Chega a ser surpreendente. Tratando-se de um país onde a agricultura pesa pouco ou nada no PIB, deixá-la de lado em um planejamento estratégico para desenvolver a economia é até aceitável. Lógico, a possibilidade não se aplica ao Brasil. O tal cinturão verde do mundo, celeiro dos melhores frutos, onde se plantando tudo dá, líder de produção em vários produtos, da pecuária à soja, café e commodities diversas, deveria colocar o agronegócio no topo das atenções de qualquer autoridade.
Não foi o que aconteceu com o chamado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a principal peça de resistência do segundo mandato de Lula, cujo objetivo claro, como diz o próprio nome, é levar o Brasil a crescer e crescer – no papel, meta média de 5% anuais. O agronegócio está praticamente de fora do PAC. Não há um único capítulo específico sobre o assunto. Agricultores e pecuaristas não escondem sua frustração.
Consideram que o setor foi colocado à margem para o transcorrer dos próximos quatro anos de mandato. O foco do PAC nas áreas de energia e construção civil é até justificável, dado o poder de investimentos que eles alavancam, mas a ausência de uma política econômica específica que contemplasse as dificuldades do campo não poderia ocorrer. É bom registrar que ainda 40% do PIB nacional é gerado, direta ou indiretamente, na agropecuária. As exportações da atividade estão cada vez menos competitivas.
Produtores, por falta de financiamento ou temendo novos impactos climáticos, estão gradativamente colocando o pé no freio. Especialistas dizem que o desânimo é geral. No ramo de café, três meses após a conclusão da colheita da safra 2006/2007, 50% ainda continua nas mãos dos plantadores. Ou seja, metade dos quase 42 milhões de sacas – que, em geral, são vendidas ainda antes de serem retiradas – estava sem destino.
O setor estima levar 18 meses para escoar o estoque. É desanimador e a descapitalização, em virtude da defasagem de câmbio e dos juros altos, com endividamento na mesma proporção, está na base do problema. O PAC deveria ter previsto alternativas específicas para o nó rural. Não o fez e pode, também por isso, ser inviabilizado na sua maior meta, que é o crescimento sustentável.
Carlos José Marques