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Huambo, 16/3 – O projecto de fomento do café arábica na província do Huambo, iniciado em 1997, está à beira do fracasso, na sequência da indeferença e da intenção dos produtores abandonarem este tipo de cultura, por falta de incentivos materiais e financeiros, soube hoje a Angop nesta cidade.
Os maiores cafeicultores locais manifestam intenção de abandonar o projecto de fomento do café arábica na província do Huambo, por considerarem não haver, da parte do Governo, os necessários e pontuais apoios materiais e financeiros para se suster a cultura.
Os produtores consideram ser o café uma cultura de resultados a médio prazo, por dar resultados só depois de cinco anos.
“Não é possível, nos dias de hoje, desenvolver um projecto de fomento do café sem créditos agrícolas e apoio directo em imputs”, admitem os cafeicultores locais, para quem há maus investimentos nos poucos recursos que deviam aguentar as suas famílias.
O produtor António Kalique diz ter aderido ao projecto café em 1999 e hoje tem plantados 20 mil cafeeiros do tipo arábica na terra, mas, segundo afirmou, a falta de meios para a manutenção das plantas, aliada à excassez de chuva tem-lhe estado a proporcionar uma baixa produção do bago vermelho.
António Kalique diz que, sem subvenção séria e equilibrada do Governo, a província do Huambo não poderá produzir café nas quantidades desejadas, devido aos altos custos da cultura.
Explicou que, no início o projecto de fomento de café, previa apoios em imputus e transportes para os produtores, daí a grande aderência. “As propostas eram ambiciosas, mas hoje, na realidade, não é o que se vive”, sustentou.
Sublinhou que o ritmo da produção de café na província do Huambo desanima os produtores e alguns até ja consideram terem cometido um erro ao aderirem ao projecto, por sinal, proposto pelo Governo.
Como solução para se salvar o projecto de fomento do café arábica na provincia do Huambo, aquele cafeicultor aponta a concepção de créditos a longo prazo.
Um dos maiores produtores de café na província, José Maria Dumbu, salienta, por sua vez, que a solução para a salvaguarda da cultura no Huambo é o surgimento de financiamentos apropriados para o acompanhamento técnico adequado das plantações, aquisição de fertilizantes, equipamento para manutenção, colheita e descasque.
Segundo ele, actualmente todo o processo do cultivo do café arábica é feito manualmente, o que requer o investimento de avultadas somas monetárias e, em contrapartida, as colheitas são cada vez mais reduzidas.
Com 35 mil pés de café arábica, plantados desde 1997, José Maria Dumbu tem experimentado outras variedades como a caturra amarelo e vermelho.
Disse acreditar que, com mais investimentos, a província daria o seu contributo positivo na produção de café no país.
A firma “Fortuna e Filhos” é outra das maiores produtoras de café que também se recente das dificuldades na produção e já manifestou oficialmente a intenção de desistir do programa.
De acordo com um documento a que a Angop teve acesso, a firma “Fortuna e Filhos” diz que os custos anuais de produção do café rondam de oito a 10 mil dólares norte americanos e o cafeicultor não se vê capaz de aguentar tais despesas sem auxilio do Estado.
Na generalidade, a falta de equipamentos para cultivo, de imputs agrícolas, sistemas de regadio e de fertilizantes contraria a vontade dos cafeicultores de continuarem apostados no projecto de fomento do café arábica na província do Huambo.
Fontes da Angop confirmam que até 1973 a província do Huambo produzia acima das três mil toneladas de café, o que contribuía na economia do país.
De 1997 até ao ano passado, não se sabe quanto foi gasto pelo Governo para o programa de fomento do café arábica, mas, para a presente época agrícola, estão orçamentados seis milhões, 574 mil e 123 kwanzas para esta actividade.
O director do Instituto Nacional de Café (INCA) na província do Huambo, Rafael dos Anjos, também desencorajado com o actual estado do projecto de fomento do café arábica, revelou que a sua instituição também vive algumas insuficiências.
Esse responsável, cuja direcção não maneja directamente as verbas destinadas ao projecto do fomento do café arábica, reconhece haver falta de apoio necessário aos cafeicultores.
Até 2003, o INCA controlava 442 produtores de café na província, um número que, segundo dados, terá reduzido drasticamente.
Este organismo prevê, ainda este ano, efectuar um novo levantamento para confirmar quantos cafeicultores ainda estão envolvidos na cultura do café arábica na província, onde se estima existirem um milhão e 333 mil cafeeiros plantados.