SAFRAS (04) – Além de abordar o plano do governo para a sustentabilidade da Amazônia, o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, discutiu hoje o futuro da agricultura brasileira e criticou a dependência brasileira das importações de fertilizantes. “O problema número 1 dos insumos é superar nossa absurda e ruinosa dependência da importação de fertilizantes, que hoje responde por cerca de 40% dos preços dos produtos agrícolas.
O Brasil não tem por que continuar a ficar na mão do cartel mundial de fertilizantes”, exclamou o ministro, ao participar de reunião do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Mangabeira destacou que está discutindo com os ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes, e do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, além da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e outras organizações, duas obras de transformação da agricultura, uma física e outra institucional.
“A obra física passa pela recuperação de pastagens, pela substituição progressiva da pecuária extensiva pela pecuária intensiva, e pela combinação da pecuária intensiva com lavoura de alto valor agregado ou com plantio de árvores”, explicou. Já a obra institucional planejada pelo governo para transformar a agricultura nacional inclui três vertentes, segundo Mangabeira: coordenação estratégica entre o Estado e o produtor, o que deverá organizar a comercialização do produto e a política de preços mínimos, seguro agrícola e de renda para proteger a agricultura; reorganização dos mercados agrícolas, com o fortalecimento das cooperativas e o desenvolvimento de sistema de armazenagem e estoques reguladores, contratos-padrão e procedimentos antitruste; e o regime de “concorrência cooperativa”.
“Estamos acostumados a pensar na agricultura como exceção, mas ela não é exceção, é paradigma, é vanguarda, é um setor em que podemos começar a construir um novo modelo de desenvolvimento, baseado na ampliação de oportunidades. É um projeto de construção nacional que está em jogo”, assinalou. O ministro não quis comentar o fato de vários ministérios atuarem na área de desenvolvimento agrícola. “Não me cabe me pronunciar sobre a organização do governo. É uma tradição histórica que o presidente revê de tempos em temos. Não podemos permitir que uma repartição de competências entre ministérios produza desorientação conceitual ou estratégica. E o projeto de construção da agricultura brasileira é um só”, comentou.
Apesar de elogiar a clareza do ministro ao expor as projeções do governo para o futuro da agricultura e o alinhamento de discursos, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, presidente do Cosag, disse que o governo avança nas conversas, mas demora para colocar as ações em prática. “Temos um discurso de integração, e a prática nem sempre acompanha isso”, comentou Rodrigues, citando o setor de agroenergia como exemplo: “Ele não conta com uma estratégia, apesar de vários ministérios tratarem disso”. As informações partem da Agência Leia.