AGRICULTURA EMPRESARIAL

Não é tão fácil o cálculo do montante de lucro gerado pelo negócio café, bem como conhecer o quanto poderá ser sacado pelos cafeicultores a título de “distribuição do resultado auferido”, no ano. (distribuição de lucro)

Contas procedidas nesse intuito geralmente são realizadas de forma bastante simplista, não retratando com fidedignidade o quanto poderá ser sacado em decorrência do lucro gerado para não prejudicar o negócio mantendo a continuidade do mesmo. Não deve ser menosprezado que nem todo o montante apurado de lucro pode ser sacado.

Registre-se ainda que cada cafeicultor possui concepção própria, nem sempre a mais correta, na determinação do custo de produção de uma saca de café. Algumas regiões devido a fatores diversos podem possuir custos de produção mais ou menos elevados, bem como riscos diferentes que impactam o negócio.

Ocorre uma grande confusão, por parte dos cafeicultores, em separar gastos que se referem a custos de produção daqueles referentes a despesas para operação do negócio. Esse procedimento distorce consideravelmente a apuração, e, pior, dá uma falsa impressão do montante da margem de lucro decorrente da inclusão de gastos referentes a despesas não correlacionadas como custo de produção.

 Embora exista vasta literatura a respeito detectamos que alguns cafeicultores ainda utilizam a prática de alocar os gastos com as despesas pagas aos serviços contábeis como um custo de produção. Outros inadvertidamente distorcem o custo de produção imputando ao mesmo o custo do capital próprio, remuneração esperada sobre o capital fixo, juros dos financiamentos, reserva técnica como itens de custo de produção.

Ao custo de produção devem ser imputados somente aqueles gastos diretamente correlacionados. Evidentemente os demais custos e despesas deverão ser cobertas pelo resultado da comercialização da safra, mas não inclusos no custo de produção. 

Não encontro no estabelecimento do custo do capital próprio, por parte dos cafeicultores, fundamentação consistente, cada um segue critérios empíricos e aleatórios. Não deve ser esquecido de que o custo do capital próprio deve ser referenciado ao risco do negócio, considerando-se inúmeras variáveis tais como: clima, região em que o negócio está instalado, grau de mecanização, facilidade de acesso e transporte, mão de obra disponível, existência de aquíferos, irrigação, fertilidade do solo, produtividade, plantas por hectare, incidência de doenças, distância dos mercados e portos, entre tantas outras variáveis.

Considerando-se que as regiões onde as plantas são cultivadas apresentam diferenças marcantes o custo do capital próprio (TMA) pode sofrer oscilações para cima ou para baixo. A uniformização do custo do capital próprio é um erro, pois os riscos são diferentes. Maiores riscos, maior deve ser o custo dos recursos empregados. Trata-se da equação risco/retorno.

Devido à desatenção e desconhecimento é comum a informação, por parte dos cafeicultores, de que a diferença entre as receitas e os custos de produção representa o lucro do negócio. Vendeu a saca por, digamos, $470,00, e os custos de produção ascenderam a $360,00, a diferença trata-se de lucro, e, o que é mais grave essa diferença poderá ser sacada, muitos propagam. A essa diferença denomina-se de “margem” da qual ainda devem ser abatidos inúmeros outros gastos para que se chegue ao resultado final, o lucro. Infelizmente também não será esse o valor que o cafeicultor poderá levar para casa.

 A falta de conhecimento de princípios básicos de contabilidade, o pouco interesse demonstrado pelos empreendedores no segmento café quanto ao assunto, bem como a falta de orientação, por parte dos contabilistas no esclarecimento dessas e outras questões contribuem para entendimentos distorcidos. A contabilidade sob a ótica dos cafeicultores ainda encontra-se relegada a um segundo plano.

Sendo a cultura do café um negócio que apresenta fonte de receita apenas uma vez por ano, mas, custos e despesas correntes fazem-se constantes fazem-se necessários rígidos sistemas de controles procedimentos esses que também não percebi usual e sistemático junto aos cafeicultores contatados. A técnica de elaboração do Fluxo de Caixa em muito poderia contribuir para um planejamento mais seguro e adequado. Poucos a praticam, principalmente os pequenos e médios produtores. Essa tarefa se apresenta de simples execução com as ferramentas à disposição, principalmente o sistema Excel.

Adiante informamos um roteiro simplificado dos procedimentos para a apuração dos resultados, bem como para a determinação do montante a ser disponibilizados para os sócios, cafeicultores, investidores, empreendedores.

O primeiro passo consiste na elaboração da Demonstração de Resultado do Exercício – DRE que indica as receitas provenientes da comercialização abatidas dos custos e despesas encontrando-se, nesse caso, o resultado (lucro) final do negócio.

A partir desse ponto a segunda fase é a elaboração do Fluxo de Caixa à Disposição dos Cafeicultores/Sócios/Investidores/Empreendedores o qual é construído a partir do lucro apurado na DRE. Nesse caso, adicionando-se o valor da depreciação / amortização encontra-se a geração de caixa. Desse total, montante da geração de caixa subtraem-se os recursos necessários ao capital de giro, as possíveis inversões em novas imobilizações (tratores, carretas, cercas, terreiro, galpões, inversões em replantio, torradores, etc.), valores de novos empréstimos contratados com as respectivas amortizações. As despesas financeiras (juros) já foram abatidas da apuração do resultado final na Demonstração de Resultado do Exercício – DRE. Mais uma vez enfatizamos a necessidade de conhecimentos mínimos de contabilidade. 

O resultado é o saldo que efetivamente permite aos cafeicultores o saque referenciado como distribuição de lucro. No entanto, faz-se necessário consultar o Fluxo de Caixa do Negócio para verificação se os saldos existentes suportam os montantes à disposição sem prejudicar o negócio como a falta de capital de giro.

A agricultura empresarial enseja a união entre cafeicultores visando redução de custos e despesas, compras compartilhadas para obtenção de melhores condições, troca de experiência, contratação de assistência técnica que atenda a uma variedade de pequenas e médias propriedades, troca de informações gerenciais, possibilidade de programas de treinamento, entre tantas outras ações conjuntas.      

Comparando-se os montantes disponíveis para saque com os recursos aportados (capital próprio) é possível o cálculo da Taxa Interna de Retorno – TIR, do Valor Presente Líquido – VPL, do Payback, bem como de outras metodologias de avaliação de investimentos. Efetivamente a aplicação das citadas metodologias propiciará o conhecimento do retorno da taxa de rentabilidade, TIR, do aumento ou diminuição da riqueza gerada, VPL, do prazo de retorno do capital aplicado, Payback. Registre-se que o resultado encontrado por meio dessas metodologias terá sempre como balizamento a Taxa Mínima de Atratividade – TMA  e se incorpora a taxa de remuneração desejada TMA.

A apuração poderá ocorrer considerando-se um tempo limitado do negócio, por exemplo, 5, 10, ou mais anos, ou, também como um negócio perpetuo. Nesse caso, as metodologias serão diferentes.

Pode-se ainda verificar se o negócio está propiciando aumento da riqueza e remunerando os recursos próprios e de terceiros, impactando, no caso, em uma sobra por meio da metodologia do “Economic Value Added – EVA a ser desenvolvida em outro artigo.  

Marcus Manoel Fomm / Vanessa Janni

Currículo dos Autores:

 

Marcus Manoel Fomm

Pós-graduado em Mercado de Capitais pela Escola de Pós-Graduação em Economia do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas-RJ, graduado em Economia pela Faculdade de Economia e Finanças do Rio de Janeiro, membro da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra. Exerceu a função de economista sênior no Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, foi diretor Administrativo Financeiro de diversas empresas localizadas no Polo Petroquímico de Camaçari – BA. Autor de diversos artigos sobre finanças corporativas e livros / softwares de Simulação Empresarial e Viabilidade Econômico-Financeira – Project Finance, utilizados em trabalhos de consultoria e instituições de ensino superior. Atualmente é professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ no curso de MBA e Gestão de Projetos para as disciplinas de Análise de Viabilidade de Projetos e Matemática Financeira. Foi professor no curso de Gerenciamento de Projetos, MBA da FGV-RJ para as disciplinas de Gestão Econômico-Financeira, Gestão Contábil, Análise de Viabilidade de Projetos e Matemática Financeira. Apresentador de seminários e programas de treinamento customizados “in company” para diversas instituições. Presta consultoria empresarial nas áreas de administração, finanças e avaliação de projetos de investimento.   

 

 

 

Vanessa Janni

 

É Doutora em Engenharia de Sistemas e Computação pela COPPE/UFRJ, Mestre em Administração pela FGV/Unigranrio; Especialista em Gestão Empresarial pela UFRJ; Especialista em Gestão de Projetos pela George Washington University; Especialista em Marketing pela FGV/OHIO, Especialista em Ensino a Distancia pela FGV; Especialista em Docência do Ensino Superior pela UCAM e Bacharel em Ciências Contábeis pela UFRJ.

Como sócia-diretora da Tamac Treinamento em Gestão Empresarial é responsável por diversas soluções voltadas para a Análise de Viabilidade Econômico-Financeira de Projetos para clientes de médio e grande porte em diversos segmentos. Também atuou, durante 13 anos, na área de Planejamento Estratégico de multinacionais no Brasil, França e EUA.

Também é sócia fundadora da DRAK IN FINANCE, parceria da Tamac Treinamento em Gestão Empresarial Ltda. com a empresa Virtual Consultoria Empresarial e Treinamento Ltda.

Atua como professora e coordenadora ( MBA´s, Treinamento Executivo e Graduação ) em diversas instituições tais como FGV, COPPEAD, POLI/UFRJ, IBMEC, UNIGRANRIO, UVA, UNILASALLE e UFF tendo seu foco direcionado para as áreas de Finanças, Planejamento Estratégico e Gestão de Projetos.

 

Livro Publicado

 

Livro de Viabilidade Econômico-Financeira – Project Finance o qual vem acompanhado do software de Simulação Empresarial que aceita as principais variáveis de um projeto, emitindo automaticamente os demonstrativos financeiros os quais permitem a análise e a tomada de decisão quanto à aceitação ou não do projeto de investimento.

  

São elaborados automaticamente os demonstrativos inerentes: Fluxo de Caixa Trânsito das Contas, Balanços, DRE, Fluxo de Caixa do Projeto, Fluxo de Caixa dos Sócios/ Acionistas, Indicadores Econômico-Financeiros do Projeto, Necessidade de Capital de Giro, Ciclo Financeiro, Custo Médio Ponderado de Capital, Ponto de Equilíbrio, Gráficos de Estrutura, entre outros.

Aborda também as metodologias de avaliação de projetos: Valor Presente – VP, Valor Presente Líquido – VPL, Taxa Interna de Retorno – TIR, Taxa Interna de Retorno Modificada TIR(m), Payback, Índice de Lucratividade – IL, ROIA, Taxa de Rentabilidade – TR, Sistemas de Amortização, Perpetuidade, Ebitda, Economic Value Added – EVA, entre outros.

 

Outras informações: e-mail: marcusfomm@globo.com

Ministramos programas de treinamento aberto e “in company”.

 (21) 99464-9005 (Rio Janeiro – RJ)

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