Agricultura terá 2007 melhor, diz ministro

Publicação: 14/11/06

14 de novembro de 2006 | Sem comentários Comércio Mercado Interno
Por: Folha de S. Paulo

Aumento recente no preço das commodities deverá dar alívio para produtores rurais, afirma Luiz Carlos Guedes Pinto

Para ele, elevação de preços pode até afetar inflação em 2007, mas impactos devem ser pequenos devido aos estoques governamentais

MAURO ZAFALON DA REDAÇÃO

A recente alta de preços das commodities não só deu novo alívio aos produtores agrícolas como também pode mandar embora as nuvens negras que rondavam o setor. As expectativas para o próximo ano, agora, são favoráveis e o país deverá ter uma safra de grãos razoável em 2007, segundo afirmou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luiz Carlos Guedes Pinto, em entrevista exclusiva à Folha ontem. Essa elevação de preços pode até afetar a taxa de inflação no próximo ano, mas o impacto, se houver, será pequeno devido ao volume de estoques governamentais, diz o ministro. A seguir, os principais trechos da entrevista.

FOLHA – O cenário agrícola melhorou nas últimas semanas. As nuvens negras sobre o setor de grãos estão indo embora? LUIZ CARLOS GUEDES PINTO – Acredito, de fato, usando a sua expressão, que as nuvens negras estão desanuviando. Nossa expectativa é de um ano [2007] agrícola bastante satisfatório. Teremos uma safra razoável. Mas a dissipação das nuvens depende também das políticas de apoio do governo.

FOLHA – Além dos preços, o clima também está favorável… GUEDES – Por isso, devemos ter safra da ordem de 120 milhões, 122 milhões de toneladas.

FOLHA – Há uma demanda inclusive por pequenas máquinas, utilizadas no setor de frutas. A agricultura está tomando um rumo que pode não ser só o de grãos? GUEDES – Sim, está havendo uma diversificação. E é nesse sentido que estamos trabalhando, e apoiando vários segmentos.

FOLHA – De que forma? GUEDES – Com esses vários mecanismos de crédito à disposição do produtor. Com um volume muito menor de recursos você pode apoiar a comercialização, interferir no mercado com menos recursos e ter uma influência muito maior.

FOLHA – A comercialização de milho, arroz e soja não atingiu 100% do produto colocado em leilão. Isso é um sinal de que o produtor está visualizando algo melhor na frente? GUEDES – Exatamente. O produtor acredita nessa reação do mercado. Você percebe claramente que os produtores têm a expectativa de uma melhoria no futuro.

FOLHA – O aumento de preços dos produtos agrícolas pode influenciar a taxa de inflação no ano que vem? GUEDES – Não creio que haja impacto significativo na inflação. É claro que essa reação nos preços pode mexer em algum valor. Temos estoques razoáveis de todos os produtos básicos e não creio em impactos.

FOLHA – Pelo menos 70% da demanda de trigo será importada. Para o produtor, isso ocorre por falta de incentivo do governo. Isso não preocupa? GUEDES – O trigo sempre foi um produto diferenciado. Quer dizer, é um produto em relação ao qual a nossa vantagem natural não ocorre quando você compara com soja, milho ou algodão. As nossas condições naturais não são favoráveis.

FOLHA – Pode melhorar em 2007? GUEDES – Os preços estavam baixos e nós tivemos ainda condições climáticas altamente desfavoráveis. Então, isso fez com que houvesse, inicialmente, uma redução na área plantada e depois uma queda substancial na colheita. Mas os preços estão reagindo, e o plantio deve aumentar em 2007.

FOLHA – Os problemas agrícolas são maiores em grãos e pecuária… GUEDES – Isso é verdade. Cana, laranja e café vão muito bem. Por isso, acho favorável o cenário para 2007. Se você pega os dados do BNDES, vai ver que as linhas de crédito para investimento na agricultura, em 2006, foram inferiores a 2005. Espero que em 2007 haja uma recuperação. Aliás, já está começando essa recuperação.

FOLHA – E os investimentos externos, como estão? GUEDES – Há muita sondagem, muitas visitas e aproximações, sobretudo no campo da agroenergia. Mas estamos na fase de aproximação, de análise.

FOLHA – O setor sucroalcooleiro estima que, ao final de abril de 2007, os estoques serão de 1 bilhão de litros de álcool. Por que o governo elevou o percentual da mistura de álcool à gasolina para 23%, e não 25%, como era antes? GUEDES – Porque havia uma dúvida sobre esses estoques. Mas em janeiro vamos reavaliar. O governo não tem interesse em ter um estoque de passagem muito elevado.

FOLHA – Apesar da recuperação dos preços dos grãos, restam dois problemas para o agricultor ainda: o câmbio e a logística. O que pode ser feito nesses dois casos? GUEDES – Quase nada. Com relação ao câmbio, levamos essas preocupações ao Ministério da Fazenda. Da mesma forma, com relação à logística, levamos essa preocupação às instâncias de governo, sobretudo ao Ministério dos Transportes.

FOLHA – Há recursos para resolver os problemas de logística no próximo ano? GUEDES – Há uma constante preocupação do presidente e dos seus principais assessores que tratam desse tema para a superação desses gargalos.

FOLHA – Os produtores reclamam que o volume de R$ 41 milhões de subvenção de seguro foi pouco. Essa não era uma política prioritária do governo? GUEDES – Estamos complementando com outros R$ 19 milhões que estavam previstos. Estive com o ministro [Guido] Mantega na semana passada para liberar esses recursos.

FOLHA – O setor de carnes passa por um período de preços baixos. Não há uma concentração na ponta compradora? GUEDES – Há. Por isso estamos pensando em criar um mecanismo para distribuir de maneira mais equitativa as riquezas geradas no setor. Isso ocorre também em outros setores, como citricultura e grãos. É preciso um trabalho conjunto e uma abertura de todas as partes. É um trabalho de longo prazo. Mas há problemas também do lado dos produtores. Há três anos quebraram contratos de soja porque os preços dispararam lá fora.

FOLHA – O setor avícola diz que o ministério está lento nos acertos finais no combate às doenças. Como o sr. vê essa crítica? GUEDES – Temos dificuldades e limitações na defesa sanitária, mas temos atuado intensamente. Identificamos três casos de Newcastle em propriedades não-comerciais. Isso significa que estamos fazendo um forte monitoramento.

FOLHA – As ocupações do MST aumentaram. Isso preocupa? GUEDES – Preocupa e espero avanços na próxima administração. Mas essa é uma questão que tem várias dimensões e não pode ser vista apenas por um dos lados. É um tema delicado, mas precisa haver entendimento entre as partes com uma coordenação de governo.

FOLHA – A morosidade da CTNBbio continua? GUEDES – A CTNBio conseguiu despachar um número maior de processos, mas não avançou nas liberações de pesquisas, sobretudo por parte da Embrapa.

FOLHA – Se convidado, o senhor aceitaria continuar no ministério? GUEDES – Cabe ao presidente tomar uma atitude sobre isso. Se isso ocorrer [o convite], eu teria de analisar com ele o que ele espera do Ministério da Agricultura para saber se estaríamos em condições de atender a essa demanda.

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