Tem-se falado muito ultimamente no aumento dos preços de produtos da agricultura. O consumidor preocupa-se com esses aumentos e as autoridades responsáveis pela estabilização da economia também. Para avaliar os efeitos da agricultura na economia, porém, é necessário examinar um período de tempo maior, e não apenas as últimas semanas. A figura 1 mostra o que aconteceu com a produção de cinco produtos agrícolas importantes na formação do custo da cesta básica e na composição dos índices de preços durante as três últimas décadas.
A linha de baixo mostra a evolução da área colhida no país. Aumentou muito pouco nesse período. As duas linhas superiores representam a produção e a produtividade. O gráfico mostra que a agricultura brasileira cresceu via ganhos de produtividade
O efeito dos ganhos de produtividade é representado na figura 2, que mostra a evolução do custo de alimentos básicos para a população da cidade de São Paulo. Apesar do enorme crescimento da população da cidade nesse quase meio século e do aumento da renda pessoal, os preços dos alimentos básicos decresceram continuamente desde meados da década dos setenta.
Seria altíssimo o custo dos alimentos básicos hoje caso a produtividade permanecesse nos níveis dos anos setenta. Ganhou o consumidor e a economia como um todo, pois isso significou menor custo de alimentação e menor pressão inflacionária. Há mais de trinta anos que a agricultura contribui para a redução da inflação. A inflação devida a alimentos é a mais socialmente danosa, pois prejudica principalmente o consumidor de baixa renda.
——————————————————————————– Mercado é globalizado e nele a demanda aquecida decorre do aumento da exportação e da redução da oferta de importados ——————————————————————————–
A preocupação atual com os preços dos alimentos esquece a contribuição da agricultura e do agronegócio para a redução dos preços ao longo de todas essas décadas. E a agricultura deu essas enorme contribuição aos consumidores e à estabilização da economia, ao mesmo tempo que gerava crescentes saldos na balança comercial. Nos últimos anos, a agricultura foi responsável por quase o total do saldo comercial brasileiro. A figura 3 mostra essa outra contribuição da agricultura.
O produtor agrícola de produtos básicos não teve seus preços elevados de forma significativa. No caso do feijão, alimento básico, os preços recebidos pelos agricultores são declinantes, como mostra a figura 4. Dessa forma, boa parte dos ganhos de produtividade alcançados pelos produtores foram repassados para os consumidores, como esperado em mercados de demanda inelástica.
A partir dos anos 70 a agricultura se modernizou e tornou-se muito mais produtiva, como visto na figura 1. Isso possibilitou a diminuição nos preços de alimentos básicos como arroz, feijão, milho, soja e trigo, como visto na figura 2. Possibilitou também a geração líquida de divisas pela expansão do saldo comercial da agricultura e agronegócio, como mostra a figura 3. Apesar disso, os produtores não receberam ganhos exagerados. Um exemplo é o de produtores de feijão. A figura 4 mostra a evolução do preço recebido por produtores de feijão nas últimas décadas. Há sensível queda de preços. Vários fatores interferem nesse quadro, mas ganho de produtividade é o mais importante deles.
Em conclusão, aumentos de preços de produtos agrícolas ocorre neste momento em que a demanda está aquecida por aumento de compras de países importadores e redução de oferta de países exportadores. Este é um mercado globalizado. Os produtos agrícolas de modo geral são bens exportáveis. O que é certo é que a agricultura responde rapidamente a esses incentivos de preços, a menos que autoridades competentes facilitem importações, promovendo a produção em países concorrentes e desestimulando a produção interna, uma volta ao passado.
Aumento de preços de alguns produtos nem sempre configura um processo inflacionário. Importar desnecessariamente pode criar condições para tal processo. A agricultura brasileira não precisa nem quer subsídios ou proteção exagerada. Sem essas condições, ela foi capaz de ajudar em muito o Brasil, como mostram as quatro figuras acima.
Hélio Tollini é Ph.D. em Economia.