram questões importantes dos três segmentos do setor cafeeiro: produção, torrefação e exportação. O “Alvo é a renda do Produtor’ foi o tema central da décima edição do Simpósio, que levantou também questões como: ‘Legislação Ambiental e Certificadora para a Produção Cafeeira’, ‘Café: O Prazer, a Saúde e o Coração”, “A Situação Atual e Futura da Produção de Fertilizantes no Brasil e no Mundo”, entre outros. ‘. Durante os três dias de atividades foram realizadas várias palestras, painéis, e cursos intensivos sobre assuntos diversificados, relacionados ao setor cafeeiro.

De acordo com o presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia (Assocafé), João Lopes Araújo, – entidade promotora do evento – esta edição do simpósio foi muito significativa, já que grandes personalidades políticas participaram do um evento. Entre os destaques, a participação do ministro da Integração Social, Geddel Vieira Lima, do governador do Estado da Bahia Jacques Wagner (PT/BA); do secretário Estadual de Agricultura da Bahia, Roberto Munis, do presidente Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), João Martins Júnior, do secretário de Agricultura do Estado de Minas, Gilmam Viana; do secretário de Agricultura do Estado do Paraná, Valter Bianchini, e do presidente do Centro de Comércio de Café da Bahia, Silvio Leite, entre outros.

Sem contar, no público presente, que girou em torno de 730 pessoas vindas dos cinco estados brasileiros produtores de café – Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Paraná e Espírito Santo. A maior comitiva foi a de Itabela, que trouxe com apoio da prefeitura municipal, 20 pessoas, entre autoridades locais e agricultores. “Devemos destacar nesta edição a participação política. Tivemos aqui no Agrocafé a presença de políticos importantes, que podem nos dar o respaldo que precisamos juntos aos órgãos municipais, estaduais e federais para enfrentar os problemas do setor”, salienta Araújo. Para ele, mesmo diante à crise – que assola o cenário mundial – a participação do público foi satisfatória, mas merece atenção. “Nos próximos anos queremos trazer mais pequenos e médios produtores para participarem do evento. Vamos estudar ações junto com as prefeituras dos municípios produtores para incentivar a vinda destes cafeicultores para o Agrocafé; afinal o alto nível de palestras apresentadas durante o evento devem ser apreciadas e discutidas pelo maior número possível de interessados”, completa, dizendo que o produtor precisa entender a importância dos temas trazidos. “Aqui procuramos fazer a transferência de técnicas e informações que ele precisa”, salienta.


As discussões

Um dos temas mais debatidos durante o Simpósio foi a produção equilibrada e ecologicamente responsável, discutida dentro do painel “Legislação Ambiental e Certificadora para a Produção Cafeeira”. Araújo explica que hoje o maior problema enfrentado pelo cafeicultor baiano é o passivo ambiental, decorrente da falta de técnicos para atender às demandas da atividade. Mas, acredita na parceria entre produtores e Estado, através das secretarias de Meio Ambiente (Sema) e Agricultura (Seagri). A parceria resultou na assinatura, no mês passado, de um convênio para solucionar o problema, em um primeiro momento, na região Oeste do estado. O cerrado é hoje uma das principais alternativas para a expansão da atividade cafeeira na Bahia.

“O produtor está muito mais consciente em relação às reservas legais, ao uso de defensivos e cuidados com o meio ambiente. Vamos discutir muito esses temas no Agrocafé, pois acreditamos na atividade produtiva consorciada ao respeito ao meio ambiente”, afirma.
Para o secretário de Meio Ambiente do Estado da Bahia, Juliano Matos, a produção responsável de café, ou de qualquer outra cultura, agrega mercados e qualifica o produto, e isso pode aumentar o seu valor em até 20%. “O componente ambiental é hoje um atributo intrínseco desejável no produto. Estamos empenhados para regularizar ambientalmente o café da Bahia, pois, para o Governo, isso se torna uma vantagem competitiva: o café verde do estado”, explica. 

Secretários de Agricultura dos estados da Bahia, Minas Gerais e Paraná também estiveram no Agrocafé e participaram do Fórum de Secretários de Agricultura dos Estados Produtores de Café. Roberto Munis (Bahia), Gilman Viana (Minas Gerais) e Valter Bianchini (Paraná) falaram sobre a crise e perspectiva do mercado e sobre o futuro da cafeicultura no Brasil. Diante de um público de produtores, exportadores e industriários, os secretários com bases em dados técnicos de cada estado colocaram em questão o setor.

Segundo o secretário de Agricultura do Estado do Paraná, Valter Bianchini, os preços do café no mercado estão inferiores ou empatam com o custo total de produção. “Por isso o Fórum foi muito importante para o agronegócio, onde foi discutido um conjunto de políticas que poderão ser desencadeadas dentro do setor. Entre elas, a de como valorizar o café de qualidade, incrementar as compras institucionais, ter mais capital de giro para a cadeia produtiva, enfim, uma articulação melhor entre os estados produtores de café para ai sim criar uma organização a nível nacional capaz de planejar melhor e sair desta crise que causa prejuízo à cafeicultura”, destaca.

Bianchini acredita em um reequilíbrio, entre oferta e procura. Já Gilman Viana, secretário de Agricultura do Estado de Minas Gerais, afirma que não existe uma solução imediata para a crise do setor. “O que temos é um desenho para uma solução, e qual é o desenho? O recurso. E onde está o recurso? Só pode estar no governo Federal. Então da mesma maneira que o governo pode socorrer algum seguimento da economia, como no caso da construção civil e o etanol, porque não fazer isso com o setor cafeeiro”, questiona.  Para ele, a regra existe, o que não existe é rotina, mas por um outro lado a cafeicultura precisa trabalhar na direção de regular a produção. “Não podemos trabalhar com a política que o governo vai comprar excedentes cada vez maiores. Tem que haver um equilíbrio, onde o excedente individual deve ser absorvido com obrigação pelo governo. Agora, o excesso crescente é inviável. A crise tem sim solução. É claro que não é um caminho fácil, mas tem”, garante.


Produção

A Bahia é o quarto no ranking dos estados produtores de café, que é liderado por Minas Gerais, seguido de Espírito Santo e São Paulo, porém, o estado poderá ocupar o terceiro lugar no ranking nacional, já que em São Paulo o café está perdendo espaço para o cultivo da cana-de-açúcar e da laranja. Quase 80% da produção baiana é de café arábica, tipo de melhor qualidade A Bahia possui aproximadamente 135 mil hectares de área plantada, espalhados por 167 municípios. Destes, em pelo menos 80 a atividade já se apresenta de forma importante, e em outros 30 se sobressai como de relevante importância econômica. O estado chega a empregar cerca de 250 mil trabalhadores, podendo chegar a 350 mil em época de colheita.

Segundo Araújo, este é um momento especial para a cafeicultura baiana, que pode se beneficiar de terras mais baratas do que em São Paulo e Paraná. Estes Estados também estão substituindo o café pela de canade-açúcar para a produção de ETANOL. “Podemos crescer porque temos também água, clima e uma tradição de 160 anos de produção”, avalia.

Para revitalizar o agronegócio cafeeiro da Bahia, o Governo do Estado, por meio da Seagri, articula a criação da Câmara Técnica do Café, que deverá traçar estratégias para melhorar a qualidade do produto. O objetivo é ampliar a produção do café fino, que já tem grande aceitação no mercado nacional e internacional. Para isso, estão sendo adquiridos equipamentos para trabalhar com a pós-colheita, como despolpadeiras e secadores, que viabilizam o beneficiamento, além da renovação de cafezais.

“Na Câmara Técnica buscaremos alternativas comuns para os agricultores e para o governo. A cafeicultura baiana envolve mais de 10 mil famílias e com a sua ampliação podemos agregar valores”, enfatizou o governador Jaques Wagner.

Segundo Araújo, a produção de café na Bahia está estagnada há quatro anos, permanecendo com 2,5 milhões de sacas por ano. Ele acredita que a assistência técnica da câmara pode contribuir com o aumento da produção, possibilitando melhorias principalmente nas plantações dos pequenos agricultores, que não têm recursos para contratar agrônomos. A criação da Câmara Técnica é uma exigência do Conselho Nacional de Política Agrícola, devendo ser cumprida por todos os estados brasileiros.

Com esta ferramenta, os agricultores de pequeno e médio porte poderão aprender sobre a melhor maneira de adubar a terra, como deve ser feita a colheita e a torrefação, princípios básicos para a qualidade final do produto.


Café e saúde

Os impactos do consumo de café sobre a saúde humana vêm sendo revistos nos últimos anos. Estudos já apontam suas propriedades antioxidantes, anticancerígenas e estimulantes do raciocínio, e incentivam o uso da bebida, principalmente entre os jovens, hoje mais adeptos de achocolatados e sucos. O tema “Café: o prazer, a saúde e o coração” foi um dos mais aguardados na 10ª edição do Agrocafé

No encontro, especialistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto do Coração de São Paulo (Incor) e Hospital Português da Bahia apresentaram os novos estudos que pesquisam os benefícios do café para a saúde humana.

Grande defensor do café como um fator de qualidade de vida, o médico e professor do Instituto de Neurologia da UFRJ, e um dos palestrantes do Agrocafé, Darcy Lima, mostrou imagens computadorizadas dos efeitos produzidos pelo aroma do café no cérebro humano. Sua palestra falou sobre as três linhas de pesquisa que ele participa: Café e Cérebro; Café na Merenda, Saúde na Escola; e Café e Coração.

De acordo com Lima, o aroma do café é uma fonte de prazer, inspiração, altruísmo e tem substâncias parecidas com hormônios do corpo humano. Mexe com sentimentos e é capaz de aproximar pessoas. “O café é uma bebida diurna e o seu consumo moderado, de três a quatro xícaras por dia, tem benefícios infinitos para o corpo, reduz a obesidade, traz mais rendimento escolar, pode evitar a depressão, problemas do coração, dentre outros”, explica.


Comemoração

João Lopes Araújo disse mais uma vez que o sucesso do Agrocafé deu-se não só pelo cumprimento da pauta proposta, mas também pela participação ativa do público, que compareceu às palestras, painéis e mini-cursos. “Mais uma vez obtivemos um grande sucesso na realização do Agrocafé. Isto nos motiva a trabalhar ainda mais na programação da próxima edição, que já tem data marcada para acontecer, nos dias 08, 09 e 10 de março de 2010, sem local definido para realização”, adianta.

 “O evento foi extremamente positivo, não só porque conseguimos trazer para a Bahia toda cadeia da cafeicultura, como nos anos anteriores, mas também porque fomos muito felizes nas escolha dos temas apresentados nesta edição do evento. “A renda do produtor é um tema polêmico. Temos o produto, a qualidade, mas ainda não conseguimos obter o lucro. O cafeicultor está estrangulado; com dívidas e não tem retorno no seu investimento”, salienta. Ainda segundo o coordenador geral do Agrocafé, outra grande aceitação por parte do público foram os mini-cursos, aplicados paralelamente ao evento.


Agrocafé

Em 2010, será dada continuidade ao que foi proposto nesta edição. “Nós vamos ter um trabalho grande para construir um evento semelhante ao que foi realizado este ano, contudo vamos utilizar a experiência adquirida nos últimos dez anos e certamente vamos obter muito sucesso como nesta edição”, afirma.

Com relação à nova casa do Agrocafé, Araújo disse que, apesar de não definitiva foi de grande aceitação diante do público. “O local foi muito bom, ficamos perto da praia e os visitantes que quiseram aproveitas as belezas baianas puderam fazer isso e ficaram satisfeitas”, disse.


Encafé

Salvador sediará este ano também o Encafé. O evento será em novembro e a novidade foi anunciada durante o 10º Agrocafé. Em reunião a portas fechadas durante o Simpósio, o secretário da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia (Seagri), Roberto Muniz, e o diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic), Nathan Herszhowicz, decidiram realizar o maior encontro da Indústria Brasileira de Café no município. O evento vai reunir em um único local, compradores e fornecedores. Empresas de todos os portes devem marcar presença nesse encontro, que tem nos últimos anos concentrado grande poder de decisão ao reunir representantes de alto nível empresarial, proprietários e executivos das principais empresas do setor.

O Agrocafé é realizado pela Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé); Centro de Comércio do Café da Bahia (CCCBA); Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA) e Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia(FAEB) e Senar/BA. O evento é patrocinado pelo Governo da Bahia; Banco do Brasil; Viça Café; Desembahia; Banco do Nordeste; Sebrae/BA; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Petrobrás.

Mais informações podem ser obtidas através do site: www.agrocafe.com.br ou pelo telefone: (71) 2106-6600.

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