Registros de queimadas em regiões de café do Sudeste do Brasil pioraram ainda mais quadro climático
Porto Alegre, 30 de agosto de 2024 – O mercado internacional de café teve um mês de agosto marcado por altas nas bolsas de Nova York para o café arábica e de Londres para o robusta, que balizam a comercialização.
Os ganhos foram determinados, especialmente, pelas preocupações com o clima no Brasil, que podem prejudicar a safra de 2025.
Em 27 de agosto, o contrato dezembro do café arábica em NY atingiu 259,45 centavos de dólar por libra-peso, fixando nova máxima para a posição e o valor mais elevado em mais de dois anos e meio.
Depois o mercado apresentou correções e voltou a ficar abaixo da linha de 250 centavos. Mas, como destaca o consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach, a tendência de alta foi retomada.
“Os ganhos foram impulsionados pelos temores climáticos no Brasil. O frio das últimas semanas trouxe agitação, mas a real preocupação é com a falta de chuva. Algumas regiões não recebem chuva há 120 dias”, destaca Barabach.
Ele comenta que a baixa umidade, associada a períodos de temperaturas acima da média, acaba gerando estresse nas plantas, o que coloca em xeque o potencial produtivo da próxima safra brasileira.
O consultor salienta que a preocupação é que não há previsão de bons volumes de chuvas até a virada do mês de setembro, quando, aparentemente, o clima deve começar a mudar, com o retorno da umidade.
Em linhas gerais, seriam mais 30 dias sem chuva no Brasil. “Isso também preocupa aquelas regiões onde ocorreram chuvas leves, pois podem induzir floradas precoces, que, sem uma sequência de umidade, resultam em abortamento.
Além da falta de chuva, o mês de setembro é um período de transição de neutralidade para La Niña, o que abre espaço para novas ondas de frio. Enfim, outra temporada de clima perigoso”, adverte.
Ainda houve os registros de queimadas em regiões de café do Sudeste do Brasil pioram ainda mais esse quadro climático, elevando os temores produtivos.
O risco de novos episódios de queimadas, que coloquem em risco lavouras de café, ainda deve persistir, devido ao quadro de secura e temperaturas elevadas previsto para o próximo mês, observa o consultor.
Para Barabach, o fim da colheita da safra 2024 e o receio com o clima no Brasil colocam definitivamente no radar a safra brasileira 2025.
As floradas começam normalmente em setembro, mas o atraso das chuvas deve retardar o início do próximo ciclo.
“Isso não seria tão preocupante se não fosse o longo período sem chuva, que debilita as plantas. Com isso, cresce uma imensa interrogação em relação ao potencial da próxima safra brasileira. A agonia, pelo jeito, vai se alongar por todo o mês de setembro, o que explica os preços do café valorizados no mercado internacional”, comenta.
Afora a questão Brasil, ainda houve em agosto a sequência da apreensão com a oferta de robusta limitada, com quedas nas exportações do Vietnã e dúvidas em relação à safra vietnamita que começa a ser colhida neste último trimestre de 2024.
No balanço de agosto até esta quinta-feira (29), o contrato dezembro em NY acumulou alta de 8,5%, fechando o dia 29 em 247,60 centavos de dólar por libra-peso.
Em Londres, o mercado registrou em agosto as cotações mais elevadas para o robusta em 16 anos, desde que os contratos no formato atual passaram a vigorar. A posição novembro em Londres acumulou em agosto uma valorização de 19,1%.
O mercado físico interno brasileiro continuou muito valorizado e próximo das máximas em agosto.
“O produtor tem aparecido um pouco mais, aproveitando o bom momento, mas sem afobação, apenas gerenciando as oportunidades”, comenta Barabach. A bebida boa do Sul de Minas gira em torno de R$ 1.440 a saca de 60 kg (US$ 256 a saca), o que corresponde a uma valorização nominal de 73% em comparação aos R$ 830 pago pela saca da bebida no mesmo período do ano passado.
Já o conilon tipo 7/8 em Colatina gira em torno de R$ 1.420 a saca (US$ 252 a saca). Barabach ressalta que o preço atual é mais que o dobro do mesmo período do ano passado, quando era negociado a R$ 620 a saca.
“Um cenário ainda mais favorável que o do arábica, que tem atraído mais vendedores ao mercado”, conclui.
Lessandro Carvalho / Safras News
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